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30 de maio de 2009

PROTESTO DOS PESCADORES DA BAÍA DE GUANABARA POR POLUIÇÃO DE OBRAS DA PETROBRAS


Protesto de pescadores, no dia 27/5, em frente à Petrobras. Foto de Norbert Suchanek

Redes vazias pela Petrobras

por Norbert Suchanek - EcoDebate - 30/05/2009

Já desde 2000, quando um acidente da Petrobras poluiu grande parte da Baía de Guanabara, milhares de pescadores do Rio de Janeiro voltam com redes vazias para casa. Por anos os pescadores lutam por compensação.

Agora uma nova obra da Petrobras piora a situação da pesca na Baía de Guanabara. Por isso, pescadores da Associação Homens do Mar fizeram uma manifestação no dia 27 de maio, no Centro do Rio de Janeiro, em frente ao prédio desta maior empresa do Governo do Brasil. O Sindicato dos Petroleiros está apoiando os Pescadores.

Petrobras. O Petróleo é nosso e o Peixe também” é a palavra dos sindicalistas. Porque o homem com petróleo, mas sem comida, sem peixe, não existe. “É uma coisa simples”, diz Ronaldo Moreno, assessor do Sindicato dos Petroleiros, “Os pescadores estão sendo prejudicados por essa obra. E Petrobras precisa pagar este prejuízo que os trabalhadores estão tendo.”

Estas são três Entrevistas de Norbert Suchanek com Pescadores e Membros da Associação Homens do Mar que participaram do protesto.

Petrobras e a morte de um Pescador
Entrevista com Alexandre Anderson, morador e pescador da Praia de Mauá, Município de Magé, na Baía de Guanabara e um dos líderes do Grupo Homens do Mar. No início de maio ele sobreviveu a um atentado, mas continua lutando contra a destruição da Baía e da vida dos pescadores.

Norbert Suchanek: Por que os pescadores e o seu Grupo Homens do Mar estão fazendo esta manifestação em frente à Petrobras?
Alexandre Anderson: Nós protestamos, fazendo um ato contra o descaso da Petrobras junto aos pescadores da região. Visto que a Petrobras, desde 2002, ela executa obras no mar da Baía de Guanabara, área anteriormente usada somente para pesca artesanal. E ela faz estas obras, degrada o meio ambiente, eles danificam nosso material, ocupam o espaço de pesca, e até a data de hoje, no ano de 2009, eles não ofereceram nenhuma alternativa para os pescadores da região. Então, isso está causando muito transtorno, inclusive agora, há poucos dias, devido a essa nossa manifestação, protesto e denúncia, causou a morte de um diretor, de um companheiro nosso do Grupo Homens do Mar.

A obra da Petrobras, o Projeto GLP da Baía de Guanabara, é o que?
Alexandre Anderson: Esta obra consiste no lançamento de duto submarino, são duas linhas de duto, cada uma com 13,5 km no mar. Ela utiliza a Baía de Guanabara por total. Praticamente ocupa toda a nossa área de atividade.

E isso cria impactos graves para a pesca na Baía de Guanabara?
Alexandre Anderson: Só que durante a implantação e até o término e manutenção, ela causa impactos irreparáveis na pesca, porque devido a sua exigência de utilizar várias embarcações de grande porte, como rebocadores e balsas, então isso impossibilita totalmente a pesca na região. Fora isso, sem contar a destruição do manguezal da região, a questão da sonorização, a questão do terminal que ocupa um espaço que nunca mais vai ser nosso. E nós sempre lutamos para que a Petrobras identifique nós pescadores que estamos sendo atingidos e forneça uma alternativa viável para aquelas centenas de milhares de famílias que vivem daquela pesca há anos.

E agora, no dia 22 de maio, um membro do sue grupo Homens do Mar foi assassinato?
Alexandre Anderson: É Paulo César, pescador, um dos fundadores da Associação Homens do Mar. Uma das lideranças do Grupo Homens do Mar. Ele foi assassinado, de acordo com o levantamento da polícia local, o motivo principal que eles estão buscando averiguar é que eles cogitam o envolvimento com os nossos protestos e as nossas denúncias. A morte dele está ligada aos empreendimentos da Petrobrás.
Obrigado!

A luta sem Fim
Peixes contaminados, uma empresa do Governo, Petrobras, que não quer compensar, e uma luta que precisa continuar: Entrevista com Messias Antonio Nascimento Filho também pescador e membro da Associação Homens do Mar da Baía de Guanabara, em Magé.

Norbert Suchanek: Quantos pescadores têm na sua comunidade Magé?
Messias Antonio Nascimento Filho É difícil falar, porque são um perto do outro, nós somos mais de 300 famílias que vivem diretamente da pesca na Baía de Guanabara.

E quantas pessoas ainda dependem da pesca artesanal na Baía de Guanabara hoje, de um modo geral?
Messias: Hoje na Baía de Guanabara, eu não tenho uma base para falar quantos pescadores têm. Mas na nossa Associação tem 500 e poucos pescadores que vivem diretamente da pesca.
Mas já mais de 20 anos a Baía de Guanabara está altamente contaminada com resíduos industriais tóxicos, metais pesados, lixo e esgoto do Rio de Janeiro.

Não existe um risco, que o peixe da Baía também esteja altamente contaminado?
Messias: A gente não pode falar o grau de contaminação, porque não sabemos. Mas nós sabemos que o peixe está contaminado. Muito contaminado. Devido a muitas quantidades de óleo. Principalmente obras que revirando a Baía de Guanabara faz subir muitas coisas tóxicas e está contaminando os peixes. Mas com todos estes problemas, ele ainda é o melhor alimento para o pescador.
No ano 2000, aconteceu um acidente grave da Petrobras, que poluiu a Baía e os mangues com milhares de litros de petróleo.

Os pescadores afetados já foram indenizados?
Messias: Nos primeiros meses, para poder amenizar o problema, eles repassaram 750 reais para os pescadores e depois disso nunca mais. E foi dito, principalmente pela FEEMA, que o meio ambiente ia ficar degradado durante 10 anos. E estamos lutando até hoje na Justiça para poder ver se eles conseguem reparar estes danos que eles causaram à gente, mas até agora nada.

A sua comunidade também foi afetada?
Messias: Muito, muito! Em si, as comunidades da Baía de Guanabara toda, porque nós não temos uma reta só para pescar. Nós pescamos em tudo quanto é lugar. O peixe anda, onde o peixe está, nós estamos. Então, tem manguezal que até hoje tem óleo agarrado ainda. Principalmente a Pedra da Baía de Guanabara ainda tem a mancha de óleo de 2000 ainda.

Então ainda tem uma luta para ganhar compensação da Petrobras?
Messias: Ainda temos esta luta. Além desta luta de agora, tem esta luta que vai fazer 9 anos e solução nenhuma. Eles alegam que já pagaram, mas nós pescadores queremos saber para quem eles pagaram.

E com a nova obra da Petrobras, a sua comunidade está mais uma vez prejudicada?
Messias: A gente está sendo muito prejudicado, porque não tem mais espaço para a gente pescar. O desenvolvimento tem que ter, mas tem que ver o lado de quem está sendo prejudicado. Porque até agora quem está sendo mais prejudicados são os pescadores. Porque as lanchas e rebocadores estão rasgando o nosso material e eles não estão nem aí para o problema que está acontecendo.

Agora o que os Homens do Mar querem da Petrobras?
Messias: Nós queremos que ela repare os danos que ela vem causando, né. Porque eu acho que todos os projetos têm um custo e vê os danos que estão causando a estas pessoas que estão sem tirar o alimento. Temos que pagar a nossa conta de luz, temos que comer e nós não estamos conseguindo fazer isso. Nós estamos pretendendo que ela veja essas pessoas, que dê uma ajuda de custo para estas pessoas sobreviverem.
Obrigado.

Pescadores em Extinção
O pescador artesanal do Rio de Janeiro, com o grande saber tradicional sobre a vida do mar da Baía Guanabara, está em extinção! Entrevista com o pescador Adilson da Conceição, da Comunidade Roncador, Magé. Os homens do Mar o conhecem pelo apelido de Zé Boi.

Norbert Suchanek: Toda a sua família é pescador?
Zé Boi: Não, toda a família não. Eu, meu filho e minha filha. O resto não é mais pescador, já foi pescador. Mas de acordo as coisas que estão acontecendo, eles procuraram outra coisa melhor. Porque o velho não agüenta mais, mas o garoto novo estuda e modifica muita coisa. Ninguém tem mais honra de pescar. A gente pesca porque somos obrigados para sobreviver. Então, por causa disso muita gente hoje não é mais pescador.

Mas os seus antepassados foram pescadores?
Zé Boi: Foram pescadores. Mas de acordo com a situação, o pescador não está arrumando nem para comer, então arranja outro emprego e sai. Agora, o velho, com essa idade ninguém quer empregar mais ele, ele continua na luta.

A sua filha quer continuar a pescar?
Zé Boi: Não quer, mas não tem outra alternativa. Ela arranca cada mês, vende a cada mês, não tem outra alternativa. Os meus netos não vão. Eu tenho certeza que eles estão estudando, nós estamos lutando para tirar, porque… Não adianta, para passar fome, já deixa o velho.

Por que a geração mais nova na quer mais continuar a pescar? A pesca artesanal é uma profissão importante e honesta.
Zé Boi: É honesta, mas não tá dando condição para arrumar nem para sustentar a família. Tem que ser honesto, mas tem que ter o jeito de ganhar para sobreviver e a pescaria hoje não tá dando para sobreviver. Depois desse problema da Petrobras não está dando mais. É por causa disso que a maioria não quer mais pescar. É isso que está acontecendo.

Falta peixe na Baía Guanabara? Ou o preço do peixe é baixo demais?
Zé Boi: Hoje é o preço baixo e não tem a quantidade de peixe que tinha antes da Petrobras. Depois que houve o vazamento de óleo, prejudicou todo o pescador. Os pescadores que estão hoje pescando é porque são obrigados, não tem outro jeito. Porque antes da Petrobras já existia o pescador. Eles entraram, invadiram nossa área, ficaram rico em nossa área, expulsaram e deixaram nós com fome. Eu acho que a Petrobras está completamente errada, entendeu? E a maioria de nós pescadores, infelizmente é analfabeta, porque não tivemos tempo para estudar. E filho de pescador não tem condição de estudar.

Analfabetos escolar, mas com uma grande sabedoria do mar, não é?
Zé Boi: É, isso a gente conhece! É que o mar é nosso, a Petrobras invadiu!

Quantos tipos de peixe ainda têm na Baía de Guanabara?
Zé Boi: O único peixe que ficou ainda é a tainha, o resto dos peixes está sumindo tudo.Ainda tem outros peixes, mas olha, piraúna que tinha muito já não tem mais. Sardinha não tem mais, camarão sumiu, robalo, sumiu tudo. Tem outros peixes, mas o peixe que nós sobrevivemos mais um pouquinho, que dá mais um pouquinho é a tainha.

E a Petrobras também está responsável por algum desmatamento do mangue?
Zé Boi: Desmatamento do mangue, a gente nem vai falar sobre isso, né! Eles estão até tentando revitalizar, então a gente não pode falar sobre isso. Mas a gente está querendo saber até eles plantar e o caranguejo voltar, como é que a gente vai sobreviver? Aí nós já morremos de fome! Quem tem fome, tem pressa. Eles estão tentando, mas até dois, três anos nós vamos viver de que?
Eles não estão vendo isso.
Zé Boi: Nós temos a defesa do peixe. Nós temos a defesa da sardinha, a defesa do camarão. Mas eles cortaram tudo. Agora não tem direito a mais nada!Eu acho que eles mesmos estão acabando com a sobrevivência de nossos netos amanhã. Por causa de que? O caranguejo entra de leite agora, no mês que vem mais ou menos já está no caranguejo mole. Então nós vamos ser obrigados a arrancar esse caranguejo que iria produzir vários e vários outros. Para nós sobrevivermos. Por que não dão condição de tirar esse pessoal do mangue agora? Eles não tão dando esta condição!

Na última semana, saiu no jornal que o IBAMA multou 5 pescadores no sul do Rio de Janeiro, porque eles pescaram camarão na época errada.
Zé do Boi: É, mas se agente não pescar, a gente vai comer o que? Como eu falei agora sobre o caranguejo. Sem condição, a gente vai lá e arranca assim mesmo. Por que a gente vai ter que fazer isso? Porque nós temos que sobreviver! Por que a gente não guarda o pescado neste momento? Porque a gente tem que comer e beber! O senhor entendeu? Eles não estão vendo o lado dos netos deles, dos filhos deles. Porque quando eles vierem, não vai ter mais, porque nós mesmos somos obrigados a acabar!

O senhor e os outros Homens do Mar estão com medo por causa do assassinato na última semana de um dos seus fundadores?
Zé Boi: os pescadores estão todo mundo com medo. Nós estamos ameaçados. Um colega já morreu. Outro já foi tentado. A gente vai pescar e eles cercam nós com arma. Então, nem trabalhar nós estamos podendo trabalhar mais. Já não tem o pescado e eles não estão deixando nós trabalhar. Como é que nós vamos sobreviver? Fica difícil!
Obrigado!

Entrevistas realizadas por Norbert Suchanek, Correspondente e Jornalista de Ciência e Ecologia, colaborador e articulista do EcoDebate.
[EcoDebate, 29/05/2009]


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