MEU QUERIDO RIO ARAGUAIA, NÃO ME ABANDONE JAMAIS...

Rio Araguaia 

Araguaia, meu querido rio

DIÁRIO DA MANHÃ

ALBA DAYRELL

Araguaia, meu querido rio, como o volume das suas águas aumentou! Transbordando, desce agitado, derrubando barrancos e inundando matas. Por que tanta pressa? Calma, seu caminho será percorrido com sucesso, como ocorre todos os anos desde os mais remotos tempos.

Qual gigante implacável, desliza garbosamente, desaguando em grandes rios até atingir o seu destino final: a imensidão do mar. Irreverente, quer viver com intensidade os fatos interessantes que ocorrem durante seu percurso, observando o que se passa às suas margens, apreciando as belezas descortinadas ao seu redor! Quer participar livremente das maravilhas disponíveis ao alcance do seu olhar, porém, a responsabilidade de cumprir a sua rota o impede de desfrutar da almejada liberdade.

Qual serpente sinuosa, avança escorregando majestosamente, impelido pela força das suas águas, ora descrevendo curvas, ora seguindo em frente, contudo, mantém sempre o seu caráter imponente e dominador. Entretanto, em alguns trechos, aparece tímido e ingênuo, não deseja perturbar ninguém! Por ser um rio mutante, não tem leito definido. Esconde suas belas praias de areias brancas nas profundezas do seu mundo para, posteriormente, exibi-las em lugares diferentes, na próxima estação. Quantos segredos você guarda em sua essência!

Ah! Rio cheio de encantos! Quero mergulhar nas suas águas revigorantes, experimentar em meu corpo ardente o movimento contínuo e suave do seu líquido fresco a massagear minha pele, provocando sensações indescritíveis de prazer, fazendo-me vibrar de emoção até que, num momento sublime, eu possa sentir explodir meu coração.

Outros rios famosos existem, distribuídos em várias partes do planeta: o Sena, o Tâmisa, o Danúbio, o Clyde, o Neva, o Mississipi, o Reno, todos cantados em prosa e em verso por poetas de notável valor. Elegantemente, passam por cidades históricas, vislumbram castelos milenares, avistam picos nevados das mais lindas cordilheiras... No entanto, apesar do seu aspecto selvagem, rude e destemido, nenhum desses belos rios possui o encanto, a simplicidade, a beleza natural, o esplendor de formas, o frescor das águas e, principalmente, a grandiosidade, fatores inerentes ao seu caráter determinado e insólito. Quantas maravilhas você guarda consigo!

Abriga peixes, aves, mamíferos, anfíbios e répteis, além de uma variedade de outros animais que dependem do grande rio para garantir a sobrevivência. Qual pai generoso, proporciona igual tratamento a todos os que o habitam. As árvores, os arbustos, as plantas aquáticas que o envolvem se refletem nas suas águas ao mesmo tempo em que emolduram e definem sua presença majestosa.

Ao entardecer, oferece aos mortais um espetáculo de extraordinária beleza: o pôr do sol no Rio Araguaia. O céu que o resguarda se transforma em um cenário de esplendor pincelado com cores abrasadoras; projeta essa obra-prima no espelho das suas águas e encanta a todos com a beleza das nuances multicores desenhadas por um artista celestial, circulando harmoniosamente entre o amarelo e o vermelho. Quisera eu sentir no peito o calor dessas chamas arrebatadoras para aquecer meu coração!

Ao amanhecer, os animais se regozijam com a alegria de participar do novo dia que se inicia, emitindo sons em variados níveis de decibéis e se deleitam com a profusão de alimentos que o rio lhes oferece. Uma algazarra se estabelece, alguns agindo com ligeireza, outros demonstrando calma, cada qual preservando o equilíbrio do seu ritmo natural.

Pássaros nadam nos domínios das suas águas enquanto outros, em bandos, alçam voo com destino desconhecido. Ah! Quisera eu fazer parte dessa aventura! Soltar as amarras e com eles voar rumo a lugares nunca vistos; experimentar o prazer de ser livre, leve, sem preocupações e compromissos! Quisera eu sentir fantásticas emoções que me fizessem vibrar e regozijar de contentamento!

Ao anoitecer, gostaria de retornar a casa, cansada, guardando no fundo do coração as experiências vividas, disposta a continuar meu caminho me espelhando na trajetória do grande rio. Regressar ao ninho é gratificante, pois ele acolhe e reconforta. A felicidade está presente no meio familiar, ao redor dos entes que nos são caros. Partir para explorar o mundo é tentador e extasiante, embora o retorno ao ninho seja pacificamente acalentador e sublime.

Meu querido rio, não me abandone jamais! Quero ser parte integrante da sua vida, envolver-me perdidamente no esplendor da sua magia, render-me de corpo e alma aos seus encantos, oferecendo-lhe em troca minha eterna fidelidade e meu amor incondicional! 

(Alba Dayrell, membro da Academia Feminina de Letras e Artes - Aflag, da União Brasileira dos Escritores - UBE, professora aposentada - UFG)

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