Médicos e saneamento
"Se os quatro mil cubanos salvarem a vida de um brasileiro já terá valido a pena. Dos vinte municípios que vão receber os médicos estrangeiros, todos apresentam deficiência na coleta e no tratamento de esgoto e no fornecimento de água. A OMS estima que para cada US$ 1 investido em saneamento são economizados US$ 4 em saúde pública. Hoje, no Brasil, somente 48,1% dos esgotos são coletados e apenas 37,5% recebem algum tipo de tratamento. Para universalizar o saneamento no Brasil seria necessário investir R$ 302 bilhões nos próximos 20 anos. Pouco mais de R$ 15 bilhões por ano. Temos investido metade desse valor. Portanto, vamos precisar de 40 anos para chegar perto dos índices de coleta e tratamento registrados hoje em Cuba: 92%, segundo a Unicef", coluna de Agostinho Vieira - O Globo, 29/8, Economia, Verde,
Coluna publicada no Globo de hoje:
Há 56 anos, no dia 4 de setembro, a jovem negra Elizabeth Eckford, de 15 anos, tentava entrar na Little Rock Central High School, no estado de Arkansas, sul dos Estados Unidos. Uma escola reservada apenas para alunos brancos. Elizabeth chegou sozinha, não sabia que os outros oito negros que sonhavam estudar ali decidiram vir em grupo. Foi recebida com vaias, tentativas de agressão e insultos impublicáveis.
A foto da corajosa estudante e, principalmente, a expressão de raiva no rosto dos adultos brancos que a receberam ficaram famosas. Correram o mundo. A imagem me veio à cabeça na segunda-feira, ao ver os médicos cubanos – grande parte deles negros – sendo vaiados e xingados quando chegavam a Fortaleza. A menina americana cumpria uma decisão da Suprema Corte dos EUA, que declarara ilegal a segregação de alunos negros. Os cubanos aceitaram um convite para prestar atendimento básico em áreas carentes. Convite recusado antes por brasileiros.
Diante da repercussão das vaias, os representantes do Sindicato dos Médicos do Ceará tomaram duas providências imediatas: culparam a imprensa e negaram tudo. Disseram que não houve racismo ou xenofobia. As vaias não eram para os cubanos, mas para os gestores do Ministério da Saúde. O problema é que estavam todos juntos. Ou seja, os berros de “escravo”, “escravo” eram para os servidores públicos. Outros médicos trataram de esclarecer logo que esse grupo não representa a categoria. Seria injusto julgar o todo pelas ações de uma parte.
É verdade. Os brancos que gritavam na porta da escola no Arkansas certamente não representavam todos os americanos. Mas Federação Nacional dos Médicos (Fenam) representa a categoria. E ela vem tentando impedir na justiça a contratação dos médicos estrangeiros. Argumenta questões trabalhistas, salariais e exige o revalida. Temas importantes a serem considerados, desde que tivéssemos o fundamental resolvido. Estamos falando de gente que não tem atendimento algum. Se os quatro mil cubanos salvarem a vida de um brasileiro já terá valido a pena.
É claro que o programa “Mais Médicos” não vai resolver o problema da saúde no país. Longe disso. Ele é muito maior. Não foi resolvido ou sequer devidamente enfrentando pelo governo Dilma, pelos dois do Lula, pelos dois do Fernando Henrique ou pelos militares. Faltam recursos. Mas falta, especialmente, gestão. Agora parece que teremos parte dos royalties do petróleo destinados para o setor e 40% do tal orçamento impositivo também. É bom, mas não resolve.
Assim como é bom o Programa Saúde da Família (PSF), mas ele precisa ser ampliado, levado a todos os cantos do país. Além disso, não são os médicos de família, sejam cubanos, argentinos, portugueses ou brasileiros, que vão enfrentar, sozinhos, algumas doenças graves como os ataques cardíacos, o câncer, a diabetes e os acidentes de trânsito. Precisamos de hospitais, equipamentos e gente bem treinada. Em 1988, o Congresso decidiu que a saúde seria um direito do cidadão e um dever do estado. Boa frase. Mas isso custa caríssimo e alguém precisa pagar a conta.
Por falar em conta cara e necessidades primárias, pedi para o Édison Carlos, presidente do Instituto Trata Brasil, levantar a situação do saneamento básico em algumas das cidades brasileiras que vão receber os médicos estrangeiros. Doenças causadas por sistemas inadequados de água e esgoto são uma das principais causas de morte no mundo. Não deu outra. Dos vinte municípios relacionados, todos apresentam deficiência na coleta e no tratamento de esgoto e no fornecimento de água.
Queimados, por exemplo, na Baixada Fluminense, recolhe apenas 40% do esgoto gerado pela população. Já o tratamento é zero e as perdas no fornecimento de água superam os 50%. A situação é muito parecida em cidades como Francisco Morato, em São Paulo, Alagoinhas, na Bahia, ou Cáceres no Mato Grasso. Com isso, continuam sendo comuns os casos de diarreia, cólera, giardíase, febre tifoide e infecção por E.coli, principalmente entre as crianças e os velhos.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que para cada US$ 1 investido em saneamento são economizados US$ 4 em saúde pública. Hoje, no Brasil, somente 48,1% dos esgotos são coletados e apenas 37,5% recebem algum tipo de tratamento. Para universalizar o saneamento no Brasil seria necessário investir R$ 302 bilhões nos próximos 20 anos. Pouco mais de R$ 15 bilhões por ano. Temos investido metade desse valor. Portanto, vamos precisar de 40 anos para chegar perto dos índices de coleta e tratamento registrados hoje em Cuba: 92%, segundo a Unicef.
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