José Luiz Malta Argolo faleceu nesta antevéspera do Natal. Não conseguiu superar as sequelas do agudo infarto que sofreu quando caminhava na orla de Maceió, quem sabe pensando no livro que estava escrevendo sobre a história do Clube de Regatas Brasil, o CRB, ou então preocupado com algum assunto ligado à ecologia, duas de suas grandes paixões depois da família a quem ele amava acima de tudo o mais, com aquela intensidade e paixão características das coisas que fazia ou das causas nas quais se envolvia.
Por essas horas as amendoeiras que ornamentam o lado oposto da fachada do seu edifício, na esquina da Álvaro Calheiros com General Newton Cavalcante, devem estar chorando em coro com a brisa do mar. Amendoeiras com as quais se abraçou, enfrentando até mesmo um batalhão de policiais para evitar que uma estúpida decisão administrativa consumasse o corte das árvores que anos atrás ele mesmo plantou com todo o carinho e cujo único crime –tal qual alegado pelos desnaturados burocratas que autorizaram o seu corte- era “sujar o passeio público com folhas secas.” As amendoeiras sobreviveram, mas seu protetor já não está mais entre nós.
A natureza com toda a segurança está de luto porque perdeu, em Alagoas, o mais apaixonado e destemido dentre os seus defensores. Magro, alto, determinado, firme como uma rocha quando se tratava dos princípios em que acreditava, Argolo não se vergava ante nada, a menos que estivesse convencido da justeza e da honestidade embutida em algum propósito. Por isso nunca abandonou a luta em defesa do meio ambiente, mesmo sabendo da sua complexidade, das ameaças e antipatias que atrai, da incompreensão que ainda provoca, porque é difícil mudar comportamentos e isso exige grande paciência. Argolo, no entanto, tinha pressa, porque cada devastação de manguezais, cada incêndio de mata atlântica, cada poda exagerada e desastrada de árvores ornamentais, ele sentia como se fora em seu próprio corpo, em sua própria pele.
Em muitos lugares do território de Alagoas haverá tristeza no ar. Nas matas de Murici, que Argolo ajudou a preservar participando da luta dos ambientalistas contra a ignorância de gente poderosa, que pôs abaixo o pouco que ainda resta da nossa biodiversidade para criar gado de duvidosa procedência, ou nas restingas do litoral, cujos últimos remanescentes Argolo defendia com unhas e dentes preocupado com a insaciável voracidade do mercado imobiliário.
Certa vez Argolo enfrentou um processo judicial porque teve a ousadia de conclamar a população a não consumir pizzas de estabelecimentos que estivessem utilizando madeira não licenciada nos seus fornos. Acusado de radical, defendeu-se da maneira mais singela que é possível imaginar: recorreu ao Código Florestal e demonstrou que estava apenas tentando aplicar, ao pé da letra, as leis vigentes no Brasil. Uma atitude sem dúvida radical para os padrões do faz-de-conta que ainda é muito forte em nossa sociedade.
Mesmo angustiado com a lentidão do avanço da consciência ambiental, Argolo não ficou apenas no terreno da denúncia. Procurou ser propositivo. Fundou a Sociedade Ambientalista Mãe Natureza (SAMAN) e foi tão fundo no seu afã de promover o respeito pela ecologia e a cultura do ambientalismo, que chegou a abandonar sua longa trajetória de comerciante para se dedicar exclusivamente à preservação e conservação da natureza.
Diretor de Recursos Hídricos da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Alagoas, empenhou-se a fundo na formação dos comitês de bacias hidrográficas, no debate da Transposição do São Francisco, no diagnóstico e construção de uma política de gestão das águas subterrâneas e um sem número de atividades incansáveis que ajudaram Alagoas a avançar na gestão ambiental de qualidade.
Membro do Conselho Estadual de Proteção Ambiental, Argolo foi exemplo de conselheiro pelo rigor das análises que fazia em cada processo que relatava e pelo desassombro com que defendia seus pontos de vista. Presidente da SAMAN, ficou nacionalmente conhecido no Fórum Brasileiro de Organizações Ambientalistas porque a causa que abraçou não tinha fronteiras.
Argolo foi um homem do planeta, mas amou sua terra natal como ninguém. Amou em sentido bem mais amplo do que costumamos entender, porque não restringiu esse amor somente às pessoas. Estendeu-o à terra propriamente dita, às florestas, aos animais, às plantas, às belas águas das Alagoas, às paisagens, à vida, a tudo que tem vida.
É uma pena que eu esteja aqui fazendo essa homenagem póstuma a Argolo, porque o que ele realmente mereceu e Alagoas não lhe deu foi uma grande homenagem em vida. Porém, antes tarde do que nunca porque, com o passar dos anos, o exemplo de gente como Zé Luís Malta Argolo será devidamente avaliado e apreciado. Argolo viveu à frente do seu tempo. Quando chegarmos mais adiante, em futuro não muito distante, sua imagem estará bem maior, à verdadeira altura do grande alagoano, humanista, desportista e ambientalista que foi. Zé Luís, Saravá! Fonte: Alagoas em Tempo Real
Obrigada pelas palavras, meu pai era e sempre será um grande homem !
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