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10 de outubro de 2014

Desmatamento na Amazônia diminui chuvas no Sudeste



Para quem mora na região Sudeste, o desmatamento na floresta amazônica pode parecer um problema localizado, com consequências somente para quem vive por lá. Se essa também é a sua visão, talvez seja hora de mudá-la, pois cada metro quadrado de árvores derrubadas na Amazônia significa um pouco menos de chuva que cai em sua cidade
“Em uma escala global, existem, no hemisfério norte, os ventos alísios, que sopram da península Ibérica (Portugal e Espanha) em direção ao Brasil e pegam toda a umidade do oceano Atlântico. Eles entram pelo Maranhão e vão avançando até a Amazônia, fazendo chover intensamente na floresta”, explica David Zee, professor de impactos ambientais em ecossistemas costeiros da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). Essa água de chuva é absorvida pelas árvores e, pela evapotranspiração (“transpiração” das plantas), forma os chamados “rios voadores” – massas de pequenas partículas de água que viajam por um curso determinado pela atmosfera terrestre. Esses rios, que saem da Amazônia, chegam até o Sudeste.
“No Brasil, há cinco massas de ar que influenciam nosso clima. Uma delas, a Massa Equatorial Continental (MEC), se forma na Amazônia e é quente e úmida”, explica a geógrafa Bianca Medeiros, que é assistente de pesquisa do Centro de Direito e Meio Ambiente (CDMA) da FGV Direito Rio. A MEC é quem leva os rios voadores formados na floresta até os Estados do Centro-Oeste, do Sudeste e do Sul do Brasil, fazendo chover em São Paulo, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais, por exemplo.
Minguado. O que está acontecendo atualmente é que toda a borda sul da floresta amazônica está sendo derrubada. Segundo o instituto de pesquisa Imazon, em janeiro deste ano o desmatamento totalizava 107 quilômetros quadrados. No mesmo mês de 2013, o número estava em 35 quilômetros quadrados – representando um aumento de 206% neste ano.
A consequência natural é uma interrupção no ciclo natural da água. Como não há evapotranspiração de árvores na borda sul da floresta, os rios voadores não são alimentados ali. Isso diminui o volume de chuvas que irão chegar até os Estados do Sudeste e Sul do país – ou seja, menos chuva na sua cidade.
“Quando não tem mais árvore, a chuva cai no solo e vai para os rios terrestres que seguem em direção ao Sul do país. A chuva chega a lugares que os rios não alcançam”, aponta o professor Zee. O resultado final são as situações de crise hídrica que estamos vivendo.
Indústria
Contribuição. A Zona Franca de Manaus é uma importante medida de preservação: as pessoas encontram trabalho na indústria e não precisam recorrer a atividades predatórias na região.



Fonte: O TEMPO


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4 de setembro de 2014

Degradação avança sobre áreas protegidas na Amazônia – Greenpeace

Notícia - 2 - set - 2014
 
Entre 2007 a 2013, 30% das áreas afetadas pela degradação florestal estavam localizadas dentro de áreas que deveriam estar protegidas, como Terras Indígenas e Unidades de Conservação. Um dos principais facilitadores para esta degradação é a falta de gestão nessas áreas 
 
A criação de áreas de preservação, que inclui Unidades de Conservação (UC’s) e territórios destinados a populações tradicionais, são os instrumentos mais eficazes conhecidos para preservar a integridade das florestas. Mas a falta de gestão destas áreas acaba por reduzir seu efeito, já que, amparados pelo descaso político e a impunidade, madeireiros e outros exploradores ilegais transitam livremente, deixando um rastro de destruição e violência.

Entre 2007 a 2013, segundo levantamento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) analisado pelo Greenpeace, foram degradados ou desmatados quase 16 milhões milhões de hectares (ha) na Amazônia. A perda de vegetação em decorrência dos incêndios florestais, que em 90% dos casos, segundo ICMBio, são causados por interferência humana,  chegou a mais de 82 milhões de hectares no mesmo período.
Quantificação anual (2007-2013) dos dados Prodes, Degrad e dados das queimadas florestais na Amazônia (© Greenpeace)
“Áreas Protegidas”?
Em termos de áreas degradadas - onde a cobertura florestal ainda não foi totalmente removida – a extensão superou os 10 milhões de hectares no período de 2007-2013, sendo que 30% desse total ocorreu em áreas que tecnicamente deveriam ser “Protegidas”[1]. Esse padrão de perda florestal é característico da exploração madeireira ilegal que, segundo Imazon, apenas entre agosto de 2011 e julho 2012 alcançou 78% e 54% da área total explorada, no Pará e Mato Grosso respectivamente, os maiores produtores de madeira nativa no Brasil.

Relação da Degradação com áreas Protegidas entre 2007-2013 (© Greenpeace)
Um estudo do Tribunal de Contas da União (TCU), de 2013, avaliou a implementação e gestão das Unidades de Conservação da Amazônia e concluiu que, de um total de 247 unidades apenas 4% apresentaram alto grau de implementação e gestão. Cerca de 40% apresentaram baixo grau de implementação e 56% médio. Segundo verificou o Greenpeace, o bloco de áreas protegidas avaliadas como tendo um dos mais baixos índices de implementação e gestão (Bloco do Xingu – APA Triunfo do Xingu e Flota do Iriri) abrange a APA Triunfo do Xingu, no Pará, a unidade de conservação que concentrou o maior índice de degradação ambiental, com quase 46 mil hectares degradados, entre 2007 e 2013.
Degradação Área de Proteção Ambiental (APA) Triunfo do Xingu no Estado do Pará no período 2007-2013 (© Greenpeace) 
Um dos fatores que contribui para esta “deficiência” em gestão é a falta de recursos humanos para realizar o serviço “in loco”. No Pará, por exemplo, em 2013 a Diretoria de Áreas Protegidas (Diap) da Sema/PA contava com 138 servidores, dos quais 73 estavam voltados à gestão direta das UCs, ou seja, 293,1 mil hectares para cada funcionário supervisionar. Desse total, 45% eram temporários e apenas 28 estavam lotados nas bases das UCs. Em 2014 o quadro piorou: o número de funcionários caiu de 73 para 35, sendo 23% temporários, onde os funcionários lotados nas UCs somam apenas 10, ou seja,  mais de 2 milhões de hectares por funcionário em campo.

