Meio ambiente, sucesso e felicidade
Por Vilmar S. D. Berna - Portal do Meio Ambiente
O que é sucesso para nós?
Que critérios usamos para julgar se uma pessoa é bem ou mal sucedida? As nações usam o PIB (produto interno bruto), que mede tudo o que foi comprado e vendido num dado período, então o que não tiver preço, o que não puder ser objeto de compra e venda, não fará diferença na soma total, logo, ainda que se reconheça valor, não terá importância.
Importante é o que tem preço e, por isso, o PIB é insensível. Se cair um avião sobre um edifício, por exemplo, ele cresce, pois mais um avião e um novo edifício terão de ser fabricados, seguros serão pagos, os caixões, flores, enterros custam dinheiro.
Importante é o que tem preço e, por isso, o PIB é insensível. Se cair um avião sobre um edifício, por exemplo, ele cresce, pois mais um avião e um novo edifício terão de ser fabricados, seguros serão pagos, os caixões, flores, enterros custam dinheiro.
E no nível pessoal, como medimos o sucesso? Uma pessoa sem dinheiro, sem posses, que trabalha o dia inteiro, paga aluguel, que vive endividada cheia de prestações pode ser considerada uma pessoa de sucesso? Nos critérios atuais, não. E se ela, assim mesmo, for uma pessoa feliz, respeitada e reconhecida em sua comunidade, amada por sua família, e que desenvolve habilidades culturais, artísticas?
Se o critério de sucesso continuar sendo o econômico, então não só o meio ambiente terá de continuar a ceder mais recursos, como as pessoas terão de comprometer mais tempo de vida ao trabalho para produzir bens e riquezas numa ponta e se endividarem na outra para comprar estes bens em prestações a perder de vista.
Assim, passa a ter valor o que tem preço e pode ser negociado no mercado. O trabalho humano, por exemplo, para produzir coisas tem preço. Já o trabalho doméstico, para manter a casa e cuidar dos filhos, não tem preço, então não será tão valorizado quanto o trabalho para produzir coisas.
A saúde tem valor mas não tem preço. Já a doença tem preço, pois para nos tratar precisamos comprar remédios, pagar consultas e tratamentos, etc.
A felicidade tem valor, mas como não tem preço, não é importante como critério para se julgar o sucesso de alguém. Existem até piadinhas do tipo 'se dinheiro não traz felicidade doe para mim o seu dinheiro e seja feliz' e, 'o dinheiro não traz felicidade. Manda buscar.'
Uma floresta em pé tem valor mas só tem preço quando suas árvores são derrubadas e transformadas em tábuas, móveis, ou cede o espaço para o plantio de outras espécies com preço. Os serviços que a floresta em pé nos oferece gratuitamente tem valor, mas não tem preço, como transformar carbono em oxigênio, fixar o solo e impedir sua erosão ou seu deslizamento, regular o micro clima e o regime de chuvas, permitir que as águas da chuva penetram nos mananciais podendo abastecer poços e nascentes em vez de irem correndo para o mar para virar água salgada. Então, entre ter uma floresta em pé que tem valor e ter uma floresta derrubada que tem preço, não haverá dúvidas, no atual modelo de medição de sucesso, em se derrubar a floresta. Assim, neste modelo, não tem cabimento a idéia de abrir mão da exploração da natureza, pois seria o mesmo que abrir mão de ter sucesso.
E, ainda, o que pode uns pobres bagres, micos, cobras e pererecas diante do direito quase sagrado de ser bem sucedido? Preservação da natureza passa a ser conversa de perdedores, de gente vendida aos interesses econômicos dos estrangeiros que, por sua vez, já se encarregaram de destruir toda a sua natureza e por isso mesmos são admirados pela riqueza que conseguiram! Ao exigirem que países pobres e em desenvolvimento não destruam suas naturezas, estão pretendendo condenar esses povos a serem eternos fracassados, e tem contado com os ambientalistas desses países como seus porta-vozes!!
Uma natureza arrasada é indicadora de que ali tem gente trabalhadora e de sucesso! Logo, não tem cabimento estabelecer limites para este sucesso impedindo que pessoas tão trabalhadoras e nacionalistas deixem de avançar mais e mais sobre a natureza!!
As pessoas sentem-se autorizadas a irem além da destruição ambiental para atender suas necessidades de consumo. Querem é mais! Querem poder acumular o mais que for possível, para atender outras necessidades, a de reconhecimento social e poder. Passam a consumir os recursos do planeta não por que precisam, mas por que querem, podem, merecem!
O resultado disso é que nem bem conseguimos suprir as necessidades básicas de bilhões de seres humanos que passam fome e cuja sobrevivência a cada dia é um milagre, e já estamos avançando além da capacidade de regeracao da natureza em cerca de 30%.
Precisamos urgentemente de um outro indicador de medição de sucesso, que valorize o ganho econômico, mas que também valorize a saúde, a paz de espírito, a qualidade de vida, o tempo de vida dedicado ao domínio de uma arte, à cultura, ao lazer, ao turismo, ao trabalho voluntário pelo bem comum.
Do jeito que vamos, não só a natureza terá de ceder mais e mais como as pessoas terão de dedicar cada vez mais horas do seu tempo ao trabalho para produzirem coisas que comprarão depois endividando-se em prestações a perder de vista, e a sociedade nunca terá tido tantas pessoas infelizes, frustradas, entediadas.
Será isso mesmo que queremos para nossas vidas, e para as vidas de nossos filhos e netos?
Vilmar Sidnei Demamam Berna é gaúcho, nascido em 11/10/1956, em Porto Alegre (RS) e vive em Jurujuba, Niterói (RJ), em frente à Baía de Guanabara, numa comunidade de pescadores artesanais. Por sua luta constante pela formação da cidadania ambiental planetária foi reconhecido pelas Organizações das Nações Unidas – ONU, em 1999, no Japão, com o Prêmio Global 500 Para o Meio Ambiente. Em 2002, recebeu o título de Cidadão Niteroiense e, em 2003, o Prêmio Verde das Américas, entre outros.
www.escritorvilmarberna.com.br / www.portaldomeioambiente.org.
Enviada pelo colaborador VILMAR BERNA - Prêmio Global 500 Para o Meio Ambiente
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