Engenheiro Julio Cerqueira César Neto na reunião do
Cosema
Foto: Tâmna Waqued/Fiesp
Foto: Tâmna Waqued/Fiesp
A partir de outubro, São Paulo ficará ao menos seis meses
com o Sistema Cantareira seco, prevê engenheiro
22/04/2014
Para conselheiro da Fiesp, Júlio Cerqueira César Neto,
não há outra solução, do ponto de vista técnico, que não seja o racionamento
de água para enfrentar a crise do Sistema Cantareira
São Paulo vai chegar à primeira semana de outubro com o
Sistema Cantareira seco, sem volume morte, quantidade de água localizada em
uma região mais profunda do reservatório, e com as chuvas do período ainda em
sua fase inicial, incapazes de reabastecer o reservatório antes dos seis meses,
diagnosticou nesta terça-feira (22/04) o engenheiro Júlio Cerqueira César
Neto.
“Estamos em uma situação em que temos que nos
conscientizar. Vamos ter seis meses, depois de outubro, sem o Sistema
Cantareira. E como os outros sistemas também não estão na plenitude de sua
capacidade, vamos ter uma restrição de abastecimento de mais de 50%”,
afirmou Cerqueira César Neto.
“Imagine uma região desse porte com uma economia de 50% do sistema por
pelo menos por seis meses que é enquanto se enche o volume morto”,
completou o engenheiro.
Ao participar da reunião do Conselho Superior de Meio
Ambiente (Cosema) da Federação das Indústrias do Estado de Saulo (Fiesp), Cerqueira César Neto afirmou que a única
solução para contornar a crise de abastecimento do principal reservatório de
água da cidade é o racionamento.
“Sob o aspecto técnico, não há dúvida que a única
solução a curto prazo é o racionamento. A engenharia não tem solução a curto
prazo para esse problema”, explicou.
Neto avaliou que a crise de abastecimento pode se
estender por até um ano e meio, já que, segundo o engenheiro, o Sistema
Cantareira demora um ano para se recompor desde que sejam retirados dele
menos de 15% da sua capacidade. “Vamos ter um ano e meio em que a
cidade vai ter a possibilidade de menos da metade da água que necessita. Vai
faltar água na casa, na indústria, no comércio. Todo o sistema da cidade será
afetado com essa dificuldade e não temos de onde tirar essa água”.
O Sistema Cantareira fornece água para mais de 8 milhões
de pessoas na Grande São Paulo e atingiu níveis menores do que 12% nas
últimas semanas, recorde de baixa. Segundo Neto, essa crise “vai exigir
de nós competência e criatividade que ainda não demonstramos”.
Segurança hídrica
Engenheiro e conselheiro da Fiesp, Neto afirmou que os
projetos de abastecimento de água de qualquer cidade devem prever fatores
cíclicos, inclusive variações extremas de clima que “são coisas
absolutamente naturais e existem no Brasil e no mundo inteiro”.
“Os sistemas têm de ter segurança hídrica e o nosso
sistema não tem isso. E a causa fundamental dessa seca é a absoluta falta de
investimento do governo em novos sistemas de abastecimento nos últimos 30
anos”, criticou.
Segundo ele, a população de São Paulo aumentou em 10
milhões desde a década de 1990 enquanto os mananciais são os mesmos.
“Não são suficientes para atender com segurança hídrica. A consequência
só poderia ser essa”.
“A própria natureza fez o seu próprio alerta. Em
2003 ela produziu uma estiagem prolongada e nem esse alerta da natureza foi
suficiente para mudar a condição”, afirmou Cerqueira César Neto.
Além de comentar a crise do Sistema Cantareira, o
engenheiro apresentou, durante o encontro, seu livro “Um Estadista
Urgente – São Paulo está precisando”, que ainda não foi lançado.
Na obra, ele analisa 12 itens da pauta pública na região
metropolitana de São Paulo: abastecimento de agua, esgoto, poluição das
águas, poluição do ar, enchentes, habitação, transporte, gestão
metropolitana, gestão de recursos hídricos, comportamento da Sabesp, educação,
saúde, e segurança pública.
“Nas minhas reflexões em torno dessa situação
cheguei à conclusão que todos esses itens estão indo de forma negativa e não
é pouco”, disse Neto. “Da minha parte eu cheguei a uma conclusão:
de 1990 para cá, os nossos governos deixaram de governar e a nossa sociedade
deixou de reclamar e exigir os seus direitos”, analisou.
A reunião do Cosema foi presidida pelo presidente do
conselho, Walter Lazzarini.
Alice Assunção,
Agência Indusnet Fiesp
Julio Cerqueira Cesar Neto
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