A situação financeira dos órgãos que administram estas áreas também é preocupante. Para se ter uma ideia, enquanto o principal órgão gestor de áreas protegidas dos Estados Unidos (National Park Service) dispõe de um orçamento de US$ 7.806 por km²,, para administrar uma área total de 340 mil km²,, o ICMBio, órgão brasileiro responsável pela gestão de 750 mil km²,, possui um apenas US$ 277 por km²,. No Canadá e no México, que tem áreas protegidas de aproximadamente 225 mil km²,  cada, o volume de recursos aplicados varia entre US$ 2.000 e US$ 2.500 por km²,.

“Criar unidades de conservação é importante, mas a homologação das áreas, por si só, não garante sua manutenção. Isso precisa vir acompanhado da efetiva implementação, com planejamento e ferramentas adequados para uma gestão responsável”, afirma Claudia Caliari, da campanha Amazônia do Greenpeace.

Somente no bioma Amazônico, cada funcionário da ICMBio é responsável por cerca de 3.260km², sendo que 84% UCs da Amazônia (90 de 107 UCs) contam com menos de 5 servidores lotados, com média de um ou dois servidores por área. Este é o caso da Esec Terra do Meio/Pará, com área de 33,7 mil km2 – o equivalente a mais de 3 milhões de campos de futebol ou quase 6 vezes a área do Distrito Federal, que conta com apenas dois servidores. A unidade está localizada no arco do desmatamento, região que sofre grande pressão pela exploração legal de madeira e grilagem de terra. Há ainda seis unidades que não possuem servidor lotado.

Violência e destruição
O abandono destas áreas pelo poder público tem fomentado a ação de todo o tipo de atividade ilegal no bioma amazônico, que traz à reboque altas doses de violência, mortes e destruição.

Tal fato levou o Brasil a ser vergonhosamente reconhecido, em 2014, como o país mais perigoso para a defesa do direito à terra e ao meio ambiente, com cerca de 50% das mortes registradas por este motivo no mundo. A falta de condenações contribui para a ação destes grupos. De acordo com um levantamento da Comissão Pastoral da Terra (CPT), de 1985 a 2013 foram registradas 699 assassinatos na Amazônia. De todos esses crimes, apenas 35 foram julgados, condenando 20 mandantes e 27 executores

No caso de populações tradicionais, como quilombolas, indígenas e ribeirinhos, que tem a sobrevivência ancorada na preservação da floresta, a ação desenfreada de madeireiros, mineradores e a expansão de latifúndios sobre as florestas tem impacto profundo em sua subsistência, assim como sobre sua dignidade.

Segundo os dados do Inpe, dos 10.292.300 hectares degradados entre 2007 e 2013, cerca de 26% (mais de 2,6 milhões de hectares) estavam dentro de Territórios Indígenas (TI’s). Vale ressaltar que, segundo a World Resources Institute, por estarem em melhores condições de preservação, as florestas comunitárias indígenas detém 36%  mais carbono por hectare do que outras áreas da Amazônia brasileira. A TI Parque do Xingu (MT) foi o mais afetado neste período com mais de 370 mil hectares degradados.
Degradação TI Parque do Xingu no Estado do Mato Grosso (© Greenpeace)
Além disso, a fragmentação das terras em áreas menores e isoladas ameaça a continuidade biológica e cultural dos povos tradicionais, pois limita ou impede o contato entre as comunidades/aldeias e expõe as populações à linha de frente de atividades extrativas ilegais. Nesse contexto cria-se um cenário de pressão, violência e impunidade.

“As estimativas, apesar de claramente alarmantes, não conseguem capturar a real extensão dos danos ao meio ambiente e para a sociedade, que vão desde perdas irreparáveis  da biodiversidade ao aumento das emissões de gases do efeito estufa e a perda da identidade cultural de uma nação”, observa Claudia Caliari. “É um desestímulo aos trabalhadores que tentam legitimar o efetivo Manejo Sustentável e uma perda para as economias locais e de todo o país”, completa. Não é de se estranhar que justamente as duas “áreas protegidas” nacionais mais degradadas estejam localizadas justamente nos dois Estados com maior produção de madeira nativa do Brasil, Pará e Mato Grosso.

A degradação em proporção tão significante dentro de áreas que deveriam ser protegidas mostra a fragilidade e a falta de governança na Amazônia. Após três anos de silêncio o governo finalmente publicou dados oficias sobre a degradação. Esta falta de transparência dos números é mais um indício da falta de comprometimento e interesse do governo em manter uma gestão eficiente no combate à perda de área florestal no Brasil. Se queremos combate-la temos que ir direto ao ponto, afinal essa perda florestal é boa pra quem?



