DIA DA ÁGUA – NÃO ERA ESTE QUE EU QUERIA

Não era este,

Dia da Água que eu queria,

Para minha gente sofrida,

Muito ordeira e trabalhadora,

Esperançosa e confiante,

Que reza para os santos, que lê a Bíblia,

Que ora de joelhos e acredita,

Nos dias melhores prometidos...

Que hoje sofre angustiada,

Ameaçada por prolongada estiagem,

Por racionamentos velados da preciosa água,

Por ameaças de apagões de energia elétrica...

Com seus governantes em pé-de-guerra,

Brigando por míseros 5m3/s de água,

Para encher reservatórios vazios e torneiras secas!

Não era este,

Dia da Água que eu queria,

Com gente fugindo apavorada dos alagamentos e

Enchentes monstruosas,

Provavelmente provocadas por

Obras duvidosas e preocupantes,

Que detiveram o curso de nossos rios,

Sem os estudos sérios e necessários

E que hoje destroem tudo,

Alagam os sonhos, inundam as plantações,

Provocam desabamentos, destruição,

Acidentes e até mesmo lamentáveis mortes,

De gente ribeirinha, que sempre

Conviveu pacificamente com o rio,

Plantou e colheu suas roças de subsistência,

Pescou os seus peixes, criou os seus filhos,

Viveu sua vida humilde e simples,

Remando sua canoa, nas águas que tanto ama!

Não era este,

Dia da Água que eu queria,

Para a gente sofrida do semiárido nordestino,

Que de tanta falta de água,

Até já sabe chorar lágrimas secas,

De dor, de fome, de desolação,

De tanto ouvir promessas e mentiras de soluções

Miraculosas, de transposição do rio, que nunca acontece,

De obras mal feitas e desfeitas antes mesmo de usadas,

De irrigações e açudes que servem sempre

As grandes empresas agrícolas, a latifúndios milionários,

As fazendas de poderosos, de políticos, de coronéis do sertão.

Até as cisternas que aprenderam a fazer,

Nos concorridos mutirões familiares e que seguravam

As águas de chuva, por todo o verão,

Foram enganosamente substituídas por cisternas plásticas,

Que derretem e se deformam,

No sol causticante do nordeste brasileiro!

Não era este,

Dia da Água que eu queria,

Para tanta gente trabalhadora,

Que frente a terrenos, casas e apartamentos,

Tão caros e proibitivos, com tanta ganância e

Especulação imobiliária nas grandes cidades,

São confinados nas várzeas dos rios,

Nas áreas alagáveis, nas palafitas dos mangues,

Das praias do mar e dos rios, cheios de doenças

Das águas poluídas por esgotos e lixos, pelos

Animais pessonhentos, que dizimam a saúde

Dos seus filhos,

Que vivem sem água, sem esgotos, sem coleta

De lixo, sem as mínimas condições humanas...

Ou então, são incentivados por políticos inescrupulosos,

Fiscais corruptos e imobiliários desonestos, a ocupar

As áreas de risco, penduradas nos morros,

Sujeitos a desmoronamentos e escorregamentos,

Em qualquer chuva mais forte,

Perdendo o muito pouco que possuem,

Ficando por meses confinados em alojamentos

Improvisados, lotados, sem recursos,

Numa vida insuportável

Não era este,

Dia da Água que eu queria,

Com tantos rios, córregos, lagos e aquíferos

Poluídos, contaminados e assoreados,

Com suas matas ciliares destruídas,

Com tanto lixo, esgotos sem tratamentos,

Agrotóxicos e produtos químicos,

Lançados em suas águas,

Por quem deveria evitá-los,

Fiscalizá-los,

Multá-los,

Tratá-los e

Preservá-los!

Não era este,

Dia da Água que eu queria,

Com tanto descaso e falta de interesse,

Com tanta omissão e falta de empenho,

De Poderes Legislativos e Executivos que ignoram e

Não se preocupam com nosso meio ambiente...

Com nossos recursos hídricos maltratados,

Com tantas obras prometidas, não iniciadas ou inacabadas...

E o que é muito pior, segundo dizem,

OBRAS SUPERFATURADAS, MAL PLANEJADAS, NÃO REALIZADAS

E sua população esperançosa, totalmente abandonada!

Não era este,

Dia da Água que eu queria,

Com tanta floresta destruída, queimada, derrubada...

Com tanta mata ciliar cortada, com tanto verde incendiado...

Até nosso CÓDIGO FLORESTAL molestado,

Alterado, deturpado, para servir e atender os

Poderosos produtores agrícolas e criadores de gado,

Que mandam e desmandam em tudo,

E “tocam o baile, de acordo com suas músicas”,

Passando seus possantes tratores por tudo que vive,

Por tudo que preserva, por tudo que é verde!

Não era este,

Dia da Água que eu queria,

Com nosso belo Pantanal e Amazônia,

Nossas ricas bacias hidrográficas ameaçadas

Por centenas de contensões de seus rios,

Por pequenas centrais de destroem seus rios,

Sua fauna, sua flora, sua beleza natural,

Suas águas límpidas de muita qualidade e de

Grande potencial turístico, inundados, destruídos,

Afastando os indígenas, os homens do campo,

Os atingidos por barragens, os pequenos e esquecidos

Grupos ribeirinhos, que sempre viveram dos rios...

Não era este,

Dia da Água que eu queria,

Com tanto lixo e plásticos nos rios, nas lagos, nas praias

E até mesmo, no mar...com derramamentos de petróleo e

Produtos químicos,

Assustando os atletas olímpicos, os velejadores e turistas que

Gostam de navegar e curtir nossas belezas naturais...

Com tantas espécimes de peixes e organismos marinhos

Destruídos, ameaçados, com a pesca reduzida a cada dia,

Com milhares de animais marinhos sendo mortos pelo lixo e

Poluição nos rios e Oceano, nossas grandes fontes de alimentos!

Creio que eu, meus amigos ambientalistas e educadores ambientais,

Minhas colegas educadoras e todos aqueles que se preocupam com

nossos recursos hídricos precisam se dedicar mais e se empenhar em

 melhor educar nossa gente a aprender a amar, valorizar e preservar nossos recursos naturais e principalmente aprender a escolher melhores dirigentes e políticos, mais competentes, mais honestos, mais empenhados em conhecer e preservar nosso meio ambiente, com mais vontade política e mais amor à natureza!

Que possamos nos esforçar mais, para num futuro bem próximo, termos a satisfação de celebrar com alegria o DIA MUNDIAL DA ÁGUA que queremos!

     

ÁGUA – QUEM PENSA, CUIDA!

Prof. Jarmuth Andrade

Físico, Ambientalista e Blogueiro

BLOG SOS RIOS DO BRASIL

ÁGUA - QUEM PENSA, CUIDA!