O alto consumo e o desperdício ameaçam o fornecimento de água em muitas bacias, causando desabastecimento e transtornos.
Há um falso conforto hídrico no Brasil. Achamos que há muita água no País"
SÃO PAULO - Consumo de água é quatro vezes maior do que o armazenado. Mobilizações podem equacionar este déficit
Gilmara Santos
SÃO PAULO - Campanhas de conscientização e uso racional por parte da população, acelerar o combate às perdas de água e rever o planejamento do uso deste bem comum devem estar entre as ações prioritárias dos governos - federal, estaduais e municipais - para a gestão do uso da água. "Há um falso conforto hídrico no Brasil, que vem baseado no fato de achar que há muita água no País, mas a realidade não é bem esta", declara o técnico e hidrogeólogo Matheus Delatim Simonato, da Sermar.
De fato, o Brasil possui quase 13% dos recursos hídricos superficiais do planeta. No entanto, 73% deles concentram-se na bacia hidrográfica amazônica, onde mora apenas 4% da população brasileira.
Por sua vez, 8% do recurso hídrico devem responder pelo abastecimento da Região Sudeste, a mais populosa, onde estão 47% dos moradores do País (que compreendem as regiões hidrográficas da Costeira do Sudeste e do Paraná).Já a Região Hidrográfica Costeira do Nordeste Oriental, que concentra 20% dos brasileiros, conta apenas com 2% dos recursos hídricos do País.
"De forma geral, o mau uso da água no Brasil é histórico e não se percebia a falta porque há um sistema integrado, como o da Sabesp [Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo], para o abastecimento. Porém esse sistema é muito dependente das águas da chuva", diz o presidente executivo do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos.
O fato é que, para o abastecimento ocorrer normalmente, é necessário que chova em quantidade suficiente para encher os reservatórios. Este sistema é falho, já que quando ocorre alguma mudança climática, como a que está acontecendo atualmente na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), o consumo na cidade fica prejudicado. "Temos que repensar o planejamento para abastecimento de água na cidade. Poderíamos usar as águas dos rios, por exemplo, mas elas estão muito ruins, porque falta saneamento básico", diz Carlos
Conscientização
Apesar de válidas, as campanhas de conscientização para o uso racional de água ainda são pouco efetivas. "É preciso racionalizar e não racionar o consumo de água. Hoje não existe controle nem fiscalização", declara Werner Grau, sócio da área ambiental do escritório Pinheiro Neto Advogados.
Além disso, há uma conta difícil de fechar, que é o uso acima do que é de fato armazenado nas cidades. Na Grande São Paulo, por exemplo, o consumo de água é quatro vezes maior do que o armazenado atualmente, explica o presidente do Trata Brasil. Para tentar equacionar este déficit, a Sabesp busca outras opções para garantir o abastecimento da população. Entre elas está o uso de água do rio São Lourenço.
"O governo tem que acelerar o saneamento básico para que depois possamos usar as águas dos rios para abastecimento", diz Carlos. "A crise na Região Metropolitana de São Paulo tem um fundo climático, mas acima de tudo falta planejamento para evitar este tipo de situação", comenta. Simonato lembra também que há municípios em que a população se queixa da falta de água, mas tem uma abundância subterrânea hídrica, que daria para abastecer três ou quatro cidades, mas faltam planejamento e investimentos dos órgãos públicos para uso eficiente deste recurso natural.
Desperdício
O planejamento de recursos hídricos deve passar ainda pela redução de desperdício de água, conforme alerta o presidente da entidade. Hoje, cerca de 40% da água tratada no Brasil é perdida.
Na Europa, este percentual fica em 15% e no Japão, em 5%.
"Se não soubermos utilizar, não adianta ter um monte de água", enfatiza o gerente técnico de passivos ambientais da consultoria ambiental CPEA, Aluisio Soares.
"Os órgãos públicos precisam atuar nas empresas exigindo que haja a preservação, e não a remediação do problema", diz Soares, referindo-se ao desperdício e contaminação da água.
Dentro deste cenário, dados do Instituto Trata Brasil de 2010 mostram que uma redução de apenas 10% nas perdas no País agregaria R$ 1,3 bilhão à receita operacional com a água, o equivalente a 42% do investimento realizado em abastecimento de água para todo o País naquele ano.
O consumo de água por habitante no Brasil foi de 162,6 litros por dia. A região com menor consumo é o Nordeste, com 120,6 litros por habitante por dia. Já a região com maior consumo é o Sudeste, com 189,7 litros por habitante por dia.
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