[1] Unidades de Conservação e os Territórios de Ocupação Tradicional (Terras Indígenas ou Territórios Remanescentes de Quilombo)

http://www.greenpeace.org/brasil/pt/Noticias/Degradacao-avanca-sobre-areas-protegidas/

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22 de outubro de 2013

Estudo diz que risco de seca no sul da Amazônia é maior do que se pensava

Medições indicam que época seca cresce uma semana por década. Pesquisadores afirmam que ação humana é possível causa.
ovo estudo publicado pela revista PNAS, da Academia Nacional de Ciências dos EUA, alerta que a vegetação do sul da Amazônia tem um risco maior de mortalidade por causa da seca do que avalia o mais recente relatório de mudanças climáticas da ONU.
As medições de chuva apontam que, desde 1979, a estação seca amazônica tem aumentado em uma semana por década, enquanto a temporada de queimadas também tem se estendido. O trabalho de Rong Fu, da Universidade do Texas, e sua equipe, contrasta fortemente com as previsões do painel climático da ONU, o IPCC, que considera que a estação seca na floresta amazônica deverá estar no máximo 10 dias mais longa até o fim do século, mesmo nos cenários mais negativos.
Segundo Fu, a duração da estação de seca é o mais importante fator de controle da floresta. “Se ela for muito longa, a floresta não sobrevive”, alerta o pesquisador. A estação de seca é importante porque o solo amazônico tem capacidade limitada de absorver água durante o período de chuvas, ou seja, a floresta tem um máximo de umidade de que disporá durante a estiagem.
Os autores acreditam que a mudança climática causada pelo homem é a explicação mais provável para o aumento da estação sec a na Amazônia, pois bloqueia a chegada de frentes frias subtropicais, que poderiam estimular a precipitação sobre a floresta, e, além disso, dificulta que o ar quente e seco próximo ao solo se misturar com massa frias e úmidas mais altas.
Amazônia, em geral, costuma absorver carbono da atmosfera. No entanto, quando passa pro secas muito prolongadas, pode se tornar um ecossistema que libera carbono, contribuindo para o aquecimento global. Os pesquisadores alertam que, com o aumento das estações secas, esse processo pode se tornar norma, em vez de se exceção.
Fonte:Amazonia

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29 de janeiro de 2013

Exploração de minério pode acabar com sítios arqueológicos na Amazônia


Um dos maiores complexos mundiais de extração de minério de ferro em Carajás, executado pela Vale, pode acabar com vestígios históricos que explicariam a presença do homem na América

Exploração de minério pode acabar com sítios arqueológicos na Amazônia Lalo de Almeida/NYTNS
Sítios arqueológicos no Pará, que podem ajudar a explicar a presença do homem nas Américas, correm risco de desaparecer com a exploração de mina em CarajásFoto: Lalo de Almeida / NYTNS
Simon Romero
Arqueólogos precisam escalar camadas de selva tropical incrustadas de orquídeas, onde rondam onças e sucuris, para chegar a um dos cenários mais deslumbrantes da Amazônia: uma série de cavernas e abrigos de rocha que guardam os segredos de seres humanos que viveram ali há mais de 8 mil anos.
Em outro lugar, estas cavernas seriam preservadas como fonte de conhecimento sobre a história da humanidade pré-histórica. Mas não neste recanto, onde a mineradora brasileira Vale está avançando com a expansão de um dos maiores complexos mundiais de extração de minério de ferro — um projeto que deverá destruir dezenas de cavernas veneradas por estudiosos.
As cavernas e a espetacular riqueza mineral em seu meio apresentaram um dilema ao Brasil. O minério de ferro de Carajás, exportado principalmente para a China (onde é usado para fabricar aço), é um dos pilares do crescimento econômico brasileiro, mas pesquisadores sustentam que a ênfase nos ganhos financeiros de curto prazo ameaça este patrimônio.
Enquanto o Brasil tenta embarcar em um esforço frenético para aumentar a mineração e aprimorar a infraestrutura, as equipes de trabalho na Amazônia desenterram uma descoberta após outra. No Rio de Janeiro, por exemplo, arqueólogos estão examinando um mercado de escravos e um cemitério onde milhares de africanos foram enterrados. As descobertas vêm complicando a atualização do porto e da rede de transporte público antes da Olimpíada de 2016.
A Justiça brasileira pode exigir que as empresas preservem sítios arqueológicos, ou que ao menos transfiram materiais arqueológicos a universidades ou museus onde possam ser estudados, antes de prosseguir com as obras.
Pesquisadores dizem que as cavernas de Carajás, que começaram a ser estudadas por arqueólogos na década de 1980, oferecem informações do que podem ser os mais antigos estágios de habitação humana na maior floresta tropical do mundo, ajudando a montar o quebra-cabeça de como as Américas foram povoadas.
A Amazônia já era um foco de investigações arqueológicas, com pesquisadores descobrindo evidências de que mais pessoas podem ter vivido na região. Embora se pensasse que a Amazônia fosse incapaz de sustentar sociedades grandes e sofisticadas, hoje os pesquisadores sustentam que a região pode ter sido lar de prósperos centros urbanos antes da chegada de Colombo.
Vale contratou arqueólogos para estudar região de carajás
Antes dessas cidades serem entalhadas na floresta, as pessoas viviam nas cavernas da Amazônia. Em Pedra Pintada, uma caverna que (como as de Carajás) também fica no Pará, Anna C. Roosevelt, arqueóloga americana, mostrou que caçadores-coletores se mudaram para a região de 10.900 a 11.200 anos atrás, muito antes do que se imaginava — na mesma época em que os povos da América do Norte caçavam mamutes.
Fora da Amazônia, descobertas notáveis foram anunciadas nos últimos meses em outros sítios brasileiros. Em Lapa do Santo, abrigo rochoso perto de Belo Horizonte, arqueólogos encontraram, neste ano, o pictograma figurativo mais antigo do Novo Mundo até então. O desenho de um homem com pênis exagerado teria sido feito de 10.500 a 12 mil anos atrás.
A Vale começou a desenvolver os depósitos de minério de ferro depois de sua descoberta, em 1967, por um geólogo brasileiro que procurava manganês para a United States Steel Corporation. Desde então, a Vale foi privatizada, mas o governo ainda detém participação acionária.
Devido, em grande parte ao complexo de Carajás, onde milhares de operários trabalham 24 horas por dia, a Vale é responsável por 16% do total de exportações do Brasil. Enquanto a empresa luta com uma acentuada queda nos lucros e com atrasos em projetos fora do Brasil, Carajás deve se tornar ainda mais importante.
A Vale declarou que pretende criar 30 mil empregos na expansão da extração de minério de ferro em Carajás, um projeto de US$ 20 bilhões chamado Serra Sul — que já está atraindo milhares de migrantes de todo o Brasil a esta movimentada parte da Amazônia.
Para cumprir com as normas sobre sítios arqueológicos, segundo executivos da Vale, a empresa contratou arqueólogos e uma equipe de espeleólogos, ou estudiosos de cavernas, para estudar a região da mina aberta de Carajás. A Vale também adaptou sua proposta de construção para preservar algumas cavernas, enquanto planeja destruir dezenas de outras. Embora a Vale reconheça que pelo menos 24 das cavernas a serem destruídas são "de alta relevância", ela declarou que preservará cavernas em outra região do Pará para compensar a perda.
— Para nós, existe apenas um procedimento, que é ser transparente — declarou Gleuza Josué, diretora ambiental da Vale.
Descrevendo a expansão de Carajás como um projeto de "extrema importância", ela disse que a Vale havia cumprido rigorosamente com a legislação ambiental e arqueológica para prosseguir com seus planos.
Autoridades regulatórias disseram ter obtido concessões da Vale, mas não conseguiram impedir a expansão da mina. Apesar das preocupações arqueológicas, o governo concedeu à empresa uma licença ambiental em junho, autorizando o prosseguimento da expansão. A companhia ainda precisa da licença de instalação.

