'Avalanche' de pedras faz até morro sumir em cidade paulista
Temporal varreu casas e mudou geografia de Guarda-Mão, bairro mais atingido de Itaoca
Familiares relatam confusão na identificação de vítimas; recontagem aponta 13 mortos
Em Guarda-Mão, bairro de Itaoca (347 km de SP) mais atingido pelo temporal de domingo, a "avalanche" de pedras (algumas maiores do que casas) causada pela enxurrada mudou a geografia local.
Onde antes passava um córrego estreito --o mesmo que dá nome ao bairro-- há agora uma fenda enorme.
As pedras desceram montanha abaixo pelo leito. "Onde tinha morro não tem mais; o córrego virou rio e essas pedras também não são daqui", conta Cleuzires Ribas, 22.
Pelo caminho, água e pedras destruíram 9 casas e levaram 21 pessoas. O bairro concentra 11 das 13 mortes já confirmadas na cidade e 10 dos 13 desaparecidos --Defesa Civil e Corpo de Bombeiros recontaram ontem o número de mortos, anteriormente divulgado como 14.
Algumas casas estão embaixo das pedras, outras foram completamente levadas.
Centenas de metros adiante, há roupas, tijolos, restos de eletrodomésticos, além de cães e peixes mortos enroscados em galhos e troncos.
"O pessoal tinha criação de porco, de boi aqui e tudo se perdeu", explica Cleuzires.
Entre os sobreviventes do bairro está o casal Conceição de Camargo, 77, e Amadeu Camargo, 82. Eles relatam terem passado a noite de domingo em casa, com a água no nível no pescoço. Foram resgatados por voluntários apenas no início da manhã seguinte.
"A gente costuma dormir na sala. Naquela noite, uma goteira fez com que a gente resolvesse dormir no quarto", diz Conceição.
Eles acordaram com o ruído das pedras e da água, que logo invadiu a casa (há marcas de 2 m nas paredes). Chegaram a ficar submersos, mas a parede da sala ruiu e a água baixou até o nível do pescoço.
Conceição e o marido estão na casa de amigos, mas ainda isolados do resto de Itaoca.
A prefeitura se comprometeu a enviar mantimentos e cuidados médicos para as famílias isoladas. Segundo o prefeito Rafael Camargo (PSD), já estão sendo tomadas as providências para desobstrução do acesso ao bairro.
IDENTIFICAÇÃO
Parentes de vítimas relatam ainda a confusão com a identificação de corpos.
"Minha irmã foi identificada pelo pai dela. Agora estão falando que o corpo não é mais a minha irmã", diz Adriano Santos, cuja mãe, um irmão, a avó e o padrasto também morreram.
Houve ainda a suspeita de que outra vítima, um homem de cerca de 30 anos, pudesse ter sido erroneamente velado como Odair José de Lima.
Os bombeiros seguem fazendo a busca de mais corpos. FOLHA SP ONLINE
Famílias inteiras desapareceram nas torrentes formadas pelo temporal que atingiu o município de Itaoca, no Alto Ribeira (SP), entre a noite de domingo e a madrugada de segunda-feira. Na tarde de ontem, a Defesa Civil e a polícia local contabilizavam 13 mortos e 13 desaparecidos, elevando para 26 o número de possíveis vítimas. A tromba d'água foi tão intensa que mudou a geografia da região. O Rio Palmital e seu afluente, o Guarda Mão, correm no fundo de um vale, ladeado pelas encostas altas e íngremes da Serra de Paranapiacaba. O aguaceiro atingiu essas encostas e descolou pedras (algumas maiores do que casas), que rolaram morro abaixo. A água da chuva ganhou velocidade ao escorrer pelo morro e chegou com a força de uma avalanche no leito dos rios. Algumas casas estão embaixo das pedras, outras foram completamente levadas. "Onde tinha morro não tem mais; o córrego virou rio e essas pedras não são daqui", conta a moradora Cleuzires Ribas - OESP, 16/1, Metrópole, p.A18; FSP, 16/1, Cotidiano, p.C3.
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"Os exemplos de tempo ensandecido se multiplicam neste começo de 2014. Nenhum estudioso responsável do clima, contudo, se arriscará a afirmar um nexo causal entre cada um desses eventos e o aquecimento global. São todos, afinal, fenômenos locais. E a mudança climática decorrente do acúmulo na atmosfera de gases do efeito estufa é mundial. Só pode ser corroborada por tendências estatisticamente relevantes, de escala planetária. Embora seja inequívoco (porque observado e medido) um aumento de temperatura média global de 0,8oC desde 1880, não há ainda observações suficientes para estabelecer que o número de eventos climáticos extremos -como ondas de calor e de frio- esteja aumentando como resultado do aquecimento", artigo de Marcelo Leite - FSP, 11/1, Ciência, p.C7. |
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