ENTRAVE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL :
A FALTA DE RESERVATÓRIOS.
Prof. Eng. Jorge Paes Rios - CEFET/RJ
Encruzilhada das águas
Com enorme potencial energético hidrelétrico, o Brasil esbarra naquele que pode ser o maior entrave para o seu desenvolvimento nas próximas décadas: usinas sem reservatório e, consequentemente, um país sem garantia de energia.
LER A REPORTAGEM COMPLETA EM : http://portalclubedeengenharia.org.br/arquivo/1376507617.pdf/documentos
Belo Monte é sem dúvida o exemplo do apelo midiático
que a questão pode alcançar. Com filmes de atores
famosos de uma grande rede de TV com argumentos
sem nenhuma base técnica, a mídia nacional somou
forças com a internacional. Belo Monte foi pauta no
New York Times e na renomada Nature. Ambas as
publicações também traziam dados distorcidos.
Jorge Rios ressaltou pontos que não costumam ser
englobados pelas campanhas na internet:
“Algo que esses debates NADA técnicos não costumam dizer, por
exemplo, é que o desaparecimento dos reservatórios
vai refletir no bolso do consumidor e cabe a nós
engenheiros deixarmos isso claro”.
O representante da ONS concordou: “Ora, na medida que não temos
reservatórios para guardar anos bons, em um ano ruim,
teremos que usar as térmicas. Quanto vai custar, vai
depender da severidade da hidrologia, mas que vai ser
mais adverso é certeza”.
Francisco Gomide, sócio diretor da Organização
Industrial e Engenharia destaca que, por mais irracional
e errado que insurgir contra a hidroeletricidade, a tática
tem dado certo com a ajuda de grande ícones. “Letícia
Sabatela chorando nas margens do rio, Sting cantando na
floresta e Clinton, ex-presidente dos Estados Unidos da
América vindo ao Brasil dão força à oposição sem bases
e alimentam o que é um grande problema: a emissão de
CO2. Esse é um discurso desonesto”, denuncia.
VEJAM IMPORTANTES COMENTÁRIOS NAS REDES SOCIAIS:
Assunto: | Re: ABRH-Gestao: ENTRAVE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL : A FALTA DE RESERVATORIOS. |
Enviado por: RodolphoRamina | ABRH-Gestao@yahoogrupos.com.br |
Caras (os);
Tenho acompanhado, com muita preocupação, a evolução da discussão em torno dessa questão sobre os reservatórios das hidrelétricas. Grande parte da minha vida profissional foi desenvolvida na construção das grandes hidrelétricas do rio Iguaçu, no PR, em Itaipu, nas hidrelétricas do rio Paranapanema e em algumas bem importantes em MG, como Emborcação. Também trabalhei em projetos menores, PCHs, etc. Eu conheço pessoalmente (e admiro) muitos dos engenheiros, técnicos e cientistas que trabalharam, desenharam e construíram essas obras. Foram meus professores, como o Prof. Gomide, a quem eu respeito muitíssimo.
No entanto, eu acho que há uma grande distorção nessa discussão sobre os grandes reservatórios como a única solução para o entrave de desenvolvimento do país. A questão vem sendo discutida como se fosse uma alternativa tecnológica racional óbvia - ou grandes reservatórios ou termelétricas.
Não vou me estender muito sobre essas questões, que são certamente complexas e profundas, porém, ao meu ver, a discussão vem padecendo de diversos males, que explorarei aqui brevemente:
1. A visão hidro x térmica como antagonistas é anacrônica. Ela vem de uma época em que não tínhamos a diversidade de possibilidades de geração de energia que temos atualmente - e não somente eletricidade (hidros, térmicas, eólicas, solares, biomassa, resíduos urbanos, etc..) nem a rede interligada que dispomos hoje. Com isso, a "rede" vem se transformando também numa alternativa cada vez mais importante para a garantia do fornecimento de energia, especialmente quando se consideram outras formas de energia que não somente a elétrica. Basta ver o que vem acontecendo na Europa já há anos - a questão não é tecnológica, mas sim de uma falta de visão mais adequada aos tempos atuais.
