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16 de julho de 2009

RIO EUFRATES (IRAQUE) ESTÁ SECANDO

Menino ajoelha-se na lama que restou do rio Eufrates perto da aldeia de Jubaish, no Iraque. Foto de Moises Saman/The New York Times


Rio Eufrates sofre há dois anos com seca e poderá desaparecer do Iraque

Por todos os pântanos, os coletores de junco, pisando em terra por onde antes flutuavam, gritavam para os visitantes em um barco de passagem.”Maaku mai!” eles gritavam, erguendo suas foices enferrujadas. “Não há água!”

O Eufrates está secando. Estrangulado pelas políticas de água dos vizinhos do Iraque, a Turquia e a Síria; dois anos de seca e anos de uso inadequado pelo Iraque e seus agricultores, o rio está significativamente menor do que há apenas poucos anos. Algumas autoridades temem que em breve poderá ser a metade do que era. Reportagem de Campbell Robertson, em Jubaish (Iraque), no The New York Times.

O encolhimento do Eufrates, um rio tão crucial para o nascimento da civilização que o Livro do Apocalipse profetizou sua seca como um sinal do final dos tempos, tem dizimado as fazendas ao longo de suas margens, tem deixado pescadores empobrecidos e esvaziado as cidades à beira do rio, à medida que os agricultores fogem para cidades maiores à procura de trabalho.

Os pobres sofrem mais agudamente, mas todos os estratos sociais estão sentindo os efeitos: xeques, diplomatas e até membros do Parlamento que se retiram para suas fazendas após semanas em Bagdá.

Ao longo do rio, os campos de arroz e trigo se transformaram em terra árida. Os canais encolheram para ribeirões rasos e os barcos de pesca ficam encalhados na terra seca. Bombas que visavam alimentar as usinas de tratamento de água balançam inutilmente sobre poças marrons.

“Os velhos dizem que é o pior de que se recordam”, disse Sayd Diyia, um pescador de 34 anos de Hindiya, sentado em um café à beira do rio cheio de colegas ociosos. “Eu estou dependendo das graças de Deus.”

http://graphics8.nytimes.com/images/2009/07/14/world/14euphratesmap_500.jpg


Bacia do rio Eufrates

A seca é grande por todo o Iraque. A área cultivada com trigo e cevada no norte alimentado pela chuva caiu cerca de 95% do habitual, e os pomares de tâmaras e laranjas do leste estão ressecados. Por dois anos as chuvas estão muito abaixo do normal, deixando reservatórios secos. As autoridades americanas preveem que a produção de trigo e cevada será pouco mais da metade daquela de dois anos atrás.

É uma crise que ameaça as raízes da identidade do Iraque, não apenas como a terra entre dois rios, mas como uma nação que já foi a maior exportadora de tâmaras do mundo, que antes fornecia cevada para a cerveja alemã e que tem orgulho patriótico de seu caro arroz âmbar.

Agora o Iraque está importando mais e mais grãos. Os produtores rurais ao longo do Eufrates dizem, com raiva e desespero, que terão que abandonar o arroz âmbar por variedades mais baratas.

As secas não são raras no Iraque, apesar das autoridades dizerem que nos últimos anos estão ocorrendo com maior frequência. Mas a seca é apenas parte do que está sufocando o Eufrates e seu irmão gêmeo maior e mais saudável, o Tigre.

Os culpados citados com maior frequência são os governos turco e sírio. O Iraque tem muita água, mas é um país que está corrente abaixo. Há pelo menos sete represas no Eufrates na Turquia e na Síria, segundo as autoridades de água iraquianas, e sem nenhum tratado ou acordo, o governo iraquiano fica reduzido a implorar por água junto aos seus vizinhos.

Em uma conferência em Bagdá -na qual os participantes beberam água engarrafada da Arábia Saudita, um país com uma fração da água doce do Iraque- as autoridades falavam em desastre.

“Nós temos uma sede real no Iraque”, disse Ali Baban, o ministro do Planejamento. “Nossa agricultura vai morrer, nossas cidades vão definhar e nenhum Estado pode ficar quieto em uma situação dessas.”

