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14 de janeiro de 2014

UM MAR DE LIXO E ESGOTO NOS CANAIS DO CUNHA E DO FUNDÃO, NO RIO DE JANEIRO



Quem chega à cidade dá de cara com mar de lixo e esgoto no Canal do Cunha
Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo
Quem chega à cidade dá de cara com mar de lixo e esgoto no Canal do Cunha Domingos Peixoto / Agência O Globo

Um ano após obras, sujeira ainda toma canais do Fundão e do Cunha

  • Programa ambiental de R$ 194 milhões não mudou cenário degradado
  • Obras de recuperação dos canais terminaram em dezembro de 2012

RIO — Um ano após a conclusão das obras de dragagem dos canais do Fundão e do Cunha e da recuperação do manguezal da área, quem passa pela Linha Vermelha ou pela Ponte do Saber pode constatar que eles ainda estão longe de se transformar em habitat de peixes e caranguejos, como apostava a Secretaria estadual do Ambiente no início do projeto, em 2009. 
Localizados na principal porta de entrada do turismo internacional no Rio, os dois canais são um mar de esgoto e lixo. Segundo o estado, durante os quatro anos foram dragados 2,2 milhões de metros cúbicos de material, numa área de 6,5 quilômetros de extensão. Financiado pela Petrobras em parceria com o governo do estado e a UFRJ, o programa ambiental custou R$ 194 milhões e foi concluído em dezembro de 2012.
Em um sobrevoo de helicóptero feito na semana passada, o biólogo Mario Moscatelli pôde comprovar que o cenário ali ainda é de muita degradação. Próximo à Península do Caju, ele flagrou uma mancha esbranquiçada, que, pela coloração, acredita tratar-se de despejo de produto químico. Segundo Moscatelli, que há 17 anos faz o monitoramento da bacia hidrográfica da Baía de Guanabara por meio do projeto Olho Verde, o fato é uma das muitas evidências de que há morosidade na solução dos problemas de poluição no Rio.
O trabalho, que demorou dois anos a mais que o previsto, amenizou o mau cheiro e melhorou a circulação de água, já que o canal passou a ter maior profundidade com a retirada do lodo que se acumulava no fundo. Mas o problema do lixo e do esgoto continua.
— Em comparação com 2009, a situação está melhor, mas, mesmo assim, continua uma imensa latrina e lixeira, porque o Canal do Cunha, onde deságuam os rios Farias e Jacaré, recebe tudo o que você pode imaginar de esgoto e lixo. Podemos dizer que o Canal é um microcosmo da situação do restante da Baía — diz Moscatelli, que foi responsável pelo replantio do manguezal.
Durante os sobrevoos do projeto Olho Verde, o biólogo já observou de tudo boiando nos canais e rios daquele trecho: sofás, pneus, aparelhos de TV, camas, lixo doméstico e hospitalar, brinquedos de crianças, animais mortos, máquinas de lavar e até corpos.
— Nos dois rios que passam por baixo da Avenida Brasil e têm seus leitos próximos ao conjunto de favelas que margeiam a via, é possível encontrar de tudo. Lá se joga tudo o que ninguém quer mais, e esse lixo acaba sendo levado para a Baía de Guanabara. Parte costuma ficar retida nas margens dos canais — explica Moscatelli.
A situação dos manguezais voltou a piorar nos últimos meses. A área de mangue próxima à Ponte do Saber virou um depósito de resíduos trazidos pelos rios. Há restos de madeira, embalagens de plástico, restos de isopor e até um colchão. O projeto executado pelo governo estadual recuperou 180 mil metros quadrados de manguezais. A contrapartida da UFRJ no projeto de despoluição do Canal do Fundão foi o saneamento da Vila Universitária e a construção da ponte estaiada que liga a Ilha do Fundão à Linha Vermelha, no sentido São Cristóvão, na altura do Canal do Cunha.
O secretário estadual do Meio Ambiente, Carlos Minc, argumenta que o objetivo principal da obra, concluída em 2012, foi alcançado. E argumenta que não estava entre as metas, naquele momento, resolver o problema do lançamento de esgoto nas águas da região.
— O objetivo central de dragar o material, aproximadamente 5 milhões e meio de metros cúbicos, e de plantar 200 mil mudas de manguezal foi alcançado. Com a dragagem e recuperação da área, estaleiros que estavam fechados há cerca de oito anos puderam ser reabertos e voltar a operar.
Responsabilidade agora é da Petrobras
De acordo com Minc, justamente um dos estaleiros que voltou a funcionar, o Inhaúma, passou a ser responsável pela manutenção do manguezal. A secretaria informou que o manguezal ficou sem cuidados “entre três e seis meses.”
— Durante as obras, cabia à Petrobras cuidar da vegetação, mas agora o trabalho cabe ao Estaleiro Inhaúma. Essa foi uma das condições da licença ambiental. Eles estão acertando os últimos detalhes para começar o trabalho — diz Minc, acrescentando que, na sua avaliação, o período em que o manguezal ficou sem os devidos cuidados não foi longo o suficiente para comprometer o resultado do replantio.
O Estaleiro Inhaúma, no entanto, foi arrendado pela Petrobras, empresa que antes era responsável pelos cuidados com o manguezal.
Depois do período de três a seis meses que o secretário do Meio Ambiente classificou de descuido com o manguezal do canal, somente agora a Petrobras pretende fornecer recursos materiais para começar a coleta de resíduos, “para que os trabalhos não fiquem paralisados até a assinatura do convênio com os órgãos ambientais estaduais que permitirão a execução dos serviços de manutenção do Canal do Fundão e da Península do Caju”. 
Por meio de nota, a empresa informou também que as negociações para a celebração do convênio começaram em novembro do ano passado, após o Estaleiro Inhaúma ter recebido a licença de operação. O trabalho paliativo será feito com mão de obra da Fundação Bio-Rio, em conjunto com os recursos que serão disponibilizados pela Petrobras/Estaleiro.
Os ambientalistas, contudo, fazem críticas, lembrando que a falta de investimentos em obras de saneamento pode colocar tudo a perder em breve. As águas dos canais do Fundão e do Cunha recebem o esgoto sem tratamento de favelas do entorno, entre elas a da Maré.
— Ao sobrevoar a Estação da Alegria, que fica na Península do Caju, vemos que metade dos equipamentos estão parados. Tem até mato crescendo dentro dos equipamentos de tratamento de esgoto. Ela opera só com parte da capacidade. E o esgoto que sobra vai para dentro da bacia hidrográfica — diz Moscatelli.
Inaugurada em 2009, a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Alegria, no Caju, retira e trata 2.500 litros de esgoto por segundo da Baía de Guanabara. Segundo a Cedae, a estação funciona perfeitamente e, em alguns dias, a empresa irá lançar um edital de licitação para obras de ampliação de sua capacidade. Com isso, o local passará a processar 5 mil litros por segundo. A data e o valor da licitação não foram informados.
— O esgoto da Ilha do Fundão foi conectado na Estação Alegria, como estava previsto na obra. Já com relação ao esgoto de 200 mil pessoas que vivem nas favela da Maré, teremos a licitação das obras de ampliação desta estação até o final do mês — explica Minc. O GLOBO


 

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