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13 de maio de 2014

SECA NO CANTAREIRA – Julio Cerqueira Cesar Neto

SECA NO CANTAREIRA

 Julio Cerqueira Cesar Neto

A seca no Cantareira se deve à ausência de investimentos pelo governo estadual (Sabesp) em novos mananciais para a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) após a conclusão do próprio Sistema Cantareira há 30 anos, período no qual a população da região aumentou de 12 para 22 milhões de habitantes, ou seja, 10 milhões de pessoas a mais.

Além dos inúmeros alertas dos especialistas sobre as consequências dessa omissão a própria natureza também fez a sua advertência em 2003 promovendo uma estiagem intensa e prolongada que quase leva o sistema ao colapso.

É importante destacar um agravante que certamente tem sua parcela de contribuição na extensão da crise atual: a negligência do governo estadual (Sabesp) permitindo a perda de 70% da cobertura florestal nativa na área da bacia hidrográfica do Sistema Cantareira. Espera-se que a gravidade dessa crise sensibilize o governo a impedir a continuidade desse nefasto processo destrutivo.

O verão seco - Embora se pretenda transferir a causa da crise para São Pedro, o fato é que o fenômeno meteorológico ocorrido faz parte dos ciclos naturais de variação da frequência e intensidade das precipitações que não podem ser ignorados nos projetos dos sistemas de abastecimento de água que têm de ter capacidade para atender os usuários sem provocar nenhuma solução de continuidade no suprimento.

Racionamento - A solução técnica, em termos de gestão do sistema para enfrentar essa crise, é o racionamento – que pode ser complementado por outras medidas, como oferta de bônus nas contas de água para quem economizar água, fixação de limites de consumo com aplicação de multas para quem ultrapassá-los e ampla campanha de esclarecimento e indução à economia de água.
No curto prazo não existem soluções de engenharia para enfrentá-la.

A gerência da crise - Conforme noticiário dos jornais o governador está gerenciando a crise pessoal e politicamente. Em 1º de abril o plano de ação era o seguinte: não fazer racionamento porque ele entende que a medida vai prejudicar a sua reeleição; manter os bônus de 30% nas contas de água daqueles que economizarem 20% durante o mês; volume disponível no sistema: 130 milhões de metros cúbicos; retirar 72 milhões de metros cúbicos em abril e o restante em maio e início de junho (e em consequência o sistema secará em meados de junho); acelerar as obras de retirada de 200 milhões de metros cúbicos do volume morto para serem utilizados a partir de meados de junho e atenderem a demanda até outubro, início do período de chuvas, quando termina o plano de ação; o plano não diz, mas indica que daí para frente as chuvas encherão os reservatórios e o problema acaba.

Comentário: o plano de ação garante o início da Copa e a eleição de 4 de outubro sem racionamento o que o caracteriza como um plano político-eleitoral.

Consequências – Em 4 de outubro teremos um sistema seco e sem volume morto e as chuvas que vierem preferencialmente reencherão o volume morto mantendo o sistema seco pelo menos por um tempo maior que aquele levado para esvaziá-lo; o Plano da Macrometrópole feito pelo governo estadual mostra que a pior estiagem da nossa história ocorreu em 1953/1955, fez uma simulação da sua repetição em cima do Sistema Cantareira e chegou às seguintes conclusões: o sistema atingiria volumes mínimos semelhantes aos já atingidos agora (não fala em volume morto) e demoraria mais de um ano para se recuperar, retirando menos de 15% de sua capacidade nesse período; a situação atual é certamente mais grave (primeiro porque temos que somar a esse tempo de recuperação o tempo necessário para preenchimento do volume morto durante o qual o sistema permaneceria seco e, além disso, o governador tem afirmado que a seca atual é aquela que se constitui na pior da nossa história, maior que a de 1953/1955); repetindo o que disse o presidente da ANA, Vicente Andreu, em recente entrevista, o pior ainda está por vir; para dar uma medida do que isso representa lembro os seguintes números relativos ao sistema de abastecimento da RMSP (sem falar na situação da Bacia do Piracicaba PCJ): demanda atual, 82 metros cúbicos x segundo; capacidade dos mananciais existentes incluindo o Cantareira, 72 metros cúbicos x segundo; idem sem o Cantareira, 39 metros cúbicos x segundo; observando esses números junto com as conclusões da simulação da estiagem de 1953/1955 no Cantareira, verifica-se que a  partir de outubro teremos uma situação realmente dramática. A disponibilidade de água para os próximos anos é menor que a metade das nossas necessidades!

É impressionante a desproporção entre o tamanho e gravidade da situação e a modesta ação do governador.
A grande preocupação - Acredito que o exposto não deixe dúvidas sobre a extrema gravidade do problema. Mas apenas constatá-la não é suficiente, será preciso de imediato começar procurar como enfrentá-lo.

Partimos de premissas que dão uma medida das dificuldades a serem superadas: embora a solução do problema envolva intervenções de grande porte e alta complexidade, cujos prazos de execução são longos, será necessário também encontrar formas para minimizar as enormes dificuldades que a região já está sentido e se agravarão no médio prazo. De outro lado, o governo estadual, que é o responsável pela liderança e condução do processo, não está preparado – e diria nem disposto a enfrentar tamanho desafio, pois deixou a situação chegar a esse ponto e apresentou um plano político que não resolve nada, apenas empurra o problema para daqui a seis meses.

