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17 de janeiro de 2009

BUEIRO NÃO É LATA DE LIXO - Crônica da Revista Envolverde


Crônica: Bueiro não é lata de lixo

Por Soraia Nigro* - Envolverde - 16/01/2009

Conscientização e respeito ao próximo independe de classe social.

Numa dessas manhãs preguiçosas de segunda-feira, presenciei uma cena insólita, parada com meu carro no farol. Não sei se insólita é a palavra. Afinal, talvez a cena não seja tão rara quanto imagino.

Fiquei alguns momentos chocada, tentando digerir a cena que vi. Falo de uma senhora distinta que andava com seu belo cachorrinho pelas ruas. Em determinado momento ela recolhe devidamente as fezes do animal e coloca no saquinho que carregava consigo. Até aí tudo perfeito. Mas, para minha surpresa, dá um nó e joga no bueiro. Isso mesmo! Usa o bueiro como uma boa e velha lata de lixo, sem o menor pudor.

Acho que dona “Lulu” - nome que imaginei para a senhora distinta que logo cedo caminhava com seu cãozinho - faltou a uma das aulas de civilidade.

Pensei até que seria melhor ela ter deixado as fezes se decomporem na calçada do que entupir mais um bueiro da cidade com saco plástico. Afinal, dos males, pisar na merda seria o menor.

Fiquei me perguntando em que mundo dona “Lulu” vive. Será que seu horizonte se resume as caminhadas matinais e seu cãozinho? Será que não acompanhou as recentes tragédias em Santa Catarina, Minas e Rio?

Ela não deve saber que as “águas de março” por aqui começam a cair em janeiro...

Nada contra caminhadas ou animais de estimação. Ao contrário, quando posso, adoro caminhar pelas mesmas ruas que dona “Lulu” caminha.

Quanto aos cãezinhos, fazem parte da estrutura familiar da vida moderna. As pessoas vivem cada vez mais isoladas em seus apartamentos e o já consagrado melhor amigo do homem vem ganhando status de membro da família, com direito a visitas periódicas ao PET, comida balanceada e caminhadas matinais.

A indignação dessa munícipe aqui é com o saco de fezes que vai entupir o bueiro.

Sei que uma das causas das enchentes em São Paulo é a grande impermeabilização da metrópole e que o problema exige investimentos estruturais como construção de piscinões e reservatórios, canalização de córregos e rios e o aprofundamento da calha do Tietê. No entanto, a cidade carece de medidas não estruturais que são tão importantes quanto essas obras, mas que dependem da participação da população.

Limpeza e conservação de bueiros, calçadas, terrenos baldios e quintais podem fazer toda a diferença e dependem mais da conscientização da população do que de verba.

Quando a chuva vem, o rio transborda e os bueiros entupidos não dão conta. A cidade pára. No meio do caos, a televisão registra imagens do lixo boiando nas ruas cheias da periferia, mas a dimensão do problema parece ser bem maior.

* Soraia Nigro é jornalista, pós-graduada pela ECA/USP, e trabalha com comunicação corportativa.

(Envolverde/O autor)

© Copyleft - É livre a reprodução exclusivamente para fins não comerciais, desde que o autor e a fonte sejam citados e esta nota seja incluída.

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2 comentários:

  1. Salve Professor!

    encontrei seu blog através do google, pelo mesmo motivo que o senhor, presenciei meus 2 vizinhos fazendo o mesmo, e agora fiquei sabendo que eles fazem isso todos os dias. O que fazer?qual órgão procurar para denunciar?

    forte abraço

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  2. Olá Rico Sant'Anna

    A gente vê cada um por aí que dá até vontade de dar uns safanões...
    Como isso não é politicamente correto e pode até dar cadeia prá gente, o melhor é procurar a fiscalização de posturas de sua Prefeitura Municipal e informar as características da "poluidora de bueiros" e o local onde ela desfila com o seu cão, horário aproximado, etc e solicitar que façam as devidas notificações e multas de Lei.
    Não vejo outra alternativa!
    Caso sua cidade não tenha esse tipo de fiscalização, quando presenciar esse "feito da meliante" chegar nela e falar que vc como cidadão não concorda, pois assim ela vai contribuir para entupir o bueiro e causar danos para todos os moradores. Se ela engrossar...engrosse também, sem violência, é claro! Ela vai entender!
    Espero!

    Abração

    prof. jarmuth

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