HAIKAI COLETIVO
De uma das laterais do restaurante apreciamos a bela vista: o Rio Cachoeira com seu leito rochoso, a mata atlântica preservada por conta da plantação do Cacau que exige árvores frondosas à sua volta, e a vida pulsando ao redor.
Muitas cores. Inúmeros pássaros, como garças e graúnas, à margem do rio espreitando suas presas; outros, ao final da tarde, revoando em busca de abrigo.
Em clima de descontração começamos a escrever haikais. Exercícios apenas, embora frutos da vivência, de momentos observando a natureza.
Alguns deles são individuais, outros foram feitos a seis mãos. Ao final, há até a tentativa de uma renga (que acredito possamos retomar). Os haikais individuais estão assinados com as iniciais de cada autor: George Pellegrini (GP); Piligra (PI); Gustavo Felicíssimo (GF). Os coletivos estão com as três iniciais (GP PI GF).
lamentam a existência -
os carros passeiam
(GF)
e uma ponte solitária -
o mundo é cruel
(GP)
da solidão da existência -
o mar: sua piscina
(PI)
gavião planando -
o olhar aguçado espreita
a presa sonhando
(GP PI GF)
paisagem invernal -
uma pintura abstrata:
roupas no varal
(GP)
reflete a cidade
sob o concreto da ponte -
piligra sorri
(GF)
reflexo difuso -
o rio como espelho vivo
e a imagem de um vôo
(PI)
as garças paradas
são pontos brancos no rio:
velho cachoeira
(GP)
feito uma galinha
a saracura se move:
atriz no tablado
(GF PI GP)
na margem do rio
a garça contempla calma
o peixe arredio
(PI)
as pedras cinzentas -
herança amaldiçoada
do rio cachoeira
(GP)
no voo de uma garça
a eternidade imprópria
sempre me ultrapassa
(PI)
céu azul turqueza
após a mata atlântica
um mar de beleza
(GF)
branco, branco, branco -
é imponenente o império
das garças no rio
(GP)
congelada a estátua
da garça, na margem cinza
é pura poesia
(PI)
desce o rio cortando
ávores, pássaros e pedras -
o olhar do poeta
(GP PI GF)
a pedra polida
deixa o rio insatisfeito -
é a regra da vida
(PI)
a regra da vida
nega a nossa existência -
instinto fatal
(GF)
parado o rio
calado, insonoro -
histórias a fio
na colcha de minha avó
as imagens da infância
(GP)
flores sobre a mesa -
no olhar do poeta triste
o abstrato não existe!
não fosse a ponte sobre o rio
de um dos lados faria frio
(PI GF)
Piligra é Lourival P. Júnior, Professor universitário (UESC/BA) com Mestrado em filosofia pela UFPB (Universidade Federal das Paraíba). Publicou “Fractais”, 1996. Venceu o Prêmio Bahia de Todas as Letras, edição 2009, em parceria com Gustavo Felicíssimo, na categoria Literatura de Cordel. Possui poemas publicados em “Diálogos – Panorama da Nova Poesia Grapiúna”. Blog: http://kartei.blogspot.com/
George Pellegrini é licenciado em Letras pela UESC e doutorando em Literatura e Comunicação pela Universid de Sevilla (Espanha). Recebeu vários prêmios em poesia e conto, entre eles o Jorge Amado (UESB) e o Castro Alves (Salvador). Possui poemas publicados em “Diálogos – Panorama da Nova Poesia Grapiúna”. E-mail: pellegrini13@yahoo.es
Enviado pelo colaborador:
Gustavo Felicíssimo
Fundação Cultural de Ilhéus
(Diretor de Projetos)
www.sopadepoesia.blogspot.com
skype: gustavo.felicissimo
Não fora a beleza do lugar, o rio calmo e lindo... e como diz o poeta: "Muitas cores. Inúmeros pássaros, como garças e graúnas, à margem do rio espreitando suas presas; outros, ao final da tarde, revoando em busca de abrigo", ainda temos esses maravilhosos e competentes poetas, poetando ao cair da tarde...
Só mesmo quem ama e sabe o valor de um rio para uma comunidade pode se expressar assim, com tanta propriedade e competência! Obrigado poetas itabunenses!!!
Prof. Jarmuth Andrade
BLOG SOS RIOS DO BRASIL
boa noite amigos
ResponderExcluirgostaria de saber se existe alguma lei que proíbe a construção que impeça a entrada de pessoas ao leito de um rio, pois aki na minha cidade os propietarios estao colocando cerca e cobrando a entrada das pessoas para faze uma pescaria.
desde já obrigado
amorim.cuiaba@lobo.com
obrigado e espero resposta