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5 de setembro de 2009

EM BUSCA DE ÁGUA PARA A REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO (III)



Avaliação do Abastecimento de Água na RMSP

Eng. Júlio Cerqueira César Neto




1. Qualidade

Considerando o nível de qualidade das águas dos nossos mananciais especialmente no que se refere à presença dos chamados poluentes emergentes, as ETAs do sistema já deveriam ter instalado os tratamentos avançados disponíveis para preservar a saúde dos usuários. Esses poluentes emergentes não são retidos pelos tratamentos convencionais ainda em uso pela SABESP.

2. Quantidade – Demandas X Disponibilidades

Em 2010 – População: 20 milhões de habitantes

De acordo com a curva demanda – atendimento do PDAA da SABESP seriam necessários mananciais com capacidade de 71 m³/s, já descontados os 1,8 m³/s de redução conseguidos com o controle de perdas.

Previsão dos geólogos relativas ao uso das águas: subterrâneas 10 m³/s

Consumo total : 81 m³/s

Disponibilidades: 76 m³/s

Déficit do sistema: 5 m³/s

Obs.: Águas subterrâneas – Considerando não ser indicada a ampliação do uso das águas subterrâneas tendo em vista que o seu uso irracional, desordenado e predatório poderá levá-la a qualquer momento ao colapso e que a tentativa de sua ordenação iniciada pela Agência da Bacia, como o Projeto Poço Legal, foi frustrada com a sua desativação há já mais de 3 anos, foi mantido o seu consumo inalterado em 10 m³/s.

É importante registrar que, conforme avaliação dos geólogos, uma vez ordenado e racionalizado o seu uso, esse manancial poderia fornecer até 25 m³/s.

Em 2015 – População: 21,4 milhões de habitantes

O consumo estaria em 86,67 m³/s e a disponibilidade em 81,7 m³/s já incluído o aporte de 5,7 m³/s do SPAT.

O déficit ficaria em 4,97 m³/s – praticamente mantido.

Em 2025 – População: 24 milhões de habitantes

O consumo chegaria a 98,3 m³/s e a disponibilidade seria mantida em 81,7 m³/s tendo em vista que os novos aportes previstos pela SABESP, Juquitiba, Itatinga e Itapanhaú dificilmente serão viabilizados ambientalmente.

O déficit atingiria 16,6 m³/s

Balanço1: Mantendo a política da SABESP de planejar o sistema “sem folgas”.

O sistema atual apresenta déficit de 5m³/s que deverá ser mantido até 2015 desde que chegue o aporte de 5,7 m³/s do SPAT já contratado.

O sistema prescinde de definição de 16,6 m³/s para atender ao consumo até 2025.

Obs.: Um sistema desse porte não deve ser planejado “sem fogas”: os imprevistos acontecem, dentre eles a ocorrência de anos hidrológicos desfavoráveis como já experimentamos em 2003, e as manobras necessárias para atende-los são de tal vulto e complexidade que a prudência e o senso de responsabilidade indicam no sentido de dota-lo de folga adequada.

Balanço2: Com inclusão de 10% de folga no sistema.

O sistema atual apresenta um déficit de 13 m³/s que deverá ser mantido até 2015 desde que chegue o aporte de 5,7 m³/s do SPAT já contratado.

O sistema prescinde da definição de mais 26,43 m³/s para atender o consumo até 2025.

Obs.: Considerando que qualquer obra desse porte necessita de um prazo de execução não menor que 5 anos conclui-se que a sua definição não pode ser mais postergada, e, mesmo que seja definida já, manterá o sistema deficitário até 2015.

Agravantes:

• Ocorrência de ano hidrológico desfavorável.

• Colapso do abastecimento do manancial subterrâneo.

• Interdição do Guarapiranga como manancial.

• Necessidade de repartir o sistema Cantareira com a bacia do Piracicaba a partir de 2014 (renovação da outorga).

Atenuantes:

• Melhores resultados no controle das perdas.

• Eficácia nos programas de gestão da demanda e controle dos desperdícios.

• Continuidade de anos hidrológicos favoráveis.

