Embraport não criou unidade de preservação. Crédito: Luiz Torres/DL |
Antônio Carlos Banha
Joaquim (PMDB) ingressou com uma denúncia no Ministério Público alegando
que a empresa não cumpriu as condições impostas, que previam a
compensação da área ocupada.
Na semana passada quando
a Empresa Brasileira de Terminais Portuários - Embraport anunciou que
sete armadoras começaram a escalar navios em seu novo terminal -
inaugurado em junho último na Área Continental de Santos -, uma nova
polêmica em torno da empresa ganha força, só que na área
política-administrativa.
O vereador Antônio
Carlos Banha Joaquim (PMDB) ingressou com uma denúncia no Ministério
Público alegando que a empresa não cumpriu as condições impostas pelo
Município que previa a compensação da área ocupada.
Segundo o parlamentar
que, semana passada, apresentou denúncia formal na própria Câmara,
quando se deu início ao processo ambiental, foi formalizada a intenção
de convênio com a Prefeitura de Santos, no sentido de que a empresa
apresentasse um projeto de preservação de outra área do mesmo tamanho da
que sedia suas instalações, que suprimiram vegetação e manguezais.
“É notória a perda
ambiental que sofreu o Município em razão da instalação de empresa em
área costeira. Diria até que intervenções feitas no local ao longo do
tempo trarão consideráveis prejuízos às correntes marítimas da área
portuária”, afirma Banha.
Para dar legitimidade às
denúncias encaminhadas à Procuradoria do Meio Ambiente de Santos, o
vereador salienta artigos inseridos em várias leis estaduais e federais,
como a que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da
Natureza (9.985) e o decreto que institui o Plano Nacional de
Gerenciamento Costeiro (PNGC).
Esse último, no seu
artigo 17, define que “a área a ser desmatada para instalação, ampliação
ou realocação de empreendimentos ou atividades na zona costeira que
implicar a supressão de vegetação nativa, quando permitido em lei, será
compensada por averbação de, no mínimo, uma área equivalente na mesma
zona afetada”.
O parlamentar santista
ressalta ainda que foi desrespeitada a Lei da Mata Atlântica (11.428),
que no seu artigo 20 define que corte e supressão da vegetação primária
do Bioma Mata Atlântica somente serão autorizados em caráter
excepcional, quando necessários à realização de obras, projetos ou
atividades de utilidade pública, pesquisas científicas e práticas
preservacionistas, o que não seria o caso da Embraport.
“Além disso, é sabido
que para suprimir vegetação em área de preservação permanente é
necessário decretação de utilidade pública, pelo prefeito, após
aprovação da Câmara de Vereadores, o que não aconteceu”, garante Banha,
explicando ainda que para ser utilidade pública o empreendimento
precisaria cumprir resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente
(Conama).
Pelo Conama, utilidade
pública só pode ser decretada para atividades de segurança nacional e
proteção sanitária; serviços públicos de transporte, saneamento e
energia; atividades de pesquisa; implantação de área verde; para obras
de captação de água e para fins de aquicultura.
Para finalizar, Banha
cita o entendimento do jurista Celso Antonio Bandeira de Mello sobre a
exploração dos serviços portuários por empresas privadas, como é a
Embraport: “os chamados terminais e portos de uso privativo cumprem
função distinta da prestação de serviços portuários. Sua função não é a
de prestar serviços públicos, mas atender a interesses específicos
empresariais”.
Impasse
É importante salientar
que a Embraport já protagonizou vários impasses. O último ocorreu em 11
de julho passado envolvendo a estiva, que impediu que um navio atracado
terminasse sua operação na empresa. Na ocasião, a embarcação foi
invadida por trabalhadores, que reivindicavam a utilização de avulsos
ligados ao Órgão Gestor de Mão de Obra (OGMO). A empresa prefere manter
trabalhadores próprios.
Atualmente, a empresa
continua em negociações com a estiva (Sindicato dos Estivadores) e ainda
com o Sindicato dos Operários Portuários (Sintraport). A implantação da
Embraport representou um investimento de R$ 2,3 bilhões e a empresa é
um empreendimento da Odebrecht Transport, em parceria com a operadora
multinacional Dubai Ports World e o Grupo Coimex, com sede no Espírito
Santo.
Embraport se explica
A Embraport está
funcionando sem ter feito a compensação ambiental. Em nota, a empresa
esclarece que, em 2009, assinou um termo de compromisso, em conjunto com
a Prefeitura de Santos, para a criação de uma unidade de conservação
localizada na Área Continental da cidade, entre os bairros de Iriri e
Caruara.
Segundo a empresa, o
termo tem validade até 2014. Portanto, a Embraport, apesar de todo esse
tempo, afirma que está dentro do prazo para a implementação do projeto.
“Os detalhes estão sendo definidos com a nova gestão municipal”, revela a
empresa.
Prefeitura
A Secretaria de Meio
Ambiente de Santos, por intermédio da asessoria de imprensa, revelou que
um termo de convênio, na verdade, foi assinado em 2008 (Governo João
Paulo Tavares Papa), que previa a criação, pela Embraport, de uma
unidade de conservação em um ecossistema de manguezal, no Canal de
Bertioga, numa área da União cedida à Prefeitura, que seria responsável
por mantê-la.
Porém, além da área
nunca ter sido criada, o termo foi considerado equivocado, pois a
unidade deveria ser mantida e preservada pela empresa e não pela
municipalidade. Neste sentido, a Prefeitura ratifica a formalização de
um novo termo, que será celebrado respeitando a nova exigência, que não
gera despesa ao Município.
Fonte: Diário do Litoral
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