Recentemente, o ministério da água anunciou que a Turquia dobrou o fluxo de água para o Eufrates, salvando o período de plantio de arroz em algumas áreas.

A medida aumentou o fluxo de água em cerca de 60% de sua média, apenas o suficiente para atender metade das necessidades de irrigação para a estação de arroz. Apesar da Turquia ter concordado em manter o fluxo e até aumentá-lo, não há compromisso que exija que o país o faça.

Com o Eufrates exibindo poucos sinais de melhora da saúde, a amargura em torno da água do Iraque ameaça se transformar em fonte de tensão por meses, ou até mesmo anos, entre o Iraque e seus vizinhos. Muitas autoridades americanas, turcas e até mesmo iraquianas, desdenhando as acusações como postura de ano eleitoral, disseram que o problema real está nas deploráveis políticas de gestão de águas do próprio Iraque.

“Costumava haver água por toda a parte”, disse Abduredha Joda, 40 anos, sentando em sua choupana de junco em um terreno seco e rochoso fora de Karbala. Joda, que descreve sua situação difícil com um sorriso cansado, cresceu perto de Basra, mas fugiu para Bagdá quando Saddam Hussein drenou os grandes pântanos do sul do Iraque em retaliação pelo levante xiita de 1991. Ele chegou a Karbala em 2004 para pescar e criar búfalos d’água nos ricos alagadiços que o lembravam de seu lar. “Neste ano é apenas um deserto”, ele disse.

Ao longo do rio, não há falta de ressentimento em relação aos turcos e sírios. Mas também há ressentimento contra os americanos, curdos, iranianos e o governo iraquiano, todos eles responsabilizados. A escassez transforma todos em inimigos.

As áreas sunitas rio acima parecem ter água suficiente, observou Joda, um comentário cheio de implicações.

As autoridades dizem que nada melhorará se o Iraque não tratar seriamente de suas próprias políticas de água e de sua história de má gestão de águas. Canais que vazam e práticas de irrigação perdulárias desperdiçam água, e a má drenagem deixa os campos tão salgados com a evaporação da água que mulheres e crianças escavam imensos montes brancos das piscinas de água de rolamento.

Em uma manhã escaldante em Diwaniya, Bashia Mohammed, 60 anos, trabalhava em uma piscina de drenagem ao lado da estrada colhendo sal, a única fonte de renda de sua família, agora que sua plantação de arroz secou. Mas a fazenda morta não era a crise real.

“Não há água do rio para bebermos”, ela disse, se referindo ao canal que flui do Eufrates. “Agora está totalmente seco e contém água de esgoto. Eles cavam poços, mas às vezes a água simplesmente é cortada e temos que beber do rio. Todos meus filhos estão doentes por causa da água.”

No sudeste, onde o Eufrates se aproxima do fim de sua jornada de 2.784 quilômetros e se mistura com as águas menos salgadas do Tigre antes de desaguar no Golfo Pérsico, a situação é grave. Os pântanos de lá, que foram intencionalmente reinundados em 2003, resgatando a cultura antiga dos árabes do pântano, estão secando novamente. Os carneiros pastam em terras no meio do rio.

Os produtores rurais, coletores de junco e criadores de búfalos continuam trabalhando, mas dizem que não poderão continuar se a água permanecer assim.

“O próximo inverno será a última chance”, disse Hashem Hilead Shehi, um agricultor de 73 anos que vive em uma aldeia seca a oeste dos pântanos. “Se não conseguirmos plantar, então todas as famílias terão que partir.”

Amir A. al-Obeidi, Mohammed Hussein e Abeer Mohammed contribuíram com reportagem.

Tradução: George El Khouri Andolfato

Reportagem [Iraq Suffers as the Euphrates River Dwindles]do The New York Times, no UOL Notícias.

EcoDebate, 16/07/2009

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8 comentários:

  1. "E o sexto anjo derramou a sua taça sobre o grande rio Eufrates; e a sua água secou-se, para que se preparasse o caminho dos reis do oriente." [Apocalipse 16:12].

