Geólogo Prof. Aldo Rebouças do IGc da USP
Morre professor Aldo Rebouças
Aldo da Cunha Rebouças, professor emérito do Instituto de Geociências (IGc) da USP, morreu nesta segunda (18), às 22h45, aos 73 anos de idade, de falência respiratória. Era professor aposentado do Departamento de Geologia Sedimentar e Ambiental do IGc, onde atuava principalmente na área de Hidrogeologia.
A CIDADE DE ICAPUÍ
19/04/2011
Aldo da Cunha Rebouças nasceu em Peixe Gordo, Ceará, no dia 5 de agosto de 1937. Sua família, além de João da Cunha Rebouças e Maria do Carmo Rebouças, seus pais, era composta de 16 irmãos. Seu pai, um autodidata sempre compreendeu a importância da educação e, por isso, instalou dentro de sua casa uma escola para os filhos.Aldo estudou em casa com seus irmãos e, ainda adolescente, foi para estudar o Colégio Marista, onde aprendeu falar fluentemente francês. Formou-se em Geologia na Universidade Federal de Pernambuco. (UFPE) em 1964, formou-se como Mestre (1964) e Doutor (1973) na Université de Strasbourg (França) e realizou pós-doutoramento na Stanford University (Estados Unidos) em 1986. Foi um dos fundadores da Associação Brasileira de Águas Subterrâneas (Abas). Casado, era pai de três filhos.
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Aldo Rebouças um visionário
O velório foi realizado na terça (19) pela manhã no Cemitério Memorial Parque Paulista (Rua Dr Jorge Balduzzi, 520, Jardim das Oliveiras, Embu). A cerimônia de cremação do corpo aconteceu no mesmo local, às 17 horas.
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Aldo Rebouças um visionário
São Paulo (Agência Fapesp)
Em 1962, um quarto de século antes de a Organização das Nações Unidas publicar o relatório Bruntland – o primeiro documento a sugerir a inclusão do tema sustentabilidade na agenda de desenvolvimento dos países-, Aldo da Cunha Rebouças, um jovem geólogo formado pela Universidade Federal de Pernambuco, já alertava os órgãos públicos para o fato de que a má gestão e o uso inadequado da água comprometeriam a qualidade da oferta do produto. Ao longo de mais de 40 anos de pesquisa, ele defendeu obsessivamente a premissa de que “o conceito de água abundante, inesgotável e gratuita, uma dádiva de Deus ou de qualquer outra figura cósmica, da igreja ou de políticos, dos coronéis ou do homem, da natureza”, era uma ficção obsoleta.
Necessidade de tratamento especial
Brandiu esse alerta diante de vários governos. No final dos anos 1960 e início de 1970, foi diretor da Bacia Escola de Hidrologia da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene).
“Constatei que o problema do Nordeste não é de seca, mas de cerca”, lembra.
A região tem uma importante fonte de recursos hídricos: a água subterrânea. Boa parte dessa água está protegida da evaporação e poderia abastecer o dobro da população do Polígono das Secas, que compreende nove estados do Nordeste e o norte de Minas Gerais.
“A água subterrânea está presente nos terrenos sedimentares e não precisa de nenhum tratamento especial, exceto a cloração”, explicou em entrevista à Radiobrás, em 1999. Esse potencial, no entanto, é subaproveitado, apesar de as tecnologias de retirada dessa água serem relativamente simples e de baixo custo: basta uma bomba manual ou cata-ventos movidos a energia eólica que custam entre R$ 200 e R$ 400.
Um inventário recente dos poços já perfurados revelou, no entanto, que cerca de 30 mil deles não estavam equipados para a extração de água.
Aldo Rebouças é uma referência mundial no estudo das águas -
Tese de pós-doutorado
A água foi objeto de suas teses de mestrado e doutorado, na Universidade de Strasbourg, na França; e de pós-doutorado, na Universidade Stanford, nos Estados Unidos. Assistiu ao primeiro seminário patrocinado pela Unesco, em 1965, em Washington, que resultou num programa mundial de estudos sobre as águas subterrâneas. “Foi feito um balanço hidrológico e constatou-se que 30% da água do planeta era subterrânea.
