HÁ QUASE CINCO ANOS NÃO SE LIMPA DIREITO O RIO TIETÊ, DIZ PROF. DA USP

Vista aérea da marginal Tietê com o rio Pinheiros, na altura do Cebolão, zona oeste de São Paulo

Vinte anos após início de despoluição, 500 t

de lixo são jogadas todos os dias no rio Tietê

Especialistas dizem que obras não foram suficientes e rio deve transbordar de novo

Vanessa Sulina, do R7
Vinte anos após o início dos trabalhos de despoluição do Tietê, cerca de 500 toneladas de lixo são jogadas todos os dias no rio mais famoso de São Paulo. O volume é confirmado pelo próprio secretário de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado. 

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Segundo Edson Girbone, a montanha de lixo é formada pelo pequeno papel de bala, a latinha de refrigerante, o jornal e a sacola plástica - jogados pelos paulistanos nas ruas da cidade – até os grandes pedaços de entulho. Todo esse material vai parar no Tietê e agrava o assoreamento Do rio, o que contribui para os alagamentos na marginal Tietê no período das chuvas. 

Assoreamento é o acúmulo de lixo, entulho e outros detritos no fundo dos rios. Com o crescimento dessa sedimentação, o Tietê passa a suportar cada vez menos água, facilitando a ocorrência de transbordamentos. De março a novembro deste ano, foi retirado do fundo do Tietê 1 milhão de metros cúbicos de sujeira. 

O que deve ser feito no Tietê? 
- O pessoal está trabalhando inclusive à noite. Eles estão tirando de vários outros rios e córregos também. Contando estes locais mais o rio Pinheiros, a meta é retirarmos 3 milhões de metros cúbicos de material [de assoreamento] até dezembro. 

Veja fotos do caos após fortes chuvas 
Para o engenheiro hidráulico e ex-professor de engenharia da USP (Universidade de São Paulo) Julio Cerqueira Cesar Neto, o volume de sujeira retirada prometido pelo governo é “praticamente ralo”, levando-se em consideração a demanda. Segundo ele, há quase cinco anos não se limpa direito o rio Tietê. 

- Todos os anos são assoreados 1 milhão de metros cúbicos de material. Se não se tira pelo menos este volume, [a sujeira] vai se acumulando. As promessas começaram a ser cumpridas, mas de forma pequena e desprezível, se considerarmos a necessidade que teremos com as próximas chuvas. 

Ele classifica a situação como “dramática” e diz que há 20 anos não se investe o necessário para diminuir o problema. 

- Vamos enfrentar a mesma situação do ano passado. Os rios Tietê, Pinheiros, e o córrego do Tamanduateí não têm capacidade para as vazões que ocorrem nesta época de chuvas. Eles estão no “gogó da ema”. O Tietê tem capacidade de 1.100 metros cúbicos por segundo, e, com as chuvas, ele tem que suportar 400 metros cúbicos por segundo a mais. Isso sem ele estar assoreado. O Tamanduateí tem capacidade de 400 metros cúbicos por segundo e tem que suportar 870 metros cúbicos por segundo. 


Promessa de retirada

No início do ano, após uma tempestade ter causado ao menos 12 mortes e 125 pontos de alagamento na capital paulista, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) anunciou uma operação de emergência para retirar 2,1 milhões e 1,5 milhão de metros cúbicos de materiais acumulados no Tietê e Pinheiros, respectivamente. Além disso, o governo prometeu retirar 580 mil metros cúbicos da barragem da Penha para o córrego Três Pontes. O volume prometido é cerca de 1 milhão de metros cúbicos, maior que o que de fato deve ser retirado até dezembro. 

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O diretor de Políticas Públicas da ONG Fundação SOS Mata Atlântica, Mario Mantovani, que diz acompanhar há 30 anos os problemas das enchentes em São Paulo, afirma que o transbordamento dos rios mostra que a “gestão faliu”. 

- Os programas de recuperação de córregos são caros para a sociedade e você não atua na origem. Não é que as chuvas têm sido mais frequentes, mas a cidade está toda impermeabilizada. 

Segundo Mantovani, o rio é um termômetro da sociedade. 

- Se o rio tem esgoto, se o rio tem lixo, aquela comunidade é porca.
Fonte: R7 - Notícias