Franco da Rocha (SP) – Situada a 45 quilômetros da capital paulista, a cidade ficou com as ruas centrais alagadas por causa das fortes chuvas. Foto de Wilson Dias/ABr
O custo-benefício de obras de drenagem e prevenção de enchentes
Publicado em fevereiro 11, 2014 por Redação
Há quase um ano, o nome de Eliane Teixeira dos Santos, 29 anos, apareceu em diversas notícias na imprensa por conta de um artigo assinado junto com seu orientador, o professor Eduardo A. Haddad, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP. Os jornalistas, à época, destacavam um cálculo que estimava que as enchentes na cidade de São Paulo causam ao País prejuízos de milhões de reais por ano. A conta fazia parte da pesquisa de mestrado de Eliane, que foi apresentada à banca no último mês de dezembro.
Já mestre em Teoria Econômica, Eliane (foto) afirma que a dissertação trouxe avanços importantes em relação ao texto publicado para discussão em 2013 pelo Núcleo de Economia Regional e Urbana (Nereus) da USP. O artigo propunha a utilização de dados georreferenciados sobre os pontos de alagamento registrados pelo Centro de Gerenciamento de Emergências da capital, aliado a uma Modelagem Espacial de Equilíbrio Geral Computável capaz de reunir informações sobre o comportamento de empresas e consumidores em nível multirregional.
A combinação das bases de dados permitiria estimar as perdas econômicas geradas pela interrupção das atividades produtivas nas áreas próximas ou dentro dos limites dos alagamentos. Dessa forma, foi possível encontrar e analisar a distribuição de hotspots econômicos – pontos da cidade onde as enchentes são capazes de causar perdas econômicas mais intensas.
“A pesquisa evoluiu bastante. Conseguimos avaliar os hotspots em São Paulo, que se localizam principalmente no Corredor Norte-Sul e nas Marginais do Pinheiros e Tietê, todas áreas de várzea”, diz a pesquisadora.
Também foi possível estimar o custo-benefício de obras de drenagem. “Para isso, utilizei como estudo de caso a área da Operação Urbana Consorciada Água Branca, que já tem um perímetro definido, para analisar os pontos de alagamento ao longo dos últimos anos nessa região”, explica.
Apesar de o artigo publicado pelo Nereus ter se espalhado na imprensa em 2013, a economista conta que não obteve nenhum retorno específico do poder público. No entanto, Eliane sabe que algumas pessoas na Prefeitura da capital têm usado sua dissertação para estruturar ações contra enchentes, assim como ao menos uma equipe que trabalha atualmente no desenvolvimento de projetos de urbanização para a cidade. “Minha mensuração foi usada por um dos grupos de trabalho aprovado para a próxima fase do projeto do Arco Tietê. Eles utilizaram a medida de custos para demonstrar os benefícios das obras para a região”, diz.
Macroeconomia – O trabalho de Eliane estima que cada R$ 1,00 de perda produtiva – ou seja, R$ 1,00 que deixa de ser produzido em bens ou serviços – se amplia na cidade de São Paulo e no Brasil em taxas que podem variar, respectivamente, entre 1,7 e 3,9 (para um raio de impacto do alagamento equivalente a 200m) a 2,1 e 4,9 (para um raio de 100m).
Assim, se em 2008 a cidade perdeu diretamente R$ 116,7 milhões em capacidade de produção por causa das enchentes, a perda indireta pode chegar a R$ 459,7 milhões em todo o Brasil, considerando-se os bens e serviços que deixaram de ser produzidos, vendidos e consumidos tanto dentro da capital e da região metropolitana quanto no resto do Estado, em outras unidades da Federação ou até no mercado internacional.
Os números alcançam essa amplitude porque a cidade de São Paulo é responsável por 12% do Produto Interno Bruto brasileiro (PIB), e por ela passam 14% de todo o fluxo comercial do País. Os setores mais afetados localmente são os serviços, comércio e transportes. A estimativa parte da aferição dos custos dos empresários para manter as atividades de seus negócios, mesmo que elas estejam temporariamente interrompidas pela chuva.
A pesquisadora reproduziu a mesma modelagem utilizada para avaliar os dados de 2008 em experimentos referentes a enchentes de 2009, 2010, 2011 e 2012, e pôde concluir que o padrão de perdas monetárias em capacidade produtiva se manteve o mesmo ao longo dos cinco anos.
“Todos querem resolver o problema das enchentes em São Paulo, mas, infelizmente, as pessoas olham mais para os custos econômicos. Então, foi uma forma de chamar a atenção para ver se as coisas começam a funcionar”, diz Eliane, que trabalha agora em alguns ajustes na dissertação recomendados pela banca antes de entrega-la à biblioteca da unidade. A pesquisadora cogita futuramente aprofundar os estudos sobre os impactos econômicos e sociais dos alagamentos paulistanos na malha de transportes da cidade.
Reportagem de Silvana Sales, no Jornal da USP, publicada pelo EcoDebate, 11/02/2014
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