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21 de março de 2014

JÁ COMEÇOU NA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO A CHAMADA "GUERRA DA ÁGUA"

Imagem: http://www.assisramalho.com.br/

A Guerra da Água já começou

"Não importa se você é de direita ou de esquerda, tucano ou petista, todo mundo precisa de água para sobreviver. E o fato crucial nessa discussão é que a água está acabando, e muito em breve não vai ter mais de onde tirá-la". O comentário é de Herton Escobar em artigo publicado no portal do jornal O Estado de S. Paulo, 20-03-2014.
Jornal O Estado de S. Paulo, 20-03-2014.
Por Herton Escobar
Há muitos anos ouvimos falar sobre a tal “guerra da água” que está por vir, quando os recursos hídricos se tornarem tão escassos que pessoas, municípios, estados e países começarão a lutar por eles, da mesma forma que lutam por petróleo, gás e outros recursos minerais essenciais ao seu desenvolvimento (ou, no casa da água, essencial à vida). Pois então: sinto informar, mas essa guerra já começou, aqui mesmo na região metropolitana de São Paulo, bem debaixo das nossas torneiras. Na verdade, já começou há muitos anos; faltava apenas uma grande seca para trazer o problema à tona por completo e colocá-lo à vista de todos.
O nível dos reservatórios que compõem o Sistema Cantareira vem caindo há vários anos; de praticamente cheios em 2010 para 76% em 2012 e para menos de 15% agora, em 2014. Enquanto que a demanda por água da região abastecida por eles só cresceu no mesmo período, com o aumento da população e o crescimento das indústrias.
Ou seja: dizer que está faltando água hoje porque não choveu ontem é tão correto quanto dizer que os alagamentos da cidade são culpa de um bueiro entupido. O problema, na verdade, é muito mais complexo do que se enxerga na superfície. A seca foi só a gota d’água que faltava. E as autoridades sabem disso.
“Não dá para olhar para o céu agora e dizer que está faltando água porque não está chovendo; é um problema anunciado há muito tempo”, disse, na semana passada, o diretor do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) de Guarulhos, Afrânio de Paula Sobrinho, depois de o governo do Estado anunciar que ia reduzir o volume de água destinado ao município pela Sabesp. O risco de desabastecimento da região metropolitana de São Paulo, segundo ele, já é conhecido e discutido no Estado desde 2004. “Agora, me diga, que obras foram feitas nesse período (para evitar o problema)?”.
Acusada de não economizar água o suficiente, Guarulhos passou a receber 15% menos água da Sabesp, e 850 mil habitantes da cidade agora vivem em esquema de racionamento: um dia com água, outro sem. EGuarulhos não pode fazer nada a respeito, pois não tem recursos hídricos próprios e quem manda na água do Estado é a Sabesp.
Assim funciona a Guerra da Água. As batalhas não são travadas com espadas ou metralhadoras, mas com canetadas políticas e econômicas. Na hora que a coisa aperta e as torneiras ameaçam secar, o governo do Estado (tucano) manda reduzir o fornecimento de água para Guarulhos (petista), mas não para a capital São Paulo (que também é governada pelo PT, mas tem muitos milhões de votos e de PIB a mais do que Guarulhos).
Mas não se prenda muito a esse enrosco político … Não importa se você é de direita ou de esquerda, tucano ou petista, todo mundo precisa de água para sobreviver. E o fato crucial nessa discussão é que a água está acabando, e muito em breve não vai ter mais de onde tirá-la. Até agora foi fácil ignorar o problema e continuar a tomar banhos longos, postergar obras e lavar a calçada com esguicho, pois, apesar da queda no nível das represas, ainda havia água suficiente para abastecer o desperdício da maioria. Mas eis que apareceu uma seca, e a Cantareira secou. E agora?
Guarulhos X São Paulo foi a primeira batalha. Agora começa a segunda, São Paulo X Rio de Janeiro, pelas águas do Rio Paraíba do Sul.
Soluções temporárias
Para evitar o racionamento (e o desgaste político) na capital, o governo paulista anunciou que vai quebrar o galho desviando água de outros sistemas e comprando bombas para sugar a água que está no chamado “volume morto” da Cantareira. Pode ser que isso evite maiores problemas por enquanto, mas não se iluda: o problema do abastecimento de água em São Paulo é grande, chegou para ficar, e não vai ser resolvido assim tão facilmente, com uma bomba.
Se não voltar a chover — e chover muito! — sobre o sistema Cantareira ainda neste verão, vamos tirar água de onde até o fim do ano? Se o verão acabar, e o nível do sistema estiver em 15%, é com 15% que vamos ficar até o verão de 2015. E se dermos o azar de também não chover no verão de 2015, vamos viver o mesmo problema tudo de novo, de forma ainda mias crítica, pois o “volume morto” que vai ser consumido agora não estará mais lá para salvar a pátria uma segunda vez. Economizar água também não será uma opção, pois não haverá mais o que economizar.
É fato: uma hora, a água vai acabar. E essa hora não está longe!
No longo prazo, fala-se também em trazer água do Vale do Ribeira, ao sul do Estado (uma das áreas mais preservadas de Mata Atlântica do País), para abastecer a capital. E as populações e o meio ambiente dessa região, como ficam? Pode ser que a água desviada não faça tanta falta hoje, mas um dia vai fazer. E aí, quem vai ficar com ela? A guerra continua.
Neste sábado, dia 22, é o Dia Mundial da Água. Vale botar a mão na cabeça e refletir um pouco sobre essa situação que estamos vivendo; parar de botar a culpa no clima e assumir nossa própria responsabilidade sobre o problema. Sabe aquele ditado urbano que diz “você não está no trânsito, você é o trânsito”? Pois então, o mesmo conceito vale para a água: A água não está acabando, nós é que estamos acabando com ela! Somos ao mesmo tempo as vítimas e os culpados por essa guerra.

