Carta de protesto da etnia Munduruku ao Presidente da República contra a construção de cinco mega hidrelétricas na bacia do Rio Tapajós
“Não somos peixes para morar no fundo do rio, nem pássaros, nem macacos para morar nos galhos das árvores. Nos deixem em paz”, clamam os índios Munduruku, em carta ao Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, contra a construção de cinco hidrelétricas na bacia do rio Tapajós.
Missão São Francisco do Rio Cururu
06 de novembro de 2009
Exmo. Senhor Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva Exmo.
Senhor Ministro das Minas e Energia, Edson Lobão e demais
Autoridades responsáveis pelo setor energético do Brasil.
Nós comunidade indígena, etnia Munduruku, localizada nas margens do Rio Cururu do Alto Tapajós, em reunião na Missão São Francisco, nos dias 5 e 6 de novembro, viemos por meio deste manifestar à vossa excelência nossa preocupação com o projetof ederal de construir cinco barragens no nosso Rio Tapajós e Rio Jamanxim.
Para quem vai servir? Será que o governo quer acabar todas as populações da bacia do Rio Tapajós? Se apenas a barragem de São Luis for construída vai inundar mais de 730 Km².
E daí? Onde vamos morar? No fundo do rio ou em cima da árvore?
Aximãyu’gu oceju tibibe ocedop am. Nem wasuyu, taweyu’gu dak taypa jeje ocedop am. (não somos peixes para morar no fundo do rio, nem pássaros, nem macacos para morar nos galhos das árvores. Nos deixem em paz. Não façam essas coisas ruins. Essas barragens vão trazer destruição e morte, desrespeito e crime ambiental, por isso não aceitamos a construção das barragens. Se o governo não desistir do seu plano de barragens, já estamos unidos e preparados com mais de 1.000 (mil) guerreiros, incluindo as várias etnias e não índios.
Nós, etnia Munduruku queremos mostrar agora como acontecia com os nossos antepassados e os brancos (pariwat) quando em guerra, cortando a cabeça, como vocês vêem na capa deste documento. Por isso não queremos mais ouvir sobre essas barragens na bacia do Rio Tapajós.
Por que motivo o governo não traz coisas que são importantes para a vida dos Munduruku, para suprir as necessidades que temos, como educação de qualidade, ensino médio regular, escola estadual, posto de saúde, etc.
Já moramos mais de 500 anos dentro da floresta amazônica, nunca pensamos destruir, porque nossa mata e nossa terra são nossa mãe.
Portanto não destruam o que guardamos com tanto carinho.
Fonte: Instituto Humanitas Unisinos /ONG CEA
INSTITUTO SOS RIOS DO BRASIL
ÁGUA - QUEM USA, CUIDA!
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