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5 de agosto de 2013

EM TEMPO DE ESCASSEZ DE ÁGUA, CONSUMO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO É EXAGERADO

José João de Santana, morador da Favela da Rocinha há 30 anos, observa o valão de esgoto que corre em frente de sua casa: IBGE mostra que 44% dos moradores de favelas não têm rede de esgoto ou galeria de água -Foto: Custódio Coimbra / Agência O Globo

Consumo de água no Rio supera em 46,2% a média do país


Na contramão da prudência necessária em tempos de ameaça de escassez, o consumo médio de água por habitante no Estado do Rio está
 46,2% acima da média do país. Além disso, supera, com folga, os índices dos outros estados do Sudeste. Em relatório que analisa números de 2011, o Ministério das Cidades ressalta que os dados do Rio são
 fortemente influenciados pela Cedae: a média de consumo por cliente é de 258 litros por dia. Por causa disso, a média no estado é de 237,8 litros por habitante/dia, enquanto a nacional é de 162,6.

Para especialistas, essa insustentabilidade no consumo cotidiano do Rio está ligada aos baixos índices de medição no estado, às perdas da empresa e à falta de hidrômetros individuais.

O descontrole no consumo é tema da quarta reportagem da série “Os descaminhos no saneamento do Rio”. Para o engenheiro sanitarista José Stelberto, diretor do Clube de Engenharia, o histórico de desperdício e vazamentos no sistema fluminense acaba por fazer com que muitos clientes da Cedae paguem faturas baseada em “chutômetros”:

— A Cedae sempre se caracterizou pelo alto índice de perdas na distribuição. E nunca houve um grande plano de controle de perdas. Na Baixada e em outras áreas da periferia, a empresa exige dos projetos habitacionais a estimativa de consumo de 250 litros por habitante/dia, ou mil litros por família. É um exagero — afirma.

Stelberto defende políticas mais agressivas de combate ao desperdício:

— Muito se fala em mais produção de água, que é sinônimo de mais gastos. O correto é medir corretamente e cobrar corretamente.

Paulo Canedo, do Laboratório de Hidrologia da Coppe/UFRJ, não tem dúvida de que, na Região Metropolitana, esse consumo desenfreado é, na verdade, reflexo de perdas na rede:

— Não é razoável imaginar que uma população pobre, em sua maioria, consuma tanta água.

O diretor de Projetos Estratégicos da Cedae, Marco Abreu, lembra que a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda o consumo de 100 litros por habitante/dia e que a empresa disponibiliza um mínimo de 125 litros por pessoa diariamente, para fazer a cobrança mínima. Mas o consumo médio dos moradores do estado, segundo dados fornecidos pela Cedae à União, tem sido ao menos o dobro nos últimos anos.

A capital fluminense é recordista em consumo per capita, com 298,1 litros por habitante/dia. A pequenina Cachoeiras de Macacu aparece na segunda colocação, com 293,9 litros. Na ponta oposta, os consumidores mais conscientes estariam em Quissamã, com apenas 132 litros por habitante/dia — dado que surpreendeu o prefeito da cidade, Octávio Carneiro:

— Não sabia... De fato, a Cedae abastece uns 70% da população, apesar de não termos contrato com a empresa. O restante faz captação própria.

Na Rocinha, o esgoto desce o morro

A poucos metros da porta da casa do paraibano José João de Santana, de 71 anos, um enorme rio de esgoto desce morro abaixo. Ao longo dos 30 anos em que mora na Rocinha, Santana praticamente não notou mudança na favela, quando o assunto é rede de esgoto. A comunidade já recebeu obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Por convênio, assinado com a prefeitura, desde 2011 cabe à Cedae fazer tão somente a manutenção da rede existente na Rocinha e de outras comunidades com UPP.

Pelos números do IBGE, 56,33% dos domicílios em favelas contam com rede de esgoto ou de águas pluviais para lançar seus detritos. Mas isso não basta, diz o presidente da Federação de Favelas do Estado do Rio (Faferj), Rossino Diniz:

— Nos lugares em que a rede foi instalada, ela é precária. Tem esgoto a céu aberto até mesmo em comunidades da Zona Sul.

Para o sociólogo Marcelo Burgos, do Departamento de Ciências Sociais da PUC, os avanços em termos de saneamento nas favelas são tímidos:

— Depois do programa Favela-Bairro, pouco foi feito. O Morar Carioca praticamente não saiu do papel. E o alcance de saneamento do PAC é pequeno.

A Cedae diz que está progressivamente entrando em comunidades com UPPs. Na Rocinha, tem 18 homens cuidando das redes de água e esgoto.




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