“O homem já tinha pisado na Lua e ainda não sabia o que havia sob os seus pés...”.
No início dos anos 1970, a nova descoberta fez a geologia “explodir” como a ciência do futuro, tendo como Meca a França. Rebouças estava lá, desenvolvendo a tese de doutorado sobre a bacia Potiguar. “Mostrei que o projeto de desenvolvimento patrocinado pelo Banco Mundial estava instalado na região mais cara da bacia, sem nenhuma importância do ponto de vista
hidrológico. A região correta, e mais barata, era a Serra do Mel e de Serra Azul, onde estavam os minifúndios”, lembra.
Em meados de 1970 o Nordeste “não lhe coube mais”. Já casado com dona Suzana e com três filhos, Rebouças transferiu-se para a USP, onde fez o que considera sua maior contribuição para a hidrologia: descreveu o aqüífero Guarani, um manancial de água doce subterrânea de proporções gigantescas, localizado na região centro-leste da América do Sul, que se estende pelo Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina. “Descobri que o cristalino tem muita água”, resume, modesto. Até então a ciência descrevia só parte dessa imensa formação, o aqüífero Botucatu.
A descoberta de Rebouças foi batizada pelo uruguaio Danilo Anton, em memória dos povos
indígenas da região.
Poços com inclinação
Uma das soluções para o Nordeste, na sua avaliação, estaria na construção de poços artesianos inclinados, já que a região está localizada sobre uma fratura de rochas antigas, pré-cambrianas, de muito movimento. A outra, e a regra vale para todo o país, está na educação. “O cidadão brasileiro precisa ser informado ao máximo para utilizar, de forma cada vez mais eficiente, cada gota d`água disponível, reduzindo-se os desperdícios nas grandes cidades onde ainda se utilizam bacias sanitárias que necessitam de descargas que consomem de 18 a 20 litros, quando se tem modelos no comércio que necessitam de apenas 6 litros”, afirmou.
Transposição: “um absurdo”
Hoje Rebouças assiste perplexo ao debate sobre a transposição do rio São Francisco.
“Um absurdo”, como ele qualifica o projeto, movido por interesses políticos e pela velha rixa entre engenheiros – “que só se preocupam com a água que está acima do solo” – e geólogos – “que só se preocupam com a água subterrânea”. Sugere reiteradamente que é preciso investir mais no homem e menos em obras: “Não adianta construir barragens se os homens não sabem usá-las”, argumenta. Cita o exemplo de regiões em Israel e nos Estados Unidos, com o mesmo clima, e que são bastante prósperas. Para ele, a seca do Nordeste deveria ser encarada como uma oportunidade. “Tudo que se planta no Semi-árido dá, ele não é um solo pior para o cultivo que os outros”.
História da humanidade
Rebouças tem fundamentado suas teses sobre hidrologia na história da humanidade. Em 2003 recorreu a esses dois argumentos para criticar o governo de Luiz Inácio Lula da Silva que elegeu o programa Fome Zero como política prioritária de governo, em detrimento de ações de democratização do saneamento e acesso à água potável. “Há 25 mil anos a.C., já se sabia que o uso cada vez mais eficiente da gota d`água disponível era a alternativa mais barata de combate à fome. Parece, todavia, que esta lição não foi aprendida até agora, à medida que ainda se procura combater a fome com a distribuição de alimentos, como fez a Coroa portuguesa nas suas tentativas iniciais de colonização do Brasil”, escreveu na época.
Adaptações da Agência USP e do AGECO
É o Núcleo de Estudos e Articulação sobre o Semiárido (NESA), da Fundação Joaquim Nabuco, divulgando a realidade do Nordeste seco.
ENVIADO PELO COLABORADOR João Suassuna - FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO
ÁGUA - QUEM PENSA, CUIDA!
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