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24 de setembro de 2012

AS ÁGUAS MAIS LIMPAS DO BRASIL, SEGUNDO O GLOBO REPÓRTER


FLOR ॐ DE LIS ॐ:
  • TRIÃNGULO MINEIRO-MG-BRASIL
  • COMUNIDADE DAS ÁGUAS


Parque Nacional da Bodoquena guarda as águas mais limpas do país

Parque Nacional da Bodoquena guarda as águas mais limpas do país

Tão transparente dá pra ver o fundo com pedras redondas.seixos moldados pela correnteza. Nem parece água. A sensação é de navegar no ar.

Serra da Bodoquena. Águas tão cristalinas, os peixes parecem voar. Aves coloridas pintam o céu.
Superagui. Águas protegidas, refúgio de gigantes. Animais raros.
Dois extremos: um mesmo ambiente. Exuberância intocada nos limites da Mata Atlântica. Mas o que as florestas em Mato Grosso do Sul têm a ver com as matas no litoral do Paraná?
Mil e trezentos quilômetros separam esses dois lugares de natureza protegida. Tesouros da fauna e da flora de um Brasil que poucos conhecem.
No verde da serra, o azul serpenteia em um caminho sinuoso. É o rio Salobra. A força da água abriu a passagem: foram milhares de anos para escavar a rocha até formar um cânion. Um paraíso de águas cristalinas e muitas.muitas cachoeiras.
É esse território mágico e desconhecido que queremos desvendar. Vamos nos aventurar numa travessia que só feita duas vezes até hoje.
Gigante. A Serra da Bodoquena é uma barreira natural. A única reserva contínua de Mata Atlântica de Mato Grosso do Sul. Pedimos apoio ao Instituto Chico Mendes e ao Exército para montar a expedição.
Estradas de terra pelos morros. Difíceis de passar. Moradores ilustres estranham o comboio.
O casal de araras vermelhