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4 de outubro de 2013

Pesquisadores, ambientalistas e poder público em prol da conservação do boto-vermelho


 Pesquisadores, ambientalistas e poder público em prol da conservação do boto-vermelho

Uma das sugestões para minimizar o problema da matança do boto é a criação de iscas alternativas, desenvolvidas pela Ampa, Inpa, WSPA e IPi.
                                                                                                               Por Séfora Antela

O boto-vermelho é símbolo da Amazônia e é protagonista de muitas lendas na região. É um animal dócil e muito curioso. Sua biologia é totalmente adaptada para se deslocar na floresta alagada. Tem uma distribuição ampla nos rios da Amazônia brasileira, boliviana, colombiana, equatoriana e venezuelana. Duas espécies são conhecidas atualmente: o boto da Bolívia (Inia boliviensis), que ocorre na bacia do rio Madeira-Beni-Mamoré, e que se encontra atualmente isolado pela barragem da Usina Hidrelétrica de Santo Antônio, logo acima da cidade de Porto Velho, em Rondônia. Essa população é pequena e restrita; Já o Inia geoffrensis, conhecido como boto-cor-de-rosa é mais abundante e habita os principais rios da bacia Amazônica.

E é pra essa espécie que os olhos do mundo está voltado. Enquanto uns lutam para a preservação, por ser um animal ameaçado de extinção e, por isso, protegido por lei; outros, utilizam o boto para fins comerciais, numa pesca totalmente insustentável e ilegal.

Pesca da piracatinga

Segundo registros de estudos desenvolvidos no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - Inpa, em parceria com a Associação Amigos do Peixe-boi - Ampa, organização não governamental que recebe incentivos da Petrobras; desde 2000, o boto-vermelho tem sido morto para servir como isca para a pesca da piracatinga (Callophysus macropterus), um peixe liso, conhecido como urubu d’água. A pesquisa apontou que 10% da população de boto-vermelho, estudada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, vem diminuindo todo ano.

A biologia da piracatinga ainda é pouco conhecida. Até a década passada, o amazonense não consumia e nem comercializada esse pescado. No entanto, após a sobrepesca do Capaz (Pimelodus grosskopfii), peixe muito apreciado na Colômbia, a procura por um tipo similar de bagre para substituí-lo levou os brasileiros a exportar a piracatinga em grande quantidade para esse país. Por conta da grande oferta, a comercialização no Brasil não tardou a acontecer. Atualmente, a venda em mercados e feiras é muito comum. Mas, para se inserir no mercado, ele recebeu o nome de douradinha, que é vendida filetiada com um valor que varia de 12,90 a 19,90 o quilo.

Estudos recentes mostraram que em certas regiões da Amazônia brasileira, a mortalidade dos golfinhos, na última década, aumentou mais do que o dobro por causa dessa pesca. Isso significa que se essa taxa se mantiver, a espécie poderá desaparecer em um futuro não muito distante.
E para evitar que o boto-vermelho fique só no imaginário do amazônida e deixe de existir nos rios da maior bacia hidrográfica do mundo; pesquisadores, ambientalistas e o poder público estão reunidos para criar medidas de conservação da espécie.

Audiência pública

Na última terça-feira, 1º, o Ministério Público Federal realizou uma audiência pública, presidida pelo promotor de justiça Rafael da Silva Rocha, para abertura de Inquérito Civil Público sobre a matança dos botos-vermelhos, no Estado do Amazonas. Na ocasião, representantes da Ampa, Inpa, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis – Ibama, Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, Instituto Piagaçu - IPi, Instituto Chico Mendes – ICMBio e Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável – SDS se pronunciaram sobre o tema.

Segundo Sannie Brum, pesquisadora do Instituto Piagaçu, que atua em parceria com a Ampa e Inpa, em estudo realizado para caracterizar a pesca da piracatinga e mapear áreas de captura de botos na Reserve de Desenvolvimento Sustentável Piagaçu-Purus - RDS-PP, a mortalidade dos botos varia desde alguns indivíduos, utilizados esporadicamente para essa prática por pescadores ribeirinhos, até centenas, já utilizados pelos barcos pesqueiros que frequentam a região.

“Durante expedições para a reserva, é comum observar barcos que pescam a piracatinga e matam botos, com relatos de até 40 indivíduos, sendo capturados em redes, em um único evento para obtenção de iscas. Em junho desse ano, no município de Tapauá (acima da RDS-PP, distante 450km de Manaus), foi encontrada uma embarcação com 20 carcaças de botos esquartejados provavelmente para serem utilizados como isca. Além desses, também temos informações que barcos de pesca estiveram nos rios Tapauá e Cuniuá (afluentes do rio Purus), mostrando que esta atividade acontece em boa parte da bacia do Purus”, ressalta Brum.

Ainda conforme os estudos de Brum, a estimativa de mortalidade do boto-vermelho varia entre 67 a 2500 animais por ano para suprir a produção de piracatinga da área metropolitana de Manaus e a fiscalização para essa prática é um desafio para os órgãos competentes. “Os petrechos de pesca da piracatinga variam. Na RDS-PP e nos municípios próximos, como Manacapuru, utiliza-se principalmente o curral, feito com telas tipo “mosquiteiro”. Eles são extremamente fáceis de transportar e esconder. Eu já vi embarcações utilizando currais de 30 metros quadrados. Já as caixas de madeira, utilizadas no Médio Solimões, são mais aparentes, sinalizando logo a pesca da piracatinga”, explica.

“Informações preliminares dão conta de que a matança está ocorrendo em toda a calha do Rio Solimões, de Santarém, no Pará, e Tabatinga, no Amazonas. Mas isso ainda está sendo investigado. O Ministério Público Federal está colhendo informações sobre os locais onde os botos estão mais vulneráveis e comunicará aos órgãos de fiscalização”, diz Rafael Rocha.

Aliança Boto-vermelho

Foi criada em 2011 com iniciativa da WSPA, da AMPA e do INPA com a finalidade de reunir instituições de diversos segmentos que estejam dispostas a contribuir na temática da conservação da espécie em questão.

A partir dessa aliança, pesquisadores pretendem estudar iscas alternativas, para tentar minimizar o problema. “Durante as entrevistas e expedições, observamos outras iscas (como vísceras de grandes bagres) sendo utilizadas, normalmente, quando os pescadores não conseguiram capturar botos. Estamos pensando agora em como facilitar a utilização e distribuição destas iscas alternativas, torná-las tão eficientes quanto a carne de boto e promover seu uso entre os pescadores. É importante lembrarmos que a pesca da piracatinga não é crime, o problema são as iscas. Se tivermos iscas que não agridam a legislação e o meio-ambiente, podemos tornar esta atividade sustentável, respeitando o recurso e promovendo renda para as comunidades”, salienta Brum.

Isca alternativa

O projeto para elaboração das iscas alternativas será realizado pela AMPA, com patrocínio da WSPA e colaboração do IPi. O Instituto Piagaçu se une agora a Aliança Boto-vermelho com o projeto “Peixes da Floresta”, patrocinado pela Petrobras por meio do programa Petrobras Ambiental. “A partir do ano que vem o IPi irá realizar testes de iscas, mais pesquisas sobre a cadeia produtiva da atividade e biologia da piracatinga e, principalmente, irá promover a educação dos pescadores para a pesca consciente dessa espécie”, reforça Brum.


https://www.facebook.com/peixeboi.ampa
http://www.ampa.org.br 

A Associação Amigos do Peixe-boi atua na Amazônia, apoia e coordena campanhas ambientais, atividades de pesquisa e Educação Ambiental focadas nos mamíferos aquáticos da Amazônia: peixe-boi, boto-vermelho, tucuxi, ariranha e a lontra. 

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Um comentário:

  1. Fico muito feliz que tem pessoas e instituições preocupadas em salvar nossos amigos botos do Brasil,estou seguindo este blog com muito orgulho! Obrigada

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