2. Uma segunda distorção, esta mais grave, é de ordem econômica e vem de um posicionamento oligopolista do setor energético (tanto elétrico como petróleo), que o caracteriza desde a sua criação, nos anos 50. Nos acostumamos a ver a questão energética brasileira como composta de "geradores" e "consumidores". Uma coisa seria uma coisa, a outra coisa outra coisa, e essas coisas não se misturam, a não ser na necessária exceção à regra que são os autoprodutores. Pois bem. Apesar de tanta bomba contra, parece que agora estaríamos evoluindo para, finalmente, reconhecer que TODOS os consumidores teriam a possibilidade de gerar energia também, e os valores (da energia gerada e da consumida) poderiam ser equiparados. Claro, falta ainda rever os valores do "pedágio" cobrado pela transmissão. Essa distorção da estrutura do mercado, que privilegiou (e ainda privilegia, em grande medida) as grandes empresas estatais, talvez pudesse ser justificada no início da história do setor. Mas talvez hoje seja mais uma anacronia, impedindo o desenvolvimento de um importante mercado. A privatização só fez o oligopólio mudar de mãos, mas o corporativismo e a defesa do oligopólio continuam, mesmo porque, dado o acesso a tecnologias de pequena escala de geração de energia que qualquer cidadão poderia ter, hoje, coloca em risco uma significativa parcela desse mercado "cativo" dos oligopólios. E por mercado cativo incluo aqui a indústria toda, como os fornecedores, empreiteiras, projetistas, etc. como o caso Siemens tem deixado transparecer, ao levantar apenas a ponta da cortina. Certamente depois dessa não terei meu nome indicado como ministro das minas e energia. Nem Diretor da ANEEL. Que pena....
3. A terceira grande distorção é de ordem política. Barragens e reservatórios foram construídos desde os primórdios das civilizações. Mas com uma única finalidade, e ainda com a finalidade única da geração de hidreletricidade, só muito recentemente, e nos países ditos "em desenvolvimento". Se no Brasil dos anos 50, e 60 os usos múltiplos eram ainda muito incipientes (com exceção do nordeste) e nos anos 70 e 80 ainda não tínhamos acordado para entender a consequência de obras como Itaipu, Balbina e outras aberrações (a lista é longa, posso me estender se for necessário...), hoje a realidade é outra. Existe uma Lei (a 9.433, que nos institui) que determina a consideração de usos múltiplos como a única forma de utilização dos recursos hídricos que esta sociedade aceita. Só como um exemplo, hoje temos a agricultura intensiva e altamente capitalizada e tecnologizada para competir por esses recursos - e, segundo estudos da ANA, com maior valor econômico e social agregados do que a geração de eletricidade. Essa falta de visão multi-setorial causou desastres e distorções incomensuráveis com gravíssimas consequências para as alternativas de desenvolvimento do país, mas essas "externalidades" jamais foram computadas. Um dos principais fatores que permitiu, e até fomentou, que as nossas regiões metropolitanas se transformassem nessa coisa sem solução, foi justamente a visão uni-setorial tanto do setor elétrico (hidro) como do petróleo. Não é à toa a discussão em torno da falta de eficácia dos Comitês de bacia, os legítimos repositórios da aplicação do uso múltiplo, morrendo à míngua ou capturados pelo Estado, agente do status quo das empresas estatais/paraestatais ou essa mistura de jacaré com cobra d'água em que se transformaram (só pra não dizer que não falei da fauna, já que me considram um "eco-chato").
Portanto, essa história de grandes reservatórios como a grande salvação para o desenvolvimento do Brasil não é necessariamente uma alternativa racional, com resposta técnica imediata, dada, primordial. Essa posição é essencialmente política e reflete não só os interesses dos grupos que a defendem mas também, e principalmente, o tipo de desenvolvimento que queremos (notem o plural).
Posso ir mais longe, a noite toda se for necessário. Mas vou parar por aqui porque já estou com azia.
Rodolpho Ramina
RESPOSTA DE : Ricardo Krauskopf Neto
Enviadas: Terça-feira, 20 de Agosto de 2013 1:09
Assunto: Re: ABRH-Gestao: ENTRAVE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL : A FALTA DE RESERVATORIOS.
Enviadas: Terça-feira, 20 de Agosto de 2013 1:09
Assunto: Re: ABRH-Gestao: ENTRAVE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL : A FALTA DE RESERVATORIOS.
Rodolpho:
Não falo por todos que estão nesta discussão, mas apenas por mim.
Em primeiro lugar, folgo em saber que compartilhamos o mesmo respeito e admiração pelo Prof. Gomide. Foi, provavelmente, o melhor professor que tive e foi o "culpado" por vocês terem que "me aturar" nesta lista: ele fez a hidrologia parecer muito mais legal do que ela é (em especial, fez parecer muito mais fácil e "lógica") e me ludibriou, quando estava encaminhado para a área de estruturas. Eu cobro isto dele em toda oportunidade que posso :-)
Concordamos com uma coisa: nenhuma solução "à priori" é realmente uma solução. Todas as situações tem que ser avaliadas individualmente e as soluções apresentadas individualmente.