3. Possibilidade de Solução

3.1. PDAA da SABESP

• Captações no Juquiá-Juquitiba (4,7 m³/s), otimização Guarapiranga (1,7 m³/s), braço do Rio Pequeno (2,2 m³/s), Itapanhaú (2,8 m³/s) e Itatinga (2,1 m³/s) num total de 13,5 m³/s.

• Esses mananciais se encontram na Serra do Mar e terão sérias dificuldades para obtenção de licenciamentos. No mínimo terão de enfrentar um prazo muito grande o que inviabiliza a reversão dos déficits previstos.

3.2. Reservatório França

• Situado no Alto Juquiá, manancial totalmente protegido contendo águas de excelente qualidade e vazão regularizada de 20 m³/s.

• Um túnel de recalque colocaria as águas na cota 840 a montante da zona oeste, a de maior demanda, possibilitando a sua distribuição por gravidade de forma muito semelhante ao Sistema Cantareira. Essa solução proporcionaria um perfeito equilíbrio do sistema de produção da região: Cantareira ao norte, SPAT à leste, Guarapiranga e Billings ao sul e França a oeste.

• As obras necessárias não produzem impactos ambientais.

• O reservatório é propriedade da CBA – Companhia Brasileira de Alumínio do Grupo Votorantin que possui outorga de uso até 2016. Se as obras forem iniciadas de imediato estariam prontas na ocasião do vencimento da outorga.

• Para a bacia do Ribeira de Iguape essa retirada de água pode ser considerada desprezível. Esse rio apresenta na seção de Registro vazão média de 450 m³/s.

3.3. Captação no Baixo Juquiá

• Esse projeto é mais ambicioso. Pretende atender além da RMSP as bacias do Sorocaba e Piracicaba (Eixo Sorocaba-Campinas). Foi elaborado pela empresa Isoterma.

• Prevê captação de 40 m³/s no baixo Juquiá à montante da cidade de Juquiá (cota 30) em seção que apresenta vazão média de 120 m³/s.

• Um túnel de recalque colocaria as águas no planalto nas imediações da cidade de Tapirai a uns 40 kms de Sorocaba e 70 km da zona oeste da RMSP.

• O projeto inclui uma usina hidroelétrica reversível para operar na ponta o que o caracteriza como de duplo objetivo: abastecimento de água e produção de energia.

• As obras necessárias não produzem impactos ambientais.

3.4. Para a bacia do Piracicaba

Para que esta bacia desista de pleitear maior repartição do Sistema Cantareira com a RMSP a partir de 2014 são indicadas as soluções

seguintes:

• Barragens de regularização na própria bacia nos rios Camanducaia e Jaguari.

Esses aproveitamentos previstos há cerca de 20 anos e até agora ignorados, estão em vias de se tornarem inviáveis tendo em vista a ocupação das bacias.

• Reversão do reservatório Jaguari da bacia do Paraíba do Sul para os reservatórios do Sistema Cantareira para ser utilizada pela bacia do Piracicaba.


Julio Cerqueira Cesar Neto
11 36669924 - 11 99137065
http://www.juliocerqueiracesarneto.com/

Enviado pelo amigo e colaborador: Eng. Julio Cerqueira Cesar Neto (Engenharia Hidráulica, Sanitária e Ambiental - POLI/USP) - conheça mais



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2 comentários:

  1. R. Salles Costa - São Paulo05 setembro, 2009 22:53

    Muito interessante esses artigos que estão publicando no site sobre as águas para São Paulo e Região.
    Vocês conhecem o Plano inter-regional do DAEE sobre esse assunto?
    Podem ver em: http://www.daee.sp.gov.br/acervoepesquisa/perh/perh90/Perh9011c.htm

    Salles - SP

    ResponderExcluir
  2. Prof. Jarmuth/Equipe ISOSRiosBr05 setembro, 2009 23:25

    Excelente material meu caro internauta Salles Costa!
    Vamos aproveitá-lo para uma próxima postagem sobre essa série que estamos publicando "EM BUSCA DE ÁGUA PARA A REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO (IV)

    Se descobrir mais artigos sobre o assunto, por favor, nos envie.

    Prof. Jarmuth

    ResponderExcluir

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