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9 de agosto de 2012

RECONSTRUINDO A TRILHA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA AMAZÔNIA




Kelly Souza1.
Mestranda em Educação. 
UFMT – GPEA.
INTRODUÇÃO
Você já esteve participando de alguma atividade que envolvesse a proteção de alguma espécie ameaçada de extinção? Quantas vezes você esteve visitando um parque? Caminhou numa trilha pela floresta? Essas atividades extraclasses são planejadas por professores de ciências, biologia e buscam conhecer como funciona o ecossistema, por exemplo, de um parque. Durante essas práticas de educação ambiental buscou-se interagir com os visitantes e as comunidades de modo participativo. Relacionando os aspectos sociais, culturais e econômicos da região onde vivem.
Os parques no Brasil foram criados com a finalidade de proteger as espécies ameaçadas de extinção, assim como seu o habitat. Segundo Araujo (2007) no início da década de 70 as unidades de conservação, eram identificadas pelo Projeto RADAM (1968-1978). Entre os critérios para criação eram consideradas somente as características da região a falta de aptidão econômica. Posteriormente, os critérios científicos foram incluídos como indicadores para a escolha destas áreas protegidas. Entretanto, outros critérios foram adotados para a criação das unidades de conservação como a presença das populações locais. Homens e mulheres que manejam a partir da sua cultura e seu modo de vida os recursos naturais. Conhecidos como extrativistas, os seringueiros encontram através da política ambiental o seu direito ao uso exclusivo dos recursos naturais com a criação das Reservas Extrativistas (RESEX), de acordo com a Lei nº 7.804.
Este breve relato sobre as diferenças entre as reservas e parques, nos ajuda a entender como foi instituída a educação ambiental nestes espaços naturais. Entretanto, precisamos entender o papel desta educação ambiental, está sendo planejada com ou para as comunidades? A educação ambiental proposta no SNUC é desenvolvida de acordo com a categoria de manejo das unidades de conservação baseado nos Programas de Educação e Interpretação Ambiental (SNUC, 2000).
Segundo Vasconcelos (2004, p. 16, 23) estes programas funcionam como elos entre as áreas protegidas com estas unidades de conservação e as pessoas. E depende diretamente das categorias de manejo, das suas categorias e objetivos de criação. Sendo que existem diferenças entre a educação e a interpretação ambiental. Neste caso a interpretação ambiental tem o objetivo de estimular as pessoas a entenderem como funcionam o seu ambiente e geralmente estas vivências acontecem, por exemplo, em parques e refúgios de vida silvestre. As reservas, por exemplo, as comunidades locais conhecem e dependem desses ambientes naturais, utilizam os recursos naturais para a subsistência. Contudo, a caça e pesca predatória, a retirada de madeira ilegal, são exemplos de alguns crimes ditos ambientais. Para proteger essas grandes áreas destes crimes, as comunidades locais começam a ser envolvidas em ações para proteger as espécies ameaças de extinção como o peixe-boi da Amazônia, Trichechus inunguis esauim-de-coleira, Saguinus bicolor.
mais recentemente percebeu-se que este enfoque é pouco efetivo para a conservação de espécie, já que nenhuma espécie pode ser conservada independentemente de seu ambiente”. Primack e Rodrigues, 2001, p.136
É necessário envolver as comunidades que vivem dentro ou ao entorno destas áreas. Com certeza é uma atitude correta, mas precisa considerar a identidade cultural, social e planetária (Morin, 2003). Durante as oficinas de capacitação com os agentes ambientais voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável em Amanã, no município de Tefé no estado do Amazonas. Os homens e mulheres desta região relatavam o processo de escassez do pirarucu e do próprio peixe-boi. Em outras épocas a cheia comprometeu a produção de farinha, pois os roçados são atividade de subsistências, mas um momento de festas e encontros entre as comunidades. Segundo os relatos dos agentes da Reserva Extrativista Catuá-Ipixuna, no mesmo município, a falta de pirarucu, provocou que as comunidades locais a definissem com regras, a proibição da pesca inclusive para subsistência por um ano. Depois de um ano, os comunitários observaram o aumento da população de pirarucu. Outro relato de outro grupo de agentes ambientais voluntários no sul do estado do Amazonas, observaram o aumento na quantidade de quelônios e infelizmente o aumento de garimpos e a retirada de madeira ilegal.
Baseado nestas experiências com estas comunidades, concordamos com Brandão (2002) que este saber é ensinado e repassado entre os pequenos e grandes, a partir de suas festas, mitos, nas pescarias e na retirada da castanha. Esta maneira de ensinar entre eles como a natureza se comporta, faz parte do cotidiano. Nesta educação ambiental, este conhecimento é partilhado entre todos. As pessoas não param para falar apenas sobre o pirarucu, mas contam sobre a sua história que está interligado a sua cultura e suas crenças.
Baseado nestas experiências com os agentes ambientais voluntários no estado do Amazonas e com outros atores sobre a educação ambiental em unidades de conservação, começamos a reconstruir a trilha da educação ambiental na Amazônia, sendo este o tema central das discussões na mesa redonda deste Seminário de Estudos Biológicos em 2012, na Universidade de Mato Grosso. Assumimos a terceira pessoa do verbo, pois aqui vós fala também as cablocas e cablocos do Amazonas, que estiveram participando do processo de construção praxiológica e agora epistemológica.