E aí começa o problema do seu discurso, ao não reconhecer que até o momento prevaleceu a solução apriorística de "não a todas as usinas". Ao ver a causa falhar, veio a segunda solução apriorística de "Não aos reservatórios". Ambas resultado de um lobby ambientalista, que considero bem intencionado mas extremamente infeliz, porque não reconhece o que para mim é óbvio: o grande impacto de uma usina é o barramento do rio. Todos os outros efeitos, em comparação são muito menores. A área alagada de um reservatório só é um problema quando atinge alguma área sensível ou especial, do ponto de vista ambiental e também social. Senão, ter um reservatório maior (e uma usina mais alta) é o que há de mais eficiente do ponto de vista energético, social e ambiental. A energia que se gera com este alteamento é a de menor custo incremental, se comparado com o custo de um novo projeto para gerar a energia "esterilizada" sem motivos.
Reduzir reservatórios virou uma coisa "bonita" por si mesma, o que não é, nem de longe, verdade.
Então, o movimento que se vê agora é uma saudável reação a uma "verdade cristalizada" em relação aos reservatórios que é tudo menos verdade. Como todo movimento de reação, pode "passar um pouco do ponto", mas isto é, também natural. Entendo que nós convergimos para o "ponto certo" na forma de uma senóide amortecida: uma reação exacerbada em uma direção termina por gerar uma reação exacerbada no outro sentido, mas de intensidade um pouco menor, que vira reação exacerbada mas menor no outro sentido, e assim vamos, até convergir num ponto razoável. Outra forma de ver isto é que o "ponto ideal" é atingido não necessariamente pela convergência de posições inteligentes mas pelo cancelamento mútuo de nossas estupidezes.
E veja que em seus comentários você também não diz qual é o problema dos reservatórios.
E veja que em seus comentários você também não diz qual é o problema dos reservatórios.
Com relação aos seus pontos específicos:
- a discussão hidro x térmica está longe de ser anacrônica: é a discussão das duas formas mais viáveis de geração, em termos de curso e segurança do fornecimento. Embora as outras formas de energia vão ampliar a participação na matriz energética, ainda não tem custo nem segurança no fornecimento que as possa fazer alternativa significativa para a expansão de 4.000 MW de geração por ano. E é possível que nunca venham a ter. Assim, esta é a discussão que você estaria fazendo se tivesse Ministro das Minas e Energia ou Diretor da Aneel e, portanto, tivesse alguma responsabilidade com os resultados do processo energético - e não a posição de "opinião irresponsável" (opinião de quem não precisa responsabilizar-se com as consequências de sua opinião) que tem atualmente;
- com relação à "posição oligopolista" do setor, ela não existe. De novo, você despreza o problema de escala para a solução dos problemas. Ninguém resolve o problema de expansão de 4.000 MW por ano com geração distribuída. Nos países em que ela é praticada, é cara (fortemente subsidiada) e complica consideravelmente a operação do sistema elétrico, que nunca sabe quanto tem que gerar e quando tem que parar de gerar, o que se traduz em redução de confiabilidade. E os sistemas distribuídos só ficam em pé se tiverem capacidade significativa adivinhe de que: sim, de geração hidrelétrica. Só as hidrelétricas tem a capacidade de reagir rapidamente o suficiente (embora sofrendo) para garantir o funcionamento de um sistema com contribuição distribuída forte. No caso da Alemanha, por exemplo, eles compram esta energia da Noruega (da mesma forma que fecham as suas nucleares mas compram energia das nucleares da França, o que me levou a criar a expressão de "moralidade georeferenciada" para o comportamento da Alemanha). Os países que investiram mais fortemente neste modelo começam a recuar. Li em algum lugar que a Alemanha não aceita mais a inclusão de novos produtores individuais em seu sistema. De minha parte, gostaria muito de saber qual é a pegada ecológica da geração distribuída, em relação aos grandes projetos de geração. A "sensação" que tenho é que é muito maior. Se é, qual o sentido? Assim, a única forma de ter um sistema distribuído forte é ter associado a ele um sistema hidrelétrico. O mesmo vale para sistema grandes de geração eólica, solar e de biomassa. Eles não consituirão, nunca, a "espinha dorsal" de nenhum sistema elétrico, por mais importantes que eles já sejam e que serão mais ainda no futuro. E aí é sua discussão sobre sistemas concentrados e distribuídos que perde consistência (de novo, "opinião irresponsavel");
