Juliana Caldas, da Embrapa
23/11/2009
“A adequada gestão dos solos e dos recursos hídricos do Cerrado e a preservação de suas nascentes são fatores fundamentais para os processos de produção e distribuição de água pelos rios do Brasil”. A avaliação é do pesquisador da Embrapa Cerrados, Jorge Enoch Furquim Werneck Lima, responsável por uma pesquisa que estimou a contribuição que o bioma oferece ao país em termos hidrológicos.
“Como o Cerrado está numa região central e alta do continente, ele tem esse efeito que denominamos de guarda-chuva: a água cai aqui e se distribui por grande parte do país e pela América do Sul. Vários rios importantes recebem água do Cerrado”, explica.
Das 12 grandes regiões hidrográficas brasileiras, oito recebem contribuição hídrica do Cerrado. A bacia do rio São Francisco, por exemplo, deve 94% da vazão em sua foz ao bioma. Há situações em que a participação desse bioma corresponde a mais de 100% do volume total gerado na bacia - é o que ocorre na bacia do Paraguai, que engloba a região do Pantanal, com 136%.
Ou seja, passa mais água dos rios do Cerrado para o Pantanal do que o montante que este transfere ao rio Paraguai. “São as águas do Cerrado que viabilizam a existência do Pantanal”, afirma Lima. Além das bacias do Paraguai e do São Francisco, outras regiões hidrográficas possuem grande parte de sua vazão gerada em área de Cerrado, como a do Parnaíba (106%), a do Tocantins/Araguaia (70%) e a do Paraná (50%).
De acordo com o pesquisador, importantes usinas hidrelétricas do País recebem água do Cerrado. “Setenta por cento das águas que passam nas turbinas de Tucuruí vêm do Cerrado, a metade da água que passa em Itaipu também vem desse bioma. No caso da usina hidrelétrica de Sobradinho, que possui um dos maiores reservatórios do mundo, esse valor chega a quase 100%”, destaca. Além da geração de energia, as águas provenientes do Cerrado também são responsáveis pelo abastecimento de cidades e pela irrigação de terras agrícolas, isso sem falar no que representam para o turismo e lazer, como o caso do rio Araguaia - um dos principais cursos d’água do Cerrado brasileiro e que possui destinação turística nos quatro estados por ele banhados: Goiás, Mato Grosso, Tocantins e Pará.
Relevância simbólica
Um dos locais de destaque no Cerrado é a Estação Ecológica Águas Emendadas, localizada na região central do Brasil, no Distrito Federal, ocupando uma área de aproximadamente 10.500 hectares. De acordo com o pesquisador, ela está estrategicamente localizada na nascente de duas grandes bacias hidrográficas do Brasil e do continente sul-americano, as dos rios Tocantins e Paraná, esta última, integrante da bacia do rio da Prata. “Essa região simboliza muito bem o papel do Cerrado em relação aos recursos hídricos do país e do continente. Uma área de nascentes que armazena e distribui água para grandes bacias hidrográficas”.
O pesquisador ressalta que as veredas e as zonas de nascentes, como as presentes na área de Águas Emendadas, são ecossistemas frágeis. “Pequenas alterações no ambiente podem ser responsáveis pela sua completa extinção”, enfatiza. Segundo ele, a urbanização do local e o desenvolvimento de atividades econômicas já configuram uma ameaça a essa unidade de conservação. “Assim, é fundamental a realização de monitoramento, estudos, pesquisas e discussões junto à sociedade para a conservação dessa área, uma vez que esse sistema ecológico é frágil e nem sempre os impactos sofridos por ele poderão ser revertidos”, alerta o pesquisador.
Conheça mais
Os dois principais cursos d’água da estação ecológica são os Córregos Vereda Grande (bacia do Tocantins) e Fumal (bacia do Paraná), ambos originados na Vereda Grande, que tem cerca de seis quilômetros de extensão. As veredas são áreas onde o lençol freático fica próximo à superfície durante todo o tempo e, no caso de Águas Emendadas, este propicia, por vezes, uma lâmina de água sobre a superfície do solo. O fato de esta única área alagada verter para duas diferentes bacias hidrográficas dá origem ao nome da estação ecológica: Águas Emendadas.
A água que verte para o norte segue um percurso de mais de dois mil quilômetros pela bacia do rio Tocantins, enquanto a que vai para o sul percorre cerca de 3.300 quilômetros pela bacia do rio da Prata, até chegar ao mar. Portanto, somando-se os trajetos, as águas superficiais geradas na Estação Ecológica Águas Emendadas contribuem para uma extensão territorial de mais de 5.000 quilômetros, percorrendo quatro diferentes países, o que representa uma singularidade marcante dessa área.
(Envolverde/Embrapa/Tratamento de Água)
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