Desde que haja vontade política os desafios de longo prazo terão solução normalmente. Porém, os de curto e médio prazo exigirão muita competência e criatividade.
___________________

* Julio Cerqueira Cesar Neto é engenheiro, consultor em saneamento e meio ambiente, membro do Conselho de Meio Ambiente da Fiesp e associado do Instituto de Engenharia
E-mail: julioccesar@uol.com.br

(notícia enviada pelo Professor Jarmuth Andrade)



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29 de abril de 2014

A partir de outubro, São Paulo ficará ao menos seis meses com o Sistema Cantareira seco, prevê engenheiro


Engenheiro Julio Cerqueira César Neto na reunião do Cosema
Foto: Tâmna Waqued/Fiesp


A partir de outubro, São Paulo ficará ao menos seis meses com o Sistema Cantareira seco, prevê engenheiro

22/04/2014

Para conselheiro da Fiesp, Júlio Cerqueira César Neto, não há outra solução, do ponto de vista técnico, que não seja o racionamento de água para enfrentar a crise do Sistema Cantareira

São Paulo vai chegar à primeira semana de outubro com o Sistema Cantareira seco, sem volume morte, quantidade de água localizada em uma região mais profunda do reservatório, e com as chuvas do período ainda em sua fase inicial, incapazes de reabastecer o reservatório antes dos seis meses, diagnosticou nesta terça-feira (22/04) o engenheiro Júlio Cerqueira César Neto.

“Estamos em uma situação em que temos que nos conscientizar. Vamos ter seis meses, depois de outubro, sem o Sistema Cantareira. E como os outros sistemas também não estão na plenitude de sua capacidade, vamos ter uma restrição de abastecimento de mais de 50%”, afirmou Cerqueira César Neto. “Imagine uma região desse porte com uma economia de 50% do sistema por pelo menos por seis meses que é enquanto se enche o volume morto”, completou o engenheiro.

Ao participar da reunião do Conselho Superior de Meio Ambiente (Cosema) da Federação das Indústrias do Estado de Saulo (Fiesp), Cerqueira César Neto afirmou que a única solução para contornar a crise de abastecimento do principal reservatório de água da cidade é o racionamento.

“Sob o aspecto técnico, não há dúvida que a única solução a curto prazo é o racionamento. A engenharia não tem solução a curto prazo para esse problema”, explicou.

Neto avaliou que a crise de abastecimento pode se estender por até um ano e meio, já que, segundo o engenheiro, o Sistema Cantareira demora um ano para se recompor desde que sejam retirados dele menos de 15% da sua capacidade. “Vamos ter um ano e meio em que a cidade vai ter a possibilidade de menos da metade da água que necessita. Vai faltar água na casa, na indústria, no comércio. Todo o sistema da cidade será afetado com essa dificuldade e não temos de onde tirar essa água”.

O Sistema Cantareira fornece água para mais de 8 milhões de pessoas na Grande São Paulo e atingiu níveis menores do que 12% nas últimas semanas, recorde de baixa. Segundo Neto, essa crise “vai exigir de nós competência e criatividade que ainda não demonstramos”.

Segurança hídrica

Engenheiro e conselheiro da Fiesp, Neto afirmou que os projetos de abastecimento de água de qualquer cidade devem prever fatores cíclicos, inclusive variações extremas de clima que “são coisas absolutamente naturais e existem no Brasil e no mundo inteiro”.
“Os sistemas têm de ter segurança hídrica e o nosso sistema não tem isso. E a causa fundamental dessa seca é a absoluta falta de investimento do governo em novos sistemas de abastecimento nos últimos 30 anos”, criticou.

Segundo ele, a população de São Paulo aumentou em 10 milhões desde a década de 1990 enquanto os mananciais são os mesmos. “Não são suficientes para atender com segurança hídrica. A consequência só poderia ser essa”.
“A própria natureza fez o seu próprio alerta. Em 2003 ela produziu uma estiagem prolongada e nem esse alerta da natureza foi suficiente para mudar a condição”, afirmou Cerqueira César Neto.

Além de comentar a crise do Sistema Cantareira, o engenheiro apresentou, durante o encontro, seu livro “Um Estadista Urgente – São Paulo está precisando”, que ainda não foi lançado.

Na obra, ele analisa 12 itens da pauta pública na região metropolitana de São Paulo: abastecimento de agua, esgoto, poluição das águas, poluição do ar, enchentes, habitação, transporte, gestão metropolitana, gestão de recursos hídricos, comportamento da Sabesp, educação, saúde, e segurança pública.

“Nas minhas reflexões em torno dessa situação cheguei à conclusão que todos esses itens estão indo de forma negativa e não é pouco”, disse Neto. “Da minha parte eu cheguei a uma conclusão: de 1990 para cá, os nossos governos deixaram de governar e a nossa sociedade deixou de reclamar e exigir os seus direitos”, analisou.

A reunião do Cosema foi presidida pelo presidente do conselho, Walter Lazzarini.
Alice Assunção, Agência Indusnet Fiesp


Julio Cerqueira Cesar Neto



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