OS BERADEIROS DO VELHO CHICO ESTÃO ESCRAVIZADOS

Os beradeiros do Velho Chico estão escravizados

Como se pode morrer de sede às margens de um rio? Morre-se de sede de liberdade!

O rio São Francisco que nasce nas Minas Gerais e desce serras entre montes, percorre planícies e quando ainda enchia criava novas rebentações e trazia ao longo de todo o seu percurso o limo fertilizante para melhorar as vidas de quem vivia e ainda hoje vive às suas margens. O limo deixava as terras vizinhas ao rio adubadas naturalmente e ali se plantava o arroz e nas lagoas também se criava o peixe.

O rio dava água de beber, grandes áreas de terras preparadas para o plantio, permitia que por meio da pesca famílias de exatos quatro estados do país vivessem apenas do Velho Chico. Isso era a preciosidade que além de tudo permitia ao homem ribeirinho ser livre! Ter liberdade de falar, pensar e também de votar, mesmo que em plena ditadura militar.

Passados os anos as grandes construções de barragens e de hidrelétricas transformaram o antes pescador livre, em escravo dos senhores feudais. Eram os grandes fazendeiros a veia de sustento dos desempregados do São Francisco que sem forças não mais cava o seu próprio leito, não produz a fartura da piracema, não mais irriga naturalmente os arrozais das suas margens, não invade os pequenos rios ou riachos que se interligavam com o seu leito natural.

O São Francisco quase morto apenas fornece a água para beber, porém depois de tratada pelas impurezas que o próprio homem lhe traz.

Com o fim dessa riqueza natural muitos povos – matutos beradeiros – tiveram que se calar e sofrer do mal da necessidade e, por isso se sujeitar aos caciques políticos das cidades antes pobres, que depois da fragilidade do Velho Chico se tornaram miseráveis.

Miseráveis, segundo Victor Hugo – escritor francês – são os povos que passam a depender de um prefeito de uma pequena cidade do seu próprio país – a França – e que dele – o prefeito – passam a depender de quase tudo para sobreviver.

Os empregos da cidade todos eles dependem da autorização do prefeito para se trabalhar e se manter no emprego.

Podemos dizer – escrever – que essa realidade não é muito diferente em algumas localidades do Brasil ainda atrasado quando comparado com a França atual. Estamos passando pela dor e pelo sofrimento para nos melhorar como seres humanos.

Portanto, quando enxergo um exemplo similar do livro Os Miseráveis, de Victor Hugo, me reporto a quanto mal faz uma situação parecida nos tempos atuais ao ser humano.

No livro citado, até mesmo a justiça faz papel de carrasco ao perseguir a quem pede por liberdade. Todo continuísmo de poder é casuístico!

A pior marca de um ditador é tentar calar a voz que o enfrenta. É o reconhecimento inconteste de que a sua forma de governar é doentia, quem sabe contaminada pela corrupção de quem até mesmo se apropria do poder erroneamente dado ao ditador.

O sofrimento dos povos beradeiros parece até castigo de Deus por se completar com a falta de peixe e arroz para que o homem não venha a se sujeitar aos caprichos de quem lhes rouba o pouco que lhes resta: a dignidade e o direito à liberdade!

Fonte: Correio do Povo de Alagoas

BLOG SOS RIOS DO BRASIL

ÁGUA - QUEM PENSA, CUIDA!