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  2. olha o primeiro cisa e a tirada de todo os povos de perto dos rius e demaneira nenhuma jogar agua sanitari no riu no riu como as firmas tambem faz.depois e so comparar a agua que bebe com a agua do riu tiete

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  3. bem se a Bíblia previu que isso iria acontecer, então não resta fazer nada. Porque nem tratados políticos,ecologicos Ambiental poderá salvar o eufrates e o povo iraquiano do desastre. O que DEUS revelou na sua escritura irá se cumprir. Queira o homem asseite ou não.

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  4. Elisa Bernardes Fraga - São Paulo - SP23 setembro, 2009 13:02

    Caro anônimo (a),

    Eu discordo totalmente com sua colocação. Isso é DETERMINISMO.

    Se não sabe o que isso aqui vai:
    "Determinismo é a doutrina que afirma serem todos os acontecimentos, inclusive vontades e escolhas humanas, causados por acontecimentos anteriores, ou seja, o homem é fruto direto do meio, logo, destituído de liberdade total de decidir e de influir nos fenômenos em que toma parte, existe liberdade , mas esta liberdade condicionada a natureza do evento em um determinado instante.
    O indivíduo faz exatamente aquilo que tinha de fazer e não poderia fazer outra coisa; a determinação de seus atos pertence à força de certas causas, externas e internas."

    E o "livre arbítrio" dado por Deus aos homens? E a oportunidade de estudar, pesquisar, conhecer novas soluções, novas técnicas e soluções para reverter essa seca? Se Deus permitiu que os homens tivessem capacidade de estudar, conhecer, pesquisar, descobrir novas formas de solucionar problemas da natureza como ficar de braços cruzados vendo o rio Eufrates secar e toda a população daquela região perecer?
    Tenho certeza que Deus não quer a desgraça e o sofrimento de ninguém e muito menos a morte de um povo todo porque foi registrado no Apocalipse.
    Não sou estudiosa de teologia mas tenho certeza que não é isso não. Não podemos aceitar o determinismo e temos que procurar de todas as formas resolver os problemas da natureza, inclusive utilizando de todo o conhecimento dado por Deus para os homens.

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    Respostas
    1. Livre arbítrio? Onde tem essa expressão na Bíblia?

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  5. Querida Elisa,
    Não é questão de determinismo! E de nada vc explicar ou traduzir o significado da palavra. Isso é tão somente uma profecia. Profecias Bíblicas existem para serem cumpridas, muitas já se cumpriram, outras estão se cumprindo e ainda outras se cumprirão. O fato é que os homens obviamente causaram a destruição deste e de outros rios, e Deus em sua onisciência já sabia disso. Portanto querida o nosso amigo anônimo está correto . Vai acontecer e nenhuma tecnologia ou estudo ambiental será capaz de reverter o fato. Deus é soberano , Ele determinou que isso aconteça pra que os governantes marchem em direção a guerra do armagedon , advinha por onde eles vão atalhar ???? Pelo já inexistente Rio Eufrates .Se vc não estuda teologia , tá numa hora boa de vc começar , assim vc irá entender que não é determinismo , é certeza mesmo ! Sorry !

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  6. se foi deus de javé que o criou o riu eufrats então ele o cuidara de acordo como o quer .... e que deus abençoe asim o sempre o berso das sivilisaçoes arabes iraquianos por todo o sempre amém...

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  7. não é da vontade de Deus destruir sua magnífica criação, ele só previu o q o próprio homem faria. Se os povos ao redor do Eufrates se unissem para solucionar sem egoísmo e com amor ao próximo o próprio Deus Jeová os abençoariam, mas o egoísmo não os deixam fazer isso, e como já podemos ver, a consequência será a destruição de sua criação causada pelo egoísmo e falta de amor do homem. Mas a boa notícia é Deus pelo contrário do q se afirma, não destruirá a Terra, e sim ele interferirá para q isso não aconteça. Se quizerem saber sobre essa esperança bíblica e como a história se desenrolará entre em contato com uma Testemunha de Jeová, elas terão prazer em ensinar o q a Bíblia Realmente Ensina, sobre esse e outros assuntos.

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