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6 de agosto de 2011

CICLO DOS RIOS AGRAVA O CÓLERA

Algumas formas de Vibrio cholerae : bactéria responsável pelo cólera

Pesquisa norte-americana mostra que tanto períodos de cheia quanto de seca aumentam os riscos da proliferação do vibrião que causa a doença

Max Milliano Melo

Entre as cruéis consequências das mudanças climáticas e do aquecimento global, a proliferação de doenças é uma das mais graves. Malária, dengue e outros males típicos de regiões pobres tendem a ocorrer com cada vez mais frequência. Entre as patologias que sabidamente estão ligadas ao aquecimento global, está o cólera, doença estritamente vinculada à pobreza.

Causada pela bactéria Vibrio cholerae, o mal, caracterizado pela desidratação extrema, pode levar à morte, especialmente quando as vítimas são crianças.

Uma pesquisa divulgada na edição de hoje do periódico científico American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, mostra que compreender os efeitos das mudanças climáticas no ciclo da doença é bem mais complexo do que se imaginava. Há uma nova variável importante, segundo o estudo: o ciclo hidrológico dos rios. Depois de analisar imagens de satélites e dados geológicos dos últimos 10 anos, os pesquisadores norte-americanos concluíram que os períodos de baixa no nível da água podem ser os culpados pelos surtos de cólera em períodos de seca, quando o esperado era justamente uma diminuição na quantidade de casos.

Em entrevista ao Correio, o pesquisador Shafiqul Islam, da Tufts University, nos EUA, explica que os primeiros resultados que sugeriram o papel dos rios na transmissão da doença vieram do Delta de Bengala, que deságua no Oceano Índico. “Nossos resultados sugerem dois padrões distintos de epidemia, associados com os ciclos sazonais dos rios”, disse. Um dos surtos era velho conhecido dos cientista. Nos meses de setembro e outubro, a cheia dos rios propicia um ambiente favorável para o Vibrio cholerae. “Além disso, nesse período, ocorrem enchentes. A água se mistura com o esgoto e atinge os reservatórios. Quando o nível baixa, ele deixa pra trás a contaminação”, conta.

O grande mistério era a influência das águas fluviais no segundo surto, que ocorre durante as secas de março. Depois de analisar dados geológicos e da qualidade da água e de mensurar índices de casos da doença, os pesquisadores descobriram que a culpa desse segundo surto é de outros seres aquáticos. “Quando o fluxo do rio baixa, a água do mar da Baía de Bengala avança para o interior, transportando plâncton e carregando bactérias”, relata. O plâncton tem um papel importante na nutrição da bactéria, possibilitando o aumento de sua população (veja infografia).

Depois de fazer a descoberta na Baía de Bengala, os pesquisadores repetiram os estudos em outras três grandes bacias mundiais: a do Orinoco, na Colômbia e na Venezuela; a do Amazonas, no Brasil; e a do Congo, na África Central. “Em todas, a mesma constatação: quanto mais o rio baixa, mais avançam pelos continente os casos da doença”, conta Islam. “Nosso desafio agora será medir esse avanço e prever quando o cólera deve chegar a cada localidade”, conta o pesquisador. “Nossa ideia é criar um sistema de alerta precoce conta a doença”, completa.


Sem receio

Segundo o professor de medicina tropical da Universidade de Brasília (UnB) Pedro Tauil, no Brasil, o cólera já é um problema controlado. “Isso se deve principalmente à qualidade da água que chega para as pessoas. Por mais que muitas vezes o esgoto esteja contaminado, se a água consumida estiver boa, não há contágio”, conta o especialista. “O cloro presente na água é capaz de matar a bactéria.

Nas regiões onde a água não é canalizada, algumas gotinhas de hipoclorito são o suficiente para evitar a contaminação.”


Embora a situação esteja controlada no país, o especialista alerta que, em outras regiões, a doença ainda assusta. “Em alguns locais da África, como Angola, Sudão e Congo, ocorrem epidemias”, conta o professor da UnB. “Na América, apenas Haiti e República Dominicana enfrentam o problema, além da Venezuela, que registrou alguns casos ‘importados’ de pessoas que vieram dos dois países”, afirma.

A descoberta, segundo Tauil, reforça a necessidade de se promover o saneamento básico em regiões onde as condições de vida ainda são precárias. “Apesar de questões ecológicas estarem envolvidas, a maneira mais eficaz de se evitar o surgimento de novos casos é a criação de sistemas de água tratada”, avalia o professor da UnB. “Mesmo que as condições estejam longe das ideais, se a água tiver boa qualidade, as pessoas estarão protegidas”, opina.



Fonte: Correio Braziliense – Caderno Ciência
Foto:
http://www.brasilescola.com/doencas/colera.htm


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