RECONSTRUINDO A TRILHA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA AMAZÔNIA
Nossa trilha foi planejada com a participação dos agentes ambientais voluntários que vivem em comunidades ao entorno e dentro das unidades de conservação no estado do Amazonas. Como estamos envolvidos neste processo de redefinição da educação ambiental, adotamos a pesquisa participante (Brandão, 2005), pois permite que aprendamos juntos e façamos parte da pesquisa. O pesquisador não está apenas como um expectador, mas torna-se o interlocutor ou aquele que torna visível a realidade.
Como iniciamos neste artigo, ao caminharmos por uma trilha admiramos a paisagem, falamos um pouco sobre o nome científico de algumas espécies ameaças de extinção. O jeito desta caminhada entre os educadores/educadoras ambientais que atuam em unidades de conservação é o dialogo com as pessoas que vivem nessas regiões.
Portanto, assumimos na trajetória desta trilha não iremos compartilhar conhecimentos, mas estaremos dialogando com estes homens e mulheres. Segundo, Freire (1997) ato de educar e ensinar exige disponibilidade de dialogar, sobre a sua realidade, sua história sua vida. Portanto, a educação e interpretação ambiental em parques ou reservas, devem consideram este diálogo, não apenas sobre o conhecimento científico, tecnológico, mas também sobre a sua região. Segundo, Ribeiro (2007, p. 888) no Parque Municipal do Mindu no programa de educação ambiental, tem buscado promover ao visitante um maior contato com a natureza, a partir das trilhas interpretativas. No momento da caminhada nas trilhas ecológicas chamadas de trilha da vida, das palmeiras, da cachoeira e outras regiões foram momentos onde guias e visitantes interagiam relatando as suas experiências e conhecendo melhor o parque. Portanto, buscou-se considerar além das questões ecológicas, os aspectos culturais e históricos da região. Muitos grupos como idosos, relatavam suas experiências e seus conhecimentos sobre a fauna e flora amazônica, assim com a história da região.
Neste primeiro ponto de parada em nossa trilha, observamos sentados se quisermos num banco um bando de macacos de guaribas, ecoando e pulando nos galhos das árvores. Começamos a falar com os agentes ambientais voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Tupé sobre a biologia destes animais. Por um instante, um suspiro, na forma de um desabafo. Um senhor com seus cabelos brancos, conta ao grupo, o encontro com um bando de Guaribas. No momento que atirou para matar o animal observou outro indivíduo, uma fêmea, que desce da árvore e grita sobre o animal morto. Depois, segue com o bando e seu filhote. O grupo para e reflete que a caça deve ser somente para nossa alimentação. Continuamos a nossa conversa sobre os animais silvestres que ali existiam, mas com certeza este relato foi algo que nos fez refletir.
Diferente da compreensão de Charles Darwin (2007), que entre seus métodos de pesquisas estava em analisar o comportamento dos pombos. Numa época que o indivíduo considerado para alguns cientistas como, de objeto de estudo ou pesquisa, estudado e analisado em partes (Descartes, 1989). Nesta moderna ciência, o objeto que poderá ser chamado de sujeito é detentor de uma identidade. Um ser humano que vive num mundo em completa transformação. Tudo está interligado é uma teia de relações culturais, sociais e ambientais, não nos esqueçamos dos preceitos religiosos.
Nesta parada aprendemos que a educação ambiental não é deve ser essencialmente biológica. Assim, como Freire (1997, p. 25) “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção”. A educação ambiental nestes espaços naturais deve proporcionar estes momentos, não apenas de bem-estar, mas de reflexão e de buscar assim como Bachelard (1989, p. 211) afirma “o tempo e o espaço estão aqui sobre o domínio da imagem” é preciso “viver este espaço novo”. Este momento contemplativo da natureza nos coloca dentro deste mundo fazendo parte daquele espaço, vivendo a relação EU-OUTRO-MUNDO conforme a fenomenologia de Merleau-Ponty (1945).
Fatos, fenômenos podem ser descritos de acordo com o saber popular segundo Brandão (2006, p.30) afirma que homens e mulheres aprendiam uns com outros a cuidar da terra. Aprendiam nos ritos, aqueles que os sacerdotes ou pajés os convocavam, os mitos explicavam, por exemplo, sua própria origem. A educação ambiental nestas reservas deve considerar as relações e contexto de cada região. Considerando o saber local das comunidades tradicionais que vivem dentro destas reservas.
Nossa segunda parada aconteceu com agentes ambientais voluntários da segue na Reserva Extrativista Catua-Ipixuna, que entre seus marcos históricos no processo de criação, esteve o envolvimento das comunidades que garantiu o uso dos recursos naturais exclusivos aos extrativistas. O mesmo intuito foi criado a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Rio Amapá, os comunitários buscaram legitimar o direito do uso dos recursos naturais. Os agentes ambientais voluntários da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Piagaçu Purus (Souza et al 2010), na história da criação da reserva foi impedir a entrada de barcos de pesca. A prática de retiram em grandes quantidades dos estoques pesqueiros e madeireiros comprometia a economia da região. Estes prejuízos causavam danos aos modos de vida destas comunidades. O homem que outrora exerce o ofício de pescador começa a também a realizar uma prática extrativista. A retirada da castanha gera conflitos sobre o direito do uso da terra. Este ciclo de problemas e conflitos ambientais causam mudanças no cotidiano das comunidades.
