Seminário no Médio Rio Negro (AM) reforça debate democrático sobre ordenamento territorial
isa - 24/11/2009
O evento foi organizado em Barcelos pela Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn) e associações de base, em parceria com a Rede Rio Negro, que inclui o Instituto Socioambiental - ISA, a Fundação Vitória Amazônica - FVA, a WWF-Brasil e Instituto de Pesquisas Ecológicas – IPÊ, entre 30/9 e 3/10 de 2009. Contou com a participação de 150 pessoas, dando continuidade aos debates iniciados no primeiro seminário sobre o mesmo tema em novembro de 2008.
Lideranças indígenas, organizações da sociedade civil e representantes do poder público (como Funai, Ministério do Meio Ambiente, Secretaria de Desenvolvimento Sustentável do Amazonas entre outros) num total de 150 pessoas participaram em Barcelos (AM)do II Seminário sobre Ordenamento Territorial do Médio Rio Negro que teve como objetivo apresentar as agendas e intenções de cada instituição e organização locais envolvidas nesse processo. E, a partir daí, analisar aspectos positivos e negativos das sobreposições de agendas e áreas de atuação de cada um. (Veja quadro sobre Ordenamento territorial no final do texto).
Cerca de 150 pessoas participaram do evento em Barcelos |
Os seminários realizados no Médio Rio Negro pela Foirn (Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro) e pela Rede Rio Negro, surgiram da necessidade de se criar uma interlocução entre a sociedade civil e as instituições governamentais em torno de interesses comuns, para debater e promover o ordenamento territorial, com base no respeito aos direitos territoriais coletivos das populações tradicionais e na garantia da conservação dos ecossistemas regionais, contribuindo para a utilização adequada dos recursos naturais.
Entretanto, o evento acabou tendo repercussão local maior que a esperada. Em função de informações equivocadas de que o seminário pretendia “fechar os rios”, delimitando áreas por meio de exercícios cartográficos, uma mobilização promovida, principalmente, pela Cooperativa dos Piaçabeiros do Médio e Alto Rio Negro (Copiaçamarin) e Colônia de Pescadores Z-33, com o apoio de vereadores da Câmara Municipal de Barcelos, agitou a cidade com protestos. Portando faixas contra a demarcação de Terras Indígenas, os manifestantes foram convidados a participar do seminário e insistiram o tempo todo em reafirmar suas posições. Diziam que a demarcação seria feita de maneira obscura, desrespeitando os moradores da cidade, pescadores e extrativistas nascidos e criados na região.
Poder público local e demarcação
Os protestos e a agitação revelaram divergências de interesses. Lideranças da mobilização anti-ordenamento insistiam em divulgar que a delimitação das Áreas Protegidas seria realizada durante o seminário e que só não teria sido concretizada graças aos protestos, desconsiderando o fato de que a demarcação de Terras Indígenas ou a criação de Áreas Protegidas possuem processos e protocolos oficiais específicos e que jamais seriam concluídos durante o seminário.
O poder público local, tanto em Barcelos quanto em Santa Isabel do Rio Negro, tem manifestado preocupação em relação ao processo de demarcação de TIs e/ou criação de UCs, acreditando que isto significa um entrave econômico e perda da governança de grandes extensões territoriais dentro dos limites municipais. Vereadores presentes ao seminário afirmaram serem contrários a qualquer tipo de ordenamento territorial em Barcelos, sugerindo que o simples ordenamento das atividades de pesca e turismo resolveria conflitos por acesso aos recursos naturais e aumentaria o desenvolvimento econômico da região. Mas que essas sugestões, de acordo com eles, não seriam encaminhadas com a criação de Áreas Protegidas. No entanto, o governo federal, com seu Programa Corredores Ecológicos do Ministério do Meio Ambiente, vem indicando, por meio das políticas públicas voltadas para o desenvolvimento da Amazônia,a necessidade de áreas reconhecidas e regularizadas para a implementação de projetos e o investimento de recursos.
Alguns esforços foram feitos pelos organizadores do seminário para esclarecer o objetivo do evento lembrando que o reconhecimento das Terras Indígenas tradicionalmente ocupadas é um direito garantido pela Constituição brasileira, cabendo à Funai encaminhar e conduzir esse processo até a aprovação do ministro da Justiça e posterior demarcação e homologação pelo Presidente da República. Também foi explicado aos participantes que as populações indígenas de Santa Isabel e Barcelos têm direito de requerer o reconhecimento de suas terras e que isso não significa isolamento ou proibição de acesso a estes territórios, assegurando também os direitos dos indígenas residentes nas sedes municipais. E que o direito de usufruto exclusivo dos recursos pelos povos indígenas, garantido pela Constituição, nos casos de reconhecimento de TIs, lhes faculta definir relações com não-indígenas na área demarcada, dentro do marco da legislação.
Resultados e ações futuras
Apesar do impasse criado, os participantes tiveram oportunidade de trocar conhecimentos sobre a região, apontar dificuldades e trazer propostas. Exercícios cartográficos foram realizados e foi possível mapear demandas, áreas de uso e fontes de recursos, bem como as propostas e intersecções de iniciativas em relação ao ordenamento territorial e de usos de recursos na região. (Veja mapa abaixo.)
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Os resultados mostraram que é preciso garantir a articulação interinstitucional com vistas a um planejamento justo de ordenamento territorial do Médio Rio Negro. Também ficou claro que é urgente e necessário traçar uma estratégia de esclarecimento sobre o conceito de Ordenamento Territorial e suas diversas possibilidades, como por exemplo, as Áreas Protegidas, TIs e UCs, considerando seus distintos processos e protocolos oficiais de demarcação e gestão. Além de esclarecimentos sobre seus estatutos jurídicos, que também são diferenciados. Com a salvaguarda do patrimônio socioambiental protegido por lei, o poder público local teria mais condições e apoio nacional e internacional para construir, em parceria com a população, projetos de desenvolvimento econômico sustentável e promover melhorias na qualidade de vida da população.
As instituições governamentais presentes, estaduais e federais, reforçaram a intenção e o compromisso em dar continuidade ao debate sobre o Ordenamento Territorial do Médio Rio Negro. (Veja lista de participantes no final do texto)
A Rede Rio Negro pretende manter o apoio à Foirn e associações de base para dar continuidade à promoção de um ambiente e agenda interinstitucional a fim de contribuir com um planejamento territorial no Médio Rio Negro.
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