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16 de outubro de 2013

QUANTA ÁGUA PRECISAMOS BEBER POR DIA?



Realmente precisamos tomar dois litros de água por dia? Foto: globoesporte.globo.com

Beber oito copos ou dois litros de água por dia é um conselho conhecido. Mas o médico britânico Chris van Tulleken pergunta se há alguma base científica para essa afirmação no texto abaixo.
Você já viu anúncios afirmando que uma pequena queda na hidratação pode afetar muito a performance e, por isso, você tem que se manter hidratado com aquele marca de bebida isotônica especial que eles estão vendendo?
Eles parecem muito científicos. Homens em aventais, atletas com eletrodos presos ao corpo e muito mais. E não é algo difícil de se vender, pois beber líquidos faz a pessoa se sentir bem – então se você está com calor e suando, repor os fluidos deve ser benéfico.
Mais cedo neste ano, cientistas australianos fizeram uma experiência que não havia sido realizada antes e que foi descrita na edição de setembro da revista especializada British Journal of Sports Medicine.
O grupo de pesquisadores queria descobrir o que acontece com a performance depois da desidratação. Eles pegaram um grupo de ciclistas e os submeteram a exercícios até que eles perdessem 3% de seu peso total em suor.
O desempenho deles então foi medido após três formas de reidratação: 1) nenhuma, 2) líquido suficiente para voltar ao nível de 2% da perda de peso ou 3) reidratação total.
Até aí nada de mais. A diferença em relação a estudos anteriores é que os ciclistas aqui não eram capazes de saber seu grau de reidratação, pois o fluido foi recebido de maneira intravenosa.
Isso era vital porque todos nós, e especialmente os atletas, temos uma relação psicológica íntima com o consumo de água.
O resultado foi a inexistência de qualquer diferença na performance dos ciclistas completamente reidratados daqueles que não receberam nenhum líquido.
Esse estudo fez parte de um movimento crescente conhecido como “beba quando tiver sede”, que espera persuadir atletas para não se hidratar de forma exagerada para evitar o risco de diluir seu nível de sódio.

Sem surpresas

Talvez o resultado não devesse ser tão surpreendente. O ser humano evoluiu fazendo exercícios em ambientes de extremo calor e baixa umidade.
Somos capazes de tolerar a perda de água relativamente bem, mas a hidratação demasiada pode ser muito mais perigosa. Em termos simples: ter água em excesso no corpo é tão ruim como o oposto.
Mas e como fica o resto de nós que não estamos andando de bicicleta em um deserto na Austrália?
Há uma ideia muito bem aceita de que devemos beber cerca de oito copos de água por dia (dois ou três litros) além da comida e das outras bebidas que já consumimos normalmente.
Estamos inundados com mensagens positivas sobre as propriedades de cura da água e como ela é boa para praticamente todas as partes do corpo, desde o cérebro até os intestinos.
Daí a pensar que uma falta de água é ruim para você não é nada mais que um passo lógico – assim como a ideia de que a hidratação deve ser boa, purificando, limpando seus órgãos, desintoxicando. Ela certamente melhora sua pele, te ajuda a pensar, reduz o disco de desenvolvimento de pedras nos rins, torna sua urina com cor límpida de champanhe se comparada à calda cor de laranja fétida que produzimos em um longo dia, quando não foi possível tomar uma quantidade suficiente de líquido.
Então eu encontrei um artigo dizendo tudo isso e muito mais. Foi escrito por um grupo de médicos respeitados de hospitais americanos e franceses e apoia claramente a crença de que você deve beber dois a três litros de água por dia.
Afirma que as pessoas com um elevado volume urinário têm uma menor taxa pedra nos rins, que a ação de lavagem da água pode reduzir o risco de infecção do trato urinário (especialmente em mulheres após o sexo).
Talvez o mais importante, os autores fazem referência a um estudo surpreendente que mostrou que, paradoxalmente, o aumento da ingestão de água eleva o risco de câncer de bexiga. Mas só se for água da torneira. Mas há um porém ainda mais importante.
Uma nota de rodapé no final do artigo explica que o que você pensou que era um texto científico em uma revista científica é na verdade um suplemento patrocinado por um grande fabricante de água mineral. Todos os autores receberam honorários desta empresa, que também prestou assistência teórica. Portanto, esta não é uma pesquisa, mas uma peça de marketing.
E essa é uma das razões pelas quais nós ainda estamos discutindo isso – porque cada vez mais a água potável não vem gratuitamente de nossas torneiras. É vendida pelas mesmas pessoas inteligentes que nos vendem iogurtes com bactérias que provavelmente não nos fazem tão bem assim. E estas empresas são bastante consistentes em recomendar dois a três litros de água por dia.

Origem do número

Então, de onde é que esse número vem e qual a razão para pensar que é correto?
Bem, o grão de verdade é que as pessoas que vivem em climas temperados e que não estão fazendo exercício físico precisam de cerca de seis a oito copos por dia, que podem estar contidos nos alimentos, bebidas alcoólicas ou bebidas com cafeína.
Sim, cerveja e café não desidratam em qualquer medida visível (há uma boa pesquisa na qual alguns estudantes de medicina beberam um monte de cerveja e depois tiveram sua urina estudada). Não há provas de que a adição de oito copos de água a tudo o que você bebe vai fazer algum bem.
Mas a grande vantagem é que, assim como um atleta de alto nível, você não precisa se preocupar com essa exigência sobre o total de água diário, porque seu corpo vai resolver tudo isso por você.
Se você beber demais, vai fazer xixi demais. Se você beber muito pouco, vai ficar com sede e urinar menos. É tudo extraordinariamente bem controlado, da mesma forma que o consumo de oxigênio é bem controlado.
Dizer que você deve beber mais água do que seu corpo pede é como dizer que você deve conscientemente respirar mais frequentemente do que você respira naturalmente, porque se um pouco de oxigênio é bom, então, mais deve ser melhor.
Como a maioria das coisas na vida há um ponto de equilíbrio, uma quantidade não muito pequena nem muito grande.
Matéria da BBC Brasil, reproduzida pelo EcoDebate, 15/10/2013

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