A educação popular presente no cotidiano das comunidades contribuiu na reformulação da educação ambiental na Amazônia. Portanto, concordamos com Sato (1997), esta educação está atrelada as questões sociais, políticas e ambientais. Neste processo de reconstrução epistemológica da educação ambiental em áreas naturais, respeitando as suas raízes, sua cultura, sua educação, sua religiões, este mundo dentro de tantos mundos.
Nesta terceira parada sentando numa roda, compreendemos que homens e mulheres necessitam contribuir neste processo de reformulação da educação ambiental popular dialógica. Por um lado reconhecemos a importância da realização de pesquisas sobre a biologia das espécies ameaçadas de extinção. Todavia, precisamos considerar os impactos ambientais e sociais que afetam cultura das comunidades.
Durante esta caminhada e reconstrução desta trilha da educação ambiental estivemos contemplando a floresta, conhecendo seus mitos, suas histórias. Bachelard (1989), nos convida a contemplar esta mesma floresta pela ótica da fenomenologia, da imaginação. Um botânico ao identificar as espécies de vitória-regia, anota todas as características da planta. Em seguida coleta as partes desta planta e identifica se existem outros invertebrados utilizando a planta como habitat. Este é o olhar de um especialista ou da cientista. Entretanto, uma mulher que navega em sua canoa pelos rios da Amazônia, ao olhar para a mesma vitória-régia. Lembrará-se da lenda que conta a origem da planta, sua importância medicinal e o período de sua floração. Estas duas pessoas tiveram experiências diferentes neste mundo. Cada pessoa tem o seu conhecimento que foi elaborado e construído a partir de uma planta no mundo.
Façamos uma pausa por um tempo nesta parte da trilha e começamos a entender que o olhar dos pesquisadores, dos educadores é muito diferente das pessoas que vivem nestas regiões da Amazônia. Portanto, a educação ambiental nas áreas protegidas precisa contemplar as duas óticas, a conservação dos recursos naturais, mas também o respeito ao conhecimento popular. A educação ambiental interligada com a educação popular nos ajudará a equilibrar os ecos, os anseios e as lutas. Neste processo de reformulação com os agentes ambientais voluntários, tínhamos a certeza que esta educação ambiental não apresenta uma única maneira de caminhar. A pesquisa participante (Brandão, 2005) nos permitiu fazer parte do processo, sem intervir na realidade de cada comunidade. Entretanto, os agentes e técnicos reconhecem que esta educação ambiental segue no desafio de tornar visível os problemas e conflitos ambientais.
POR QUE A TRILHA NÃO ESTÁ PRONTA?
Quando repensávamos sobre a base epistemológica da educação ambiental em unidades de conservação. Traçamos um texto em nosso imaginário que ajudassem ao leitor e nós autores. Este é um inicio de uma reflexão sobre a ideologia e a política empregada a educação ambiental. Precisamos reformular a educação ambiental nestes espaços, olhando para as lutas e as conquistas dos movimentos ambientalistas e conservacionistas. Os agentes ambientais voluntários no estado do Amazonas admitem as imperfeições do programa e começam a investir nesta educação ambiental popular.
Em cada parada nesta trilha aprendemos que todos os seres humanos e não-humanos estão interligados. Comparada à teia de uma aracnídea, as relações culturais, sociais, ambientais e os preceitos religiosos estão conectados. Os problemas e conflitos ambientais causam mudanças no cotidiano das comunidades. Portanto, precisamos contemplar as duas óticas, a conservação dos recursos naturais, mas também o respeito ao conhecimento popular.
Referencias bibliográficas
BACHELARD, G. A poética do espaço. 1ª Edição. São Paulo, Martins Fontes, 1989
BRANDÃO, C.R. A educação como cultura. Campinas. SP. Mercado de Letras. 2002.
BRANDÃO, C.R. Comunidades Aprendentes. In: Ferraro Júnior (Org). Encontros e caminhos: formação de educadoras (es) ambientais e coletivos educadores. Brasília. MMA. Diretoria de Educação Ambiental, 2005. p. 85-91.
BRANDÃO, C.R.Pesquisa Participante. In: Ferraro Júnior (Org). Encontros e caminhos: formação de educadoras (ES) ambientais e coletivos educadores. Brasília. MMA. Diretoria de Educação Ambiental, 2005. p. 259-266.
BRANDÃO. C. R. O quê é educação popular. São Paulo. Brasiliense. Coleção Primeiro Passos. 2006.
FREIRE, P. Pedagogia Autonomia. São Paulo. Paz e Terra, 1996.
Merleau-Ponty, M. Fenomenologia da percepção. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
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RIBEIRO, I. A. S; ARAÚJO, M. G. P.; SANTANA, A. F. Palmeiras no Parque Municipal do Mindu, Manaus, Amazonas, Brasil. Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 5, supl. 1, p. 888-890, jul. 2007.
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DESCARTES, R. Discurso do método. Tradução Maria E. Galvão. São Paulo. Martins Fontes, 1989.
1email: lynacris@hotmail.com
EcoDebate, 09/08/2012