- reservatórios não são alternativas de desenvolvimento, são solução de geração de energia. A energia é que é condição básica para qualquer desenvolvimento. A grande maioria dos reservatórios, no Brasil e no mundo, segue sendo para outras finalidades que não a geração de energia. Mas o "curioso" é que a discussão sobre o "tamanho dos reservatórios" nunca chegou aos outros reservatórios que não fossem para a geração de energia. A criação de projetos de usos múltiplos se torna realidade quando existem o requisito deste usos. E eles não ocorrem. Quando há o projeto de uma hidrelétrica, o setor de transporte não se apresenta para uma parceria, ou o setor de agricultura, ou o setor de abastecimento e saneamento, ou qualquer outro setor, para compartilhar sua parte do recurso hídrico e sua parte nas obras para o seu aproveitamento. O que ocorre, em geral, é a construção de obras por um setor, de energia, e a tentativa de apropriação indébita dos recursos por outro setores "de grátis". Para mim, isto é estelionato puro. A realocação de recursos é sempre uma decisão da sociedade. A realocação "grátis" é roubo (talvez o nome bonito fosse desapropriação sem custos, mas isto é roubo, então...). Gostaria de conhecer o estudo da ANA que definiu que os resultados da agricultura são mais significativos social e economicamente. Isto porque nada que o Homem produz tem capacidade de multiplicação de riquezas como a energia. Seu valor em si não é o que conta, mas o que se gera e produz com ela (inclusive a possibilidade desta discussão por computador, que com certeza vai "mudar o mundo" :-) ).
Resumindo, você tem razão em que os reservatórios não são os "salvadores da pátria" ou a "bala de prata" que vai matar o "lobisomem do desenvolvimento". Mas também não são o "lobisomem social e ambiental" que se tem vendido por aí, por mais de duas décadas, e que se começa a questionar internamente (inclusive, quem sabe, tarde demais). Rodolpho, os ecologistas já tiveram a sua vez; agora é a hora da "estupidez dos engenheiros"
Um abraço
Ricardo K.
De: "claudiaabreu46@yahoo.com.br"
Para: amigosdanatureza@grupos.com.br
Enviadas: Terça-feira, 20 de Agosto de 2013 18:59
Assunto: [Amigos da Natureza] Re: de novo 3 = ENTRAVE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL : A FALTA DE RESERVATORIOS.
Para: amigosdanatureza@grupos.com.br
Enviadas: Terça-feira, 20 de Agosto de 2013 18:59
Assunto: [Amigos da Natureza] Re: de novo 3 = ENTRAVE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL : A FALTA DE RESERVATORIOS.
Ricardo: excelente discussão ..... simplesmente a coisa é lógica e transparente ....
Assisti as palestras do Gomide , do Erton, do Jorge Rios e do Oduvaldo .... Quem não assistiu deveria pegar o DVD la no Clube e assim aprenderia muito principalmente o Rodolpho ...
Umas jornalistas presentes no Clube vieram falar comigo e disseram que não sabiam muita coisa pois ficam ouvindo muita baboseira não técnica de outros jornalistas e de artistas globais ....
O Brasil ate que consome pouca ""energia per capita"" se comparado a Portugal [país pequeno ... mas com bastante metrô e trens elétricos e aquecimento no inverno ....] mas mesmo se crescermos pouco teremos que ligar as térmicas devido a esta politica [gem...] ensandecida e o preço da energia vai travar o desenvolvimento do Brasil .. parece coisa orquestrada lá fora com os Stings, AlGores e um monte de ecoxiitas .... o que os ""ambientalistas"" brasucas nao veem é que estão dando tiro no pé e assim [ a médio e longo prazo ] vão ficando desacreditados ....
Rodolpho vc. deve ter aprendido na escola sobre o estudo de alternativas tecnicas-economicas simples assim .... vc. sabe o custo financeiro e ambiental de uma termica e de uma hidro ??? os USA ja partiram para o gás do XISTO mesmo com riscos ambientais enormes nao estabelecidos .....
Claudinha
jorge rios (profrios46@yahoo.com.br)
Enviada: terça-feira, 20 de agosto de 2013 19:47:04
Enviada: terça-feira, 20 de agosto de 2013 19:47:04
Para: Amigos da Natureza
Pelo menos serviu para uma saudavel e esclarecedora e IMPORTANTE discussao ....
Concordo com o Ricardo K...
Prof. Jorge Rios - profrios46@yahoo.com.br
BLOG SOS RIOS DO BRASIL
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