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26 de fevereiro de 2013

Expedição Anaconda chega a Barcelos depois de 14 pontos de parada em uma semana de navegação – ISA

A ideia é refazer parte da rota mítica pela qual os ancestrais chegaram aos lugares onde hoje vivem os diferentes povos tukano no noroeste amazônico, registrando as narrativas orais de conhecedores tradicionais, dos lugares sagrados e míticos de seus povos. Depois de uma semana navegando pelo Rio Negro e parando em diversos locais apontados pelos conhecedores indígenas como lugares sagrados, ou “casas de transformação”. Nesta segunda-feira, 25 de fevereiro, a expedição chegou à cidade de Barcelos, no Médio Rio Negro.


Expedição Anaconda no Rio Negro. De 18/02 à 11/03
Rio Negro SocioambientalA expedição partiu de Manaus na terça-feira, 19/02, depois de visitar dois lugares importantes que ficam no entorno da cidade: o ponto de encontro das águas do Rio Negro com o Rio Solimões e a foz do “igarapé da sabedoria”, conhecido como Educandos, na região central de Manaus. Segundo os conhecedores, estes foram locais por onde seus primeiros ancestrais passaram ao longo da viagem de transformação e obtiveram certos poderes e conhecimentos importantes para a futura vida de seus descendentes.
Até Barcelos foram 14 pontos de parada, muitos deles em locais onde hoje há comunidades. Também foram visitados alguns lugares aonde existem gravuras rupestres (petroglifos), entre Novo Airão e Barcelos. O roteiro dos lugares importantes a serem visitados e a dinâmica do registro e gravações das narrativas dos conhecedores a respeito desses lugares e da história de seus primeiros ancestrais foram conversados e acordados entre todos antes da partida. O desafio colocado era o de tentar localizar geograficamente lugares que os velhos muitas vezes só conhecem em pensamento, através de seus nomes e dos poderes que ainda hoje emanam.
Cenas do início da navegação...
...quando a expedição partiu de Manaus

Outro ponto discutido entre os conhecedores foi a necessidade de cada um respeitar a fala do outro e as versões narradas por cada grupo. Mas todos enfatizaram também a importância de se estabelecer um consenso mínimo sobre os lugares mais importantes e os principais eventos aí ocorridos no tempo em que os seus primeiros ancestrais subiram o Rio Negro a bordo da “canoa de transformação”.
Até aqui os conhecedores têm destacado o valor dessa experiência na medida em que constitui uma oportunidade de conhecerem estes lugares e este caminho percorrido por seus primeiros ancestrais no início dos tempos, lugares e caminhos que fazem parte da história e da vida presente e futura destes povos.
Paradas nos lugares...
...por onde passaram os ancestrais

Higino Pimentel Tenório Tuyuca, um dos organizadores e pensadores da expedição, destacou que os conhecedores estão agora experimentando um novo modo de contar e atualizar no presente a história de seus ancestrais: as narrativas não estão mais apenas na memória, no pensamento dos velhos, mas vão se fixando também nos mapas, nos aparelhos de GPS, no registro escrito e nos gravadores e câmeras de filmagem. Por isso mesmo, disse Higino, é preciso ser cuidadoso e reconhecer que a localização exata dos lugares por onde os seus ancestrais passaram nestes tempos primordiais é algo difícil de se estabelecer hoje, já que o mundo atual é muito diferente deste mundo ancestral acessado pelos kumus (sábios benzedores) em pensamento.
Valorização cultural e preservação ambiental
Há sem dúvida sinais, de acordo com os conhecedores, que permitem reconhecer algumas das “casas de transformação”, como os próprios petroglifos ou certas formações rochosas relacionadas a eventos ocorridos nestes primeiros tempos, além de praias, estirões e outras marcas na paisagem. Mas os velhos dizem que o mundo ancestral estava inscrito em uma outra dimensão espaço-temporal, mais fluida e transformadora do que esta em que hoje vivemos. Nesse sentido se vê que para o manejo que os conhecedores fazem deste corpus narrativo, tão importante quanto os lugares são os caminhos, o fluxo do rio, a rota que levou estes primeiros ancestrais a alcançarem a um só tempo a forma humana e o centro do mundo, o território onde hoje vivem os seus descendentes.
Narrativas são filmadas e gravadas
O barco ancorado em uma das paradas

A situação de degradação de algumas destas paisagens e lugares importantes e as marcas da urbanização e da história mais recente se sobrepondo aos sinais desta história ancestral, é algo que também tem chamado atenção dos conhecedores e outros participantes da expedição. A pergunta que fica é em que medida essa experiência de documentação dos lugares sagrados e dos saberes a eles associados pode colaborar para oferecer aportes à políticas de preservação e proteção dessas áreas, que leve em conta os conhecimentos e a natureza das relações que os povos indígenas possuem com estas paisagens. Este é um dos assuntos que vem sendo colocados em pauta e discutidos entre os participantes da expedição nas rodas de conversa que acontecem cotidianamente dentro e fora do barco.
A expectativa é que toda esta experiência suscite idéias e propostas para a construção de um programa binacional (Brasil-Colômbia) de documentação e salvaguarda de lugares sagrados no Rio Negro que alie valorização cultural com preservação ambiental.
Há ainda muita história pela frente. Acompanhem!

ISA, Aline Scolfaro.

http://www.socioambiental.org/nsa/detalhe?id=3728

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