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7 de junho de 2011

O que será de nós sem a floresta? Entrevista especial com Edilberto Sena

fonte : http://www.forumcarajas.org.br/

A situação da Amazônia é crítica. A construção de diversos complexos hidrelétricos aponta para uma perspectiva terrível em relação à sobrevivência da floresta.

Na entrevista de hoje, concedida à IHU On-Line por telefone, Edilberto Sena fala sobre a situação do rio Tapajós. O projeto inicial do governo federal prevê a construção de cinco hidrelétricas ao longo do rio. No entanto, segundo Sena, essa conta pode aumentar para 15. “O governo continua obstinado a tornar o Brasil a quinta economia mais rica do planeta. No entanto, faz isso à custa dos povos e das riquezas da Amazônia”, disse.

Há divergências no projeto em relação às projeções feitas pelo ex-presidente Lula e pela ações da presidente Dilma. “O presidente Lula anunciou que seriam criadas 14 unidades de conservação ao longo da BR-163, como forma de proteger a floresta que ainda existe. Agora, por causa do projeto Complexo Tapajós, calcula-se que outros 120 mil hectares de florestas serão excluídos das unidades de conservação. Isto será feito para atender às inundações de florestas que acontecerão com os lagos que vão surgir após a construção das barragens”, explicou.

Edilberto Sena, padre, é coordenador da Rádio Rural AM de Santarém-PA e membro da Frente em Defesa da Amazônia – FDA.
Confira a entrevista.

IHU On-Line – Que novos cenários se apresentam para o Tapajós?

Edilberto Sena – Hoje, há pelo menos três cenários novos em relação ao Complexo Tapajós. Primeiro, o governo continua obstinado a tornar o Brasil a quinta economia mais rica do planeta. No entanto, faz isso à custa dos povos e das riquezas da Amazônia. Por exemplo, o projeto original do Complexo Tapajós prevê apenas cinco hidrelétricas. Porém, os planos do governo estão mudando e já se fala em até 15 hidrelétricas.
O segundo cenário mostra que o novo projeto quer diminuir as unidades de conservação criadas antes e durante o governo Lula para implementar as usinas hidrelétricas. O então presidente Lula anunciou que seriam criadas 14 unidades de conservação ao longo da BR-163, como forma de proteger a floresta que ainda existe. Agora, por causa do projeto Complexo Tapajós, calcula-se que outros 120 mil hectares de florestas serão excluídos das unidades de conservação. Isto será feito para atender às inundações de florestas que acontecerão com os lagos que vão surgir após a construção das barragens. Para se ter uma ideia, no Parque Nacional da Amazônia cerca de dez mil hectares de florestas desaparecerão.
O terceiro cenário novo é formado por nós, os que lutam em defesa da dignidade do povo amazônico. A população está cada vez mais consciente e atenta em relação ao problema das hidrelétricas. No entanto, só despertamos para este desastre há quatro anos. Enquanto isso, a Eletronorte vinha trabalhando silenciosamente desde 1995 nos estudos de viabilidade do Complexo Tapajós.
Há quatro anos estamos procurando desenvolver a sensibilização da população. Para isso, criamos uma cartilha, promovemos seminários. Há dois anos, construímos a Aliança Tapajós Vivo, que é formada por 25 grupos e entidades que trabalham unidos na defesa da soberania do povo desta região. Os índios da etnia munduruku tiveram dois encontros com a nossa militância e também estão firmes na defesa da sua região. Eles compreenderam que fazer hidrelétricas é mexer com a sua sobrevivência, pois essas obras irão alterar a lógica da vida do rio e da floresta.
No último encontro que realizamos, os caciques munduruku escreveram: “Nós decidimos nunca aceitar as desgraças das hidrelétricas. Se o governo não desistir do seu plano de barragens, nós vamos enfrentar com os nossos guerreiros. Iremos de canoa, remando, para enfrentar os nossos inimigos, não será longe porque sempre andamos assim. Se o governo não desistir do seu plano de barragens, não vamos parar de lutar contra elas”.

IHU On-Line – Alguma nova medida por parte do governo aconteceu nesses últimos meses?