COMENTÁRIOS
Ricardo Ramalho - Instituto Terraviva
João Suassuna:
Como outras questões socioambientais, tão dramáticas como a relatada,
imaginávamos que nossa geração não alcançaria, embora tivéssemos consciência
de que mais tarde, certamente, aportaria. Chegaram muito antes do que
esperávamos, infelizmente. O excelente artigo publicado, talvez por
definição de foco, deixa de abordar pontos cruciais que nos conduziram a
essa verdadeira calamidade. É necessário se analisar outros ângulos como a
política de concentração populacional nas megalópolis como São Paulo, a
intensa impermeabilização das áreas urbanas, o "desaparecimento"  por
drenagem e/ou poluição dos, outrora caudalosos e saudáveis, rios urbanos e
outras mazelas de nosso absurdo modelo civilizatório.

Ecossaudações

Ricardo Ramalho
por João Suassuna — Última modificação 21/03/2014 15:52

SAIBA MAIS

ANA lança rede para monitorar qualidade da água no país

Rede Nacional de Monitoramento de Qualidade das Águas (RNQA) será lançada hoje (20) pela Agência Nacional de Águas (ANA), às 10h, na sede da instituição. A rede vai monitorar, avaliar e disponibilizar à sociedade informações a respeito da qualidade das águas superficiais e gerar conhecimento para subsidiar a gestão dos recursos hídricos no Brasil. Além disso, vai identificar áreas críticas em termos de poluição hídrica e apoiar ações de planejamento, outorga, licenciamento e fiscalização das águas.
A reportagem é da Agência Brasil - EBC, 20-03-2014.
Durante o evento, será assinada carta de compromisso para implementação da rede entre a ANA e as 16 unidades da Federação que vão receber medidores acústicos de vazão (83), sondas multiparamétricas de qualidade da água (46), caminhonetes 4×4 com baú adaptado (30) e barcos com motor de popa (25) para começar o trabalho. Segundo a agência, a meta é que até dezembro de 2020 todos os estados e o Distrito Federal tenham um total de 4.452 pontos de monitoramento.
Até junho deste ano, 16 estados receberão os equipamentos e o treinamento para a operação, o que resultará na implementação de 1.200 pontos coincidentes com as redes estaduais já existentes e no início da expansão da rede no país.
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/529448-ana-lanca-rede-para-monitorar-qualidade-da-agua-no-pais

BLOG SOS RIOS DO BRASIL
ÁGUA - QUEM PENSA, CUIDA!

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