1126 Um diploma para manejar desastres
Yotsukura, em Fukushima, foi uma das aldeias devastadas pelo terremoto. Foto: Suvendrini Kakuchi/IPS
Tóquio, Japão, 14/11/2011 – Oito meses depois do terremoto e do tsunami que devastaram o nordeste do Japão, a sociedade civil trabalha para mitigar o impacto de futuras calamidades naturais, tanto no país quanto no exterior. Um exemplo é um novo programa da Peace Boat, organização não governamental com sede em Tóquio, para treinar brigadas de “líderes voluntários para o alívio de desastres”. Seu objetivo é acelerar o recrutamento, a capacitação e o deslocamento efetivo e seguro de voluntários em situações de crise.
O Programa Capacitação de Líderes Voluntários para o Alívio de Desastres, que pretende formar cerca de quatro mil pessoas, tanto japonesas como de outros países, realizou no dia 12 sua primeira sessão de oito dias em Ishinomaki. Esta cidade portuária sofreu a maior perda de vidas de todo o país, por culpa da ação combinada do terremoto de nove graus e do tsunami registrado na tarde de 11 de março. No total morreram 3.278 pessoas e 668 foram dadas como desaparecidas, em uma população de 163 mil habitantes. Um terço do pessoal de serviço civil da cidade morreu no desastre. Em todo o país foram confirmados quase 20 mil mortos e desaparecidos.
Ishinomaki é o ponto central do apoio ao alívio de desastres que organizações não governamentais nacionais e internacionais proporcionarão. Segundo um informe divulgado pela entidade no começo de outubro, no final de agosto a Peace Boat sozinha havia coordenado o trabalho de 6.695 voluntários. “Esta é a primeira vez que organizações da sociedade civil coordenam voluntários de alívio de desastres nesta escala no Japão”, disse à IPS o coordenador da entidade, Takahashi Maho.
Segundo Maho, “não houve suficientes organizações ativas na capacitação de pessoal para atuar nos vitais papéis de coordenação como líderes voluntários que podem ajudar a manejar os centros de alívio de desastres, fazer contato com governos locais e outras organizações e manejar equipamentos de voluntários de maneira segura e efetiva”. “Demoramos algumas semanas para treinar os voluntários. As duas primeiras semanas são cruciais na resposta aos desastres. Esperamos mitigar os danos originados na perda de tempo, usando, desta vez, as lições que aprendemos e estando prontos para a próxima vez”, explicou Maho à IPS.
O novo programa de capacitação incluirá três dias de painéis e debates sobre desastres naturais, treinamento em matéria de conceitos básicos sobre o trabalho dos voluntários no alívio de desastres e em primeiros auxílios psicológicos, manejo de segurança e crise, e também o papel dos líderes voluntários. Os participantes finalizarão o curso com dois dias de aulas práticas, dirigindo sua própria equipe de voluntários e aprendendo como reagir às várias possíveis situações nos esforços de alívio de desastres.
Os formados receberão um certificado onde constará sua formação como “líder voluntário no alívio de desastres”. Também poderão fazer um curso avançado para se converterem em “treinadores certificados em alívio de desastre”. “Esperamos formar voluntários japoneses e compartilhar este modelo com outras organizações não governamentais, governos locais e governo nacional”, acrescentou Maho. Inicialmente, as sessões serão apenas em japonês, mas a Peace Boat pretende oferecer treinamento também em inglês para voluntários internacionais a partir do próximo ano.
Ishinomaki está se convertendo em um modelo do que a sociedade civil pode fazer. O presidente da organização, Yamamoto Takashi, disse que quando chegou, no dia 17 de março, não podia acreditar que o que via era o Japão. A escassez de alimentos, água e combustível persistiu até abril, acrescentou. Em cooperação com o Conselho de Bem-Estar Social de Ishinomaki, muitas organizações não governamentais nacionais e internacionais puderam enviar para a cidade milhares de voluntários para um árduo trabalho de limpeza. E o fizeram na órbita do Conselho de Assistência de Alívio de Desastres de Ishinomaki, criado por cerca de 30 entidades da sociedade civil, e da autoridade local para coordenar as ações dos voluntários.
Takashi afirmou que as preocupações de que a chegada de voluntários complicaria os esforços de resgate e alívio foram infundadas. Chegaram cerca de 40 mil voluntários em curto e longo prazos, informou. “Pensamos que o processo de limpeza demoraria quase dois anos, mas todo o trabalho feito pelos voluntários ocorreu rapidamente”, acrescentou. Em meados de outubro já havia um grande avanço na limpeza de centenas de milhares de toneladas de lama e escombros. Entre fábricas destruídas, o porto começou timidamente a retomar suas atividades.
Um sinal que pautou a transição da resposta à recuperação após o desastre foi o fechamento dos abrigos, que ocorreu no dia 13 de outubro, ao se completar a transferência dos desabrigados para moradias alternativas ou temporárias. Contudo, Takashi alertou que estas últimas “têm seus próprios problemas”. Os mais importantes são a falta de emprego e transporte. “A principal indústria de Ishinomaki era a da pesca, seguida da fábrica de papel Nipona e da agricultura, mas a pesca foi eliminada quase completamente”, explicou.
Maho disse à IPS que as necessidades de alívio da comunidade local passaram da limpeza para como reabilitar as empresas, as fábricas e as aldeias pesqueiras, bem como se preparar para enfrentar o inverno. Para ajudar a reconstruir a comunidade, a Peace Boat também lançou um semanário de quatro páginas em japonês, o Notícias das Moradias Temporárias, para dar informação essencial aos moradores. Em consequência do terremoto e do tsunami de 11 de março, o Japão também sofreu os devastadores efeitos de um acidente na central nuclear de Fukushima. Envolverde/IPS - AGÊNCIA ENVOLVERDE