Edilberto Sena – O governo está encalacrado com a situação de Belo Monte e Jirau. Portanto, nesse momento, o Complexo Tapajós não é prioridade nas discussões “oficiais”. O que se tem de mais novo é a ideia de que a presidente Dilma irá, nos próximos dias, fazer um decreto diminuindo as unidades de conservação.

IHU On-Line – Em relação a esses projetos na Amazônia, foi possível sentir alguma diferença entre a posição do governo Lula e posição de agora (governo Dilma)?

Edilberto Sena – Lutei 20 anos junto com tantas pessoas para eleger o presidente Lula. Hoje sinto que fomos iludidos pela ideia de que ele, no governo, priorizaria o social e não o econômico. O sonho começou a desmoronar quando ele mentiu para nós e foi fiel aos banqueiros e às grandes empresas.
A diferença que eu vejo entre o estilo do governo Lula e o estilo do governo Dilma é que o Lula conquistou o povo com seu jeito popular, com sua facilidade de conversar, de contar piadas, de cometer gafes engraçadas. Com esse jogo de cintura, ele falou para D. Erwin, o bispo do Xingu: “Não enfiaremos goela abaixo a usina de Belo Monte”. No entanto, um mês depois ele estava metendo o projeto “tripa abaixo”.
A presidente Dilma não tem esse jogo de cintura, ela é "pesadona" – física e politicamente. Dilma acha que pode empurrar não apenas goela abaixo, mas também esmagar as populações amazônicas. Penso que precisamos preparar a nossa população para fazer uma resistência firme. Até porque não podemos viver só de diálogo e pressão.

IHU On-Line – Como está a luta contra a construção das hidrelétricas aí na região?

Edilberto Sena – No momento, estamos trabalhando com aliados. Alguns são daqui da região e outros são de fora. Por exemplo, os índios munduruku são os mais atentos ao problema; a comunidade de Jacareacanga já tem um grupo interessado em se juntar à aliança; na cidade de Itaituba tem um grupo que está trabalhando nossos discursos perante as sustentações do governo.
A Campanha da Fraternidade da Igreja Católica veio ajudar a nossa luta. Os padres nas suas Igrejas estão falando da importância da Amazônia, estão discutindo sobre o futuro do planeta. As escolas telefonam nos convidando para discutir sobre as hidrelétricas com os jovens...

IHU On-Line – Podemos dizer que há uma apatia da sociedade brasileira em relação ao debate sobre a construção das usinas hidrelétricas?

Edilberto Sena – Existe, sim, e por dois motivos. Primeiro, 80% da população brasileira vive lutando pela barriga, para arranjar comida, para sustentar a família e garantir emprego, escola e saúde. Esta população não tem tempo para pensar nas consequências da instalação desse complexo. Os outros 20% são os oportunistas que estão olhando para a Amazônia e vendo apenas o lucro.
A ex-governadora do Pará, para nossa tristeza, abriu a boca em São Paulo para dizer que o estado necessita de mais hidrelétricas. Este tipo de “informação bandida” acaba sensibilizando uma parte da população. E, pior, acaba caracterizando os movimentos sociais como “antidesenvolvimentistas”, como se nós não quiséssemos a melhoria do Brasil. Os políticos falam como se existissem dois "Brasis": um dos lados é formado pelas regiões Sul e Sudeste, que enxerga a Amazônia como sua colônia, e no outro lado estamos nós. O governo vive mentindo ao afirmar que o país precisa de mais energia e que, por isso, precisa construir hidrelétricas na Amazônia.
Depois da rebelião que houve no canteiro de obras de Jirau, vários trabalhadores voltaram ao Pará. Na paróquia em que trabalho, entrevistei alguns desses trabalhadores e eles contaram que, de fato, a rebelião foi motivada porque as empresas estavam massacrando os funcionários, tratando-os como escravos. Não pagavam hora extra. Isso revela que a população do Pará está carente de qualidade de vida e de emprego. É por isso que qualquer emprego está ótimo. Este é o raciocínio da maioria da população, e o governo explora o trabalhador a partir deste fato.
Alguns trabalhadores de Jirau são daqui, o que é um sinal de que o Pará tem carência de emprego. Com isso, o pessoal vai para longe em busca de trabalho. A experiência deles com aquela rebelião foi um mal que trouxe o bem. Isso porque foi um aviso de que o que estava acontecendo em Jirau vai acontecer no Tapajós. O problema foi um instrumento para a educação.

IHU On-Line – Como é a região que vai ser afetada pelo sacrifício de 140 mil hectares de Floresta Amazônica?

Edilberto Sena – Nossa região já está tremendamente afetada pelo agronegócio. Só na região de Santarém, 25 mil hectares de lotes da agricultura familiar foram vendidos para o agronegócio. Evidentemente, com isso florestas foram destruídas. Eu escrevi uma matéria sobre como a moratória da soja foi uma farsa e sobre como a destruição continua acontecendo. Agora, outra avalanche de destruição está por vir: com a construção do complexo hidrelétrico 140 mil hectares de floresta serão alagados. Isso prejudicará o equilíbrio climático da região e a cultura do nosso povo. Além disso, o alagamento vai permitir que a produção de dióxido de carbono aumente, porque estas árvores serão afogadas. A expulsão dos moradores que vivem ao longo do rio também é outra consequência desse alagamento.

É um absurdo uma pessoa, a presidente da República, que foi de esquerda, chega agora e implacavelmente decide o que tem que ser feito na Amazônia. O que será de nós se estes 140 mil hectares de floresta forem destruídos? A nossa vida amazônica depende da floresta e dos rios. É uma violação tremenda o governo transformar os rios em mercadoria para agradar às grandes indústrias.

Por: IUH on Line
http://www.unisinos.br/



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