Seguidores do Blog SOS Rios do Brasil

9 de janeiro de 2011

PROJETO BIOMAS LEVA BICICLETEIRO ANDRÉ PASQUALINI A CINCO BIOMAS BRASILEIROS




Uma desilusão amorosa levou o ex-programador André Pasqualini para a estrada. Aos 36 anos e separado há poucos meses, ele pretende cruzar – junto de sua nova companheira, uma bicicleta branca e preta – cinco dos seis biomas brasileiros: Amazônia, Cerrado, Pantanal, Mata Atlântica e Caatinga. 

De longe, o feito de Pasqualini parece ser só mais uma aventura por paisagens naturais deslumbrantes. Não é. Foi a maneira que ele encontrou de fazer uma viagem introspectiva. É uma jornada mais para dentro do que para fora.

De lambuja, Pasqualini vai ter o privilégio de percorrer lugares onde só é possível chegar pedalando. Está na estrada desde o dia 13 dezembro. Saiu de São Paulo, onde nasceu e mora até hoje, e se encontra agora em algum ponto de uma estrada rumo ao Parque do Xingu, no Mato Grosso. Desde que partiu, diz sentir falta de uma coisa: o filho pequeno, de 4 anos.

Se a motivação da aventura foi uma separação um tanto traumática, seu desenrolar está sendo bem mais aprazível. Pasqualini diz estar vivendo “uma vida inteira em poucos dias”. Não consegue explicar o que mais o marcou neste primeiro mês de viagem. Só sabe que, ao conhecer os personagens de um Brasil distante, protagonistas de uma história afastada da dele, conseguiu encontrar um sentido para vida. E para uma vida nova. “A viagem está me fazendo um bem enorme”.

Sem patrocinadores, ele conta com a solidariedade de quem encontra pelo caminho para se manter. Dorme em postos de gasolina, fazendas, acampamentos. Usa a rede elétrica alheia para abastecer seu celular de função múltipla (com o aparelho, Pasqualini fala com o filho, tira fotos e posta suas histórias no blog www.bicicreteiro.com.br).

Época – Onde você está agora?
André Pasqualini – Estou em Matupá, no Mato Grosso. Daqui vou pegar a BR-080 em direção ao Xingu. Desde a cidade de Sorriso, já estou pedalando por uma área da Amazônia legal, mas só quando entrar nos limites da reserva, daqui a três dias, é que pela primeira vez estarei em uma área de floresta amazônica intacta. Vai ser meu segundo bioma da viagem.

Época – O que está vendo de interessante pelo caminho?
Pasqualini – São tantas coisas… A mudança de vegetação, a transição de cerrado para floresta, muitos animais. Infelizmente, a maioria deles atropelados pelos carros. Os motoristas abusam demais da velocidade e ignoram os limites. E tudo isso com a conivência da Policia Rodoviária Federal, que nada faz para puni-los. Estou conhecendo muitas pessoas, particularidades de cada região. Posso dizer que estou vivendo uma vida inteira em poucos dias de pedalada.

Época – Há quanto tempo começou a jornada e por onde já passou?
Pasqualini – Saí de São Paulo no dia 13 de dezembro. Pedalei sempre próximo ao rio Tietê, que foi minha morada por diversas vezes. Nele, há diversas praias construídas pelas prefeituras. Acampei em várias delas. Cruzei os limites do estado, entrando no Mato Grosso do Sul, e pedalei até Campo Grande. Fiquei uma semana planejando como seria a travessia do Pantanal. Depois parti para dentro do bioma, por estradas, vazantes e trilhas. Saí no porto Jofre, onde Mato Grosso e Mato Grosso do Sul fazem fronteira. Fiz a travessia de barco, segui pela Transpantaneira até Poconé. Depois fui para Cuiabá. Segui para a Chapada dos Guimarães, voltei para Cuiabá e pedalei para o norte. Agora estou em Matupá, a 60 quilômetros da divisa com o Pará. Como tenho que ir para Palmas, agora sigo para leste em direção ao parque do Xingu.

Época – O que mais te marcou durante a viagem?
Pasqualini – Impossível citar uma única coisa. A travessia do Pantanal foi épica, meu Natal na chapada marcou demais também. O encontro com a floresta amazônica, a primeira vez que vi a arara azul… Cada momento na estrada é algo que acaba marcando para sempre.

Época – Você pedala desde quando?
Pasqualini – Sou cicloturista desde 1993. Já fiz diversas viagens de bicicleta, mas essa definitivamente é a mais longa.

Época – Como se preparou para esta aventura?
Pasqualini – Como já pedalo com frequencia, não tive uma preparação específica. Posso dizer que meu treinamento é não ter carro e usar apenas a bicicleta para me locomover em São Paulo.

Época – Quanto tempo vai ficar na estrada? E qual é seu roteiro?
Pasqualini – Minha previsão é voltar para São Paulo no final de fevereiro. Daqui, sigo para Palmas. Depois parto para o deserto do Jalapão, onde passarei pelo meu terceiro bioma, a Caatinga. Começo então a descida, passando por Goiás, Chapada dos Veadeiros, Brasília, Minas Gerais (percorrendo o quarto bioma, o Cerrado). Sigo então para São Paulo (no sul de Minas, registro o quinto bioma, a Mata Atlântica). Aí finalizo o projeto biomas e retorno a São Paulo.

Época – Curiosidades práticas: onde você dorme, come, toma banho? Como se conecta com o mundo, carrega o celular e manda e-mails?
Pasqualini – Durmo em redes, na casa de amigos, postos de gasolina e, raramente, em pequenas pousadas. Estou com um smartphone com internet 3G. Sempre que tem sinal, uso para atualizar meu blog. Para mantê-lo carregado, havia feito um esquema que carrega energia com as minhas pedaladas. Mas o sistema deu pane. Tinha também um aparelho que capta energia solar, que também não satisfez as expectativas. Conto com a solidariedade do pessoal que acaba me dando pouso, comida, banho e até energia para meus equipamentos. Carrego uma bateria reserva com bastante carga. Isso me dá uma autonomia de até uns três dias.

Época – O que tem na sua bagagem?
Pasqualini – Roupas, comida, ferramentas, peças, quatro pneus. Minha bicicleta é aro 29. Dificilmente encontraria pneus de reposição em caso de cortes.
Época – Quanto pesa sua bagagem?
Pasqualini – Uns 40 quilos.

Época – Você come algo especial para repor as calorias?
Pasqualini – Minha alimentação é normal. Como uns PFs (pratos feitos). Às vezes, me oferecem almoço ou jantar. Como de tudo. Gasto cerca de 8.000 a 10.000 calorias por dia. Preciso comer muito. A única particularidade é que tomo muita Coca Cola. Chego a tomar um litro durante as refeições facilmente. A alimentação é algo muito particular de cada ciclista. O que vai bem para um pode não ir bem para outro.

Época – Como surgiu a ideia do projeto?
Pasqualini – Depois da minha separação, resolvi que iria fazer uma longa viagem. Sozinho, para ver se conseguia colocar minha cabeça no lugar e até mesmo dar um norte para minha vida. Escolhi o trajeto porque fiz duas viagens de bike pelo Tietê (em 1997 e 2004) e sempre tive vontade de continuar a viagem. Durante o planejamento, pensei primeiro em cruzar o Pantanal. Quando vi que sairia no Mato Grosso, me dei conta de que ali já teria floresta amazônica. Aí fui traçando. Quando percebi, vi que poderia passar por cinco biomas diferentes e diversos pontos turísticos. Sonhos de consumo dos ciclistas. Assim surgiu a ideia do projeto biomas.

Época – O que você pretende encontrar pelo caminho?
Pasqualini – Muita vida, solidariedade e inspiração para continuar acreditando no ser humano. Algo que estava faltando para mim ultimamente.

Época – Passou algum perrengue que vale contar?
Pasqualini – Estava atravessando o Pantanal por volta das duas da tarde. O sol a pino castigava. Sempre que encontrava uma sombra, pedalava (ou empurrava a bike) até lá para beber um pouco de água. A seis quilômetros do meu destino, peguei um areião lascado. A areia estava pelando de quente. Enquanto eu arrastava a bike, meu pé fritava. Foi quando percebi que minha água havia acabado. Na próxima sombra, joguei a bike no chão e tirei minha papete. Calcei as sandálias da humildade, deixei a bicicleta ali no mato e segui a pé até a fazenda. Caminhar naquele sol não foi fácil, mas bem menos cansativo do que puxar a bike pelo areião. O dia me provou que não posso brincar com o sol.

Época - E qual foi o momento mais emocionante?
Pasqualini – Vários. Mas o meu Natal foi muito forte emocionalmente. Nunca dei muita atenção para datas, até o meu aniversário já esqueci. Mas neste Natal consegui entender o que faz da data o dia em que as pessoas mais se suicidam. Estava em uma cabana abandonada, sem luz, fria, sem ninguém para abraçar. Havia tido um dia cansativo. Entendi algumas coisas naquele dia. A importância de valorizar as pessoas sempre. De demonstrar amor sempre. Porque ninguém consegue ser feliz sozinho.

Época – Viu muita devastação por onde passou?
Pasqualini – Demais. Em São Paulo, não temos praticamente mais nada de mata nativa. Nem o que deveria haver por lei. As pessoas que colocam álcool no carro achando que estão fazendo um bem para o meio ambiente não têm a menor ideia da desgraça que a cana traz. Ela acaba com as nascentes, polui os rios, altera o clima das regiões. Quando saía de um canavial e entrava em um pequeno trecho de mata fechada, a temperatura caía uns cinco graus. Até agora, acho que os que menos devastam o meio ambiente são os pantaneiros. Em pouco tempo, não teremos mais nada. Por causa da ganância e da omissão das autoridades. Elas não fiscalizam e não punem.

Época – Para onde vai em seguida?
Pasqualini – Quero chegar logo em São Paulo, mas ainda tenho muito pedal pela frente. A saudade do meu bebê está me matando. Agora preciso ir até o final e é o que farei. Por isso, vou logo pedalar. Tenho de chegar ao Xingu e vencer logo o segundo bioma. No dia 15 quero estar em Palmas, para planejar minha travessia pelo Jalapão.

Fonte: Blog do Planeta - Revista ÉPOCA

Parabéns ANDRÉ PASQUALINI pela coragem e decisão! 

Achamos fantástica sua viagem pelos biomas brasileiros! 
Queremos colaborar com vc, da forma que podemos, divulgando no Blog SOS Rios do Brasil as fotos e descrições dos rios, ribeirões, cachoeiras, lagos e usinas hidrelétricas por onde passar.
Desde que você concorde e autorize podemos reproduzir no SOSRiosBr as postagens do seu Blog O BICICLETEIRO sobre nossos recursos hídricos, com os devidos créditos e links!
Muito sucesso e ótima viagem!

Prof. Jarmuth Andrade

BLOG
SOS RIOS DO BRASIL
ÁGUA - QUEM PENSA, CUIDA!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seja bem vindo e deixe aqui seus comentários, idéias, sugestões, propostas e notícias de ações em defesa dos rios, que vc tomou conhecimento.
Seu comentário é muito importante para nosso trabalho!
Querendo uma resposta pessoal, deixe seu e-mail.

A legislação brasileira prevê a possibilidade de se responsabilizar o blogueiro pelo conteúdo do blog, inclusive quanto a comentários. Portanto, não serão publicados comentários que firam a lei e a ética.

Por ser muito antigo, o quadro de comentários do blog ainda apresenta a opção comentar anônimo; mas, com a mudança na legislação,

....... NÃO SERÃO PUBLICADOS COMENTÁRIOS DE ANÔNIMOS....

COMENTÁRIOS ANÔNIMOS, geralmente de incompetentes e covardes, que só querem destruir o trabalho em benefício das comunidades FICAM PROIBIDOS NESTE BLOG.
No "COMENTAR COMO" clique no Nome/URL e coloque seu nome e cidade de origem. Obrigado
AJUDE A SALVAR OS NOSSOS RIOS E MARES!!!

E-mail: sosriosdobrasil@yahoo.com.br