São Paulo pode parar por falta de água
25/03/2014
Artigo assinado por Malu Ribeiro*, originalmente publicado no Brasil Post –
A disponibilidade de água na Região Metropolitana
de São Paulo é de 200 mil litros/habitante/ano,
o que representa 1/10 do valor
indicado pela Organização das Nações Unidas (ONU), que considera
a disputa por
água entre a capital e a região de Campinas uma das mais graves crises por
escassez
hídrica do mundo.
O Sistema Cantareira, responsável por 47%
da água que abastece a Grande
São Paulo, chegou a 14% da sua capacidade, bem
abaixo do necessário para
atender a demanda de milhões de pessoas, da
industrial e do agronegócio
nas Regiões Metropolitanas de São Paulo, Campinas e
Piracicaba. Por falta
de chuvas, alto consumo, poluição e desperdício não há
água para todos e
a sustentabilidade da região está ameaçada.
Se não chover nos próximos dias e a captação no
Cantareira continuar nos
volumes atuais, de 31 m³/s para a Grande São Paulo e 3
m³/s para o interior,
a água dos reservatórios acabará em 80 dias, alertam os
Comitês de Bacias
Hidrográficas.
A disponibilidade de água na Região Metropolitana
de São Paulo é de 200 mil
litros/habitante/ano, o que representa 1/10 do valor
indicado pela Organização
das Nações Unidas (ONU), que considera a disputa por
água entre a capital e
a região de Campinas uma das mais graves crises por
escassez hídrica do mundo.
A outorga – autorização
legal para a Sabesp captar água do Sistema Cantareira –
vence em agosto. A
renovação está em discussão na Agência Nacional de Águas
(ANA) e no
Departamento de Água e Energia do Estado de São Paulo (DAEE).
Mas as audiências
públicas devem ser adiadas em virtude da grave seca que deve
acirrar o
conflito. Organismos de bacias querem reduzir o volume da água
concedido à
capital para aumentar a disponibilidade no interior. As condicionantes
para a
outorga já viraram objeto de inquérito do Ministério Publico.
O Sistema Cantareira é essencial não apenas para
o abastecimento público da
Grande São Paulo, mas para o uso múltiplo da água
nas regiões metropolitanas
de Campinas, Piracicaba, Jundiaí, Sorocaba e Baixada
Santista e algumas cidades
de Minas Gerais.
Essa região tem uma população superior a 30,8
milhões de habitantes, o que
corresponde a 75% do Estado e 180 municípios, e
reúne importantes
empreendimentos industriais, agrícolas e de serviços
responsável por 83% do
PIB Paulista ou 28% do PIB do país.
Segundo estudo estratégico encomendado há 8 anos
pelo Governo de São Paulo
ao DAEE, essa região, considerada a mais rica do
Brasil, é um polo atrativo de
desenvolvimento limitado pela baixa
disponibilidade de água.
Sua população consome 223 m³/s de água e, se
crescer de acordo com as previsões
para os anos de 2018 e 2035, precisará de
mais 60 m³/s – o equivalente a mais dois
Sistemas Cantareira.
A situação impõe um alerta aos municípios sobre a
necessidade urgente de restrições
de uso do solo e rigor no planejamento
territorial. Mostra que é preciso proteger
as Unidades de Conservação de
Camanducaia, Jaguari, Fernão Dias, Cantareira, Japi,
Cabreúva, Itapeti e o
Parque Estadual da Serra do Mar que garantem a manutenção
da água e recuperar
as Áreas de Preservação Permanente.
É urgente combater o desperdício e a poluição dos
rios. A média do desperdício na rede
pública no país é de 40%. São Paulo
reduziu as perdas a 25,7%, o que ainda é muito para
uma região que não tem
água.
O desperdício não está apenas no setor público,
que tem sido o foco das atenções por
conta da outorga do Cantareira. Segundo a
ANA, a agricultura é responsável por 70% do
consumo da água no país e é
recordista de desperdício na irrigação. Embora seja uma região
industrializada
e urbanizada, a bacia do Paraná, que abriga essas regiões, conta com 1,8 milhão
de hectares irrigados e os índices de desperdício passam de 60%. A indústria
consome 7%,
desperdiça menos e há anos paga pelo volume de água que capta. O
cidadão é responsável por
10% do desperdício. Portanto, todos temos de saber o
tamanho da nossa pegada hídrica.
O combate a vazamentos e “gatos” (captações
clandestinas) deve ser permanente, como
parte da estratégia para garantir a
segurança hídrica e evitar o racionamento, assim como
campanhas educativas e
fiscalização.
A poluição impede o uso da água dos rios Tietê e
Pinheiros até para fins menos nobres.
E tratar esses rios como descarga é o
pior dos desperdícios. Buscar água limpa em outras
bacias é inviável. A
captação na bacia do Ribeira, por meio do Sistema São Lourenço,
executado por
parceria público privada, custa R$ 340 milhões/m³/s. Sua capacidade
máxima é de
4,7 m³/s, ao custo de R$ 1,6 bilhões e mais um Cantareira custaria R$ 5,7
bilhões
nesses moldes.
Para repor 50% da água dos reservatórios do
Cantareira, especialistas calculam que serão
necessárias chuvas de 17 mm por
dia, durante 60 dias, ou 1 mil mm no acumulado.
Caso contrário, a região
enfrentará sério racionamento. A água é vital para nossa
sobrevivência e uma
questão estratégica que precisa ser priorizada na agenda dos
gestores públicos
e da sociedade.
*Malu Ribeiro é coordenadora da Rede das Águas da Fundação SOS Mata Atlântica.
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