Agricultor que mora próximo ao Rio Ligeiro Bonito e usa a água do manancial
para irrigar suas pastagens é contra as obras da Sanepar
Agricultores de Itapejara D’Oeste são contra obras da Sanepar no município
Obras são para ampliar o sistema de abastecimento do município, que vem seguidamente enfrentando problemas com a falta de água
Dayanne do Nascimento
DIÁRIO DO SUDOESTE
No final do ano passado, a Sanepar iniciou trabalhos no interior de Itapejara D’ Oeste para mudar o reservatório de captação de Água do Rio Vitorino para o Rio Ligeiro Bonito e, assim, ampliar o sistema de abastecimento de água do município. No entanto, as obras começaram a trazer preocupações para os agricultores que moram as margens do Rio Ligeiro e costumam fazer a captação de água para usar nas suas propriedades. A principal dúvida é se no período de estiagem o rio continuará atendendo às demandas das propriedades rurais, como vem fazendo atualmente.
Preocupados com a situação, um grupo de agricultores chegou a fazer um abaixo assinado contra as obras e levou, no mês de novembro de 2013, o caso até a promotoria pública, para que essa repassasse o caso ao Ministério Público. A advogada que representa os agricultores e também possui terras na localidade onde o rio passa, Salete Czornobai, disse que a Sanepar informou que foram feitos estudos sobre a qualidade e capacidade do rio, mas esses dados nunca foram apresentados aos agricultores. “Se existem esses estudos, eles têm que ser públicos, nós queremos ver”, destacou.
Ela ainda questionou que o valor que está sendo investido é muito alto para uma obra que a população tem receio que seja inviável. “Quem vai responder por esse valor que está sendo aplicado quando acontecer a primeira estiagem e faltar água para o pessoal da cidade e do interior? Quem vai se responsabilizar por essa verba pública, por esse dinheiro que é nosso e está sendo investido em uma obra que não tem viabilidade?”.
Uma sugestão da advogada é que o prefeito visite essas famílias, que converse principalmente com os moradores que estão lá há mais de 50, 60 anos. “O povo tem que ser ouvido. É bom que ele vá lá e converse com o povo e escute o que eles têm a dizer, porque é quem vive lá que sente na pele”, enfatizou.
O agricultor José Eduardo Ferreira Terres mora próximo ao Rio Ligeiro Bonito há mais de 40 anos. Ele costuma usar a água do manancial para fazer a irrigação das pastagens, principalmente no período de seca, e é um dos agricultores que apoia o pedido no Ministério Público para a paralisação dos trabalhos por acreditar que a obra da Sanepar vai trazer prejuízos para os moradores que necessitam do rio. Segundo o agricultor, com o passar do tempo ele percebeu que a vazão do rio já não é a mesma de antigamente, que vem diminuindo. Por isso a preocupação é ainda maior, que com a obra da Sanepar futuramente eles fiquem sem água.
Outro agricultor que também é contra as obras é o ex-vereador Neuto José Fabiane. Ele afirma que a vazão do rio não é suficiente para o projeto que a Sanepar está executando. Tanto que, no ano passado, segundo ele, o Corpo de Bombeiros chegou a fazer a retirada de água para uso na época de estiagem, provocou uma diminuição significativa no leito do rio. “Eu moro ali há mais de 40 anos, e quem mora ali sabe que em época de estiagem o rio seca. Essa é a nossa preocupação. E, com o investimento de R$ 4 milhões, nós queremos ter uma água de qualidade”, afirmou Fabiane, que solicitou a ajuda da população de Itapejara e das entidades organizadas da cidade para resolver essa questão.
Sanepar
Na tarde de quarta-feira (29), o superintendente regional da Sanepar, regiões oeste e sudoeste do Paraná, Renato Mayer Bueno, visitou a região e passou por Itapejara D’Oeste. Ele explicou que desde 1999, quando começou a ser estudada a possibilidade de ampliação do abastecimento de água do município, as alternativas encontradas foram de dois rios, o Coxilha Rica e o Lageado Bonito. Dentro das características dos rios, o mais indicado foi o Lageado Bonito, que vem, então, desde esse período, sendo acompanhado pela equipe da Sanepar.
Bueno explicou ainda que essas obras de ampliação eram para terem acontecido entre 2005 a 2007, mas só agora foram liberadas para execução. Ele também ressaltou que a obra é necessária porque o Rio Vitorino hoje possui três drenagens, em Pato Branco, Vitorino e Bom Sucesso do Sul, e já não atende a demanda de Itaperaja D’Oeste.
Sobre a preocupação dos agricultores, ele disse que o Instituto das Águas do Paraná liberou para uso da Sanepar 50% da vazão do rio, sendo que a empresa irá utilizar 40%. Ele também informou que, mediante os estudos realizados, o rio poderá atender Itapejara por mais 30 anos sem prejudicar o uso da água pelos agricultores. Quanto às questões levadas a justiça, ele informou que o setor jurídico da Sanepar é que está cuidando desta questão.
Falta de água
Uma das sugestões dos agricultores, e que também já foi apontada pela Câmara de Vereadores de Itapejara D’Oeste em 2012, é a construção de poços artesianos. No documento expedido pelo poder legislativo na época foi solicitada à Sanepar a realização de um estudo de impacto ambiental do projeto. Segundo Fabiane, existe no município propriedades que possuem poços artesianos e que a água vem sendo usada para dar de beber aos animais.
Sobre a abertura dos poços, o superintendente regional da Sanepar explicou que o Aquífero Serra Geral Sul, que é o que passa pela região, não tem água em algumas áreas, como as que passam pelos municípios de Pato Branco, Bom Sucesso do Sul, Itapejara D’Oeste e Coronel Vivida, e, por isso, essa alternativa foi descartada pela Sanepar.
Outro questionamento dos agricultores é por que não usar as águas do Rio Santana. Bueno também explicou que na época dos primeiros levantamentos foi pensando neste rio, mas hoje ele está muito próximo de indústrias, como laticínios e intensa criação de suínos, que são aspectos que dificultam o seu uso pelo município de Itaperaja D’Oeste.
Obras
A expectativa de conclusão das obras da Sanepar é até o final deste ano. No momento está sendo feita a estação de tratamento, o reservatório, as lagoas e as tubulações. Inclusive, Bueno explicou que não será feita uma barragem grande, que possa provocar a inundação de áreas. O que será feito é uma barragem de nível, com cerca de 80 centímetros, partindo da lâmina de água, para ser feita a captação.
Solução
Para explicar aos agricultores e também discutir a situação com a população de Itaperaja, o prefeito Eliandro Luiz Pichetti sugeriu à equipe da Sanepar para fazer uma audiência pública para tranquilizar os moradores, a qual deverá ser marcada nas próximas semanas.
O prefeito explicou que a necessidade do município de ter esta obra é muito grande, e ela é a única a forma de resolver o problema de falta de água que Itapejara vem enfrentando constantemente. “Essa é uma obra de R$ 4 milhões, o que não é pouco dinheiro, e que vem de encontro à necessidade da nossa população”, afirmou. Fonte: DIARIO DO SUDOESTE
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