Responsável pelo fornecimento de água para quase 28 milhões de pessoas no Estado de São Paulo, a Sabesp não tem um serviço de previsão do tempo para monitorar áreas específicas de seus sistemas de abastecimento.
O principal deles, o Cantareira, tem um histórico de secas e cheias bruscas, que submeteram a Grande São Paulo a racionamentos (como os de 2001 e 2003) e a alagamentos devido à abertura de comportas (caso de Franco de Rocha, em 2011).
Hoje, o Cantareira passa pela pior crise da história, operando em torno dos 14,5% de sua capacidade e pondo em risco o fornecimento de água para 8,8 milhões de pessoas na região metropolitana.
A Sabesp afirma usar as previsões meteorológicas do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais), que "também é contratado por diversas outras empresas, inclusive pela imprensa".
A estatal defende que a situação no Cantareira é "excepcional" e que, no boletim emitido pelo instituto no início do verão, a previsão era de chuva sobre o sistema.
A Folha apurou que o informe do Inpe para os meses de verão indicava, na verdade, três situações na divisa entre São Paulo e Minas Gerais, onde ficam os reservatórios do Cantareira.
Segundo o boletim, havia 33% de possibilidade de chover muito, 33% de chover dentro da média e 33% de chover abaixo da média. Ou seja, chances iguais para os três cenários. Outras companhias, porém, trabalhavam com um panorama diferente.
"Desde meados de 2013, já sabíamos que haveria pouca chuva [no verão]", afirma Willians Bini, meteorologista da Somar, empresa privada que faz previsões meteorológicas a clientes do setor energético e de bebidas.
A Somar enviou à Folha informes divulgados no ano passado nos quais já projetava um cenário de seca sobre o Sudeste do país. Segundo os boletins, existe um fenômeno natural que altera o regime de chuvas nessa região a cada década.
Bini conta que, há três anos, a Somar montou um projeto específico para a Sabesp, para monitorar e gerenciar o desempenho do sistema Cantareira.
O contrato, que não foi fechado na época, custaria de R$ 5 mil a R$ 20 mil por mês, dependendo do pacote de análise contratado.
O IAG (Instituto Astronômico Geofísico), da USP, também fez um projeto de monitoramento climático. Segundo professor Augusto Pereira Filho, a proposta era combinar previsão do tempo com projeções de consumo.
"Se prevermos quando haverá mais chuva e mais consumo, podemos produzir mais água nesse momento e baratear os custos de produção com energia elétrica, por exemplo", diz Pereira Filho.
O projeto foi encaminhado em junho do ano passado à Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), que tem uma linha de pesquisa vinculada à Sabesp. Ao custo aproximado de R$ 1,5 milhão, sua implantação daria mais segurança ao abastecimento, segundo o professor.
"Na Austrália, que tem estiagens severas, as companhias de saneamento têm seus próprios serviços de previsão do tempo. Toda região com escassez hídrica como São Paulo precisa de um, pois a meteorologia é estratégica nessa área", diz.
EDUARDO GERAQUE/HELOISA BRENHA
DA FOLHA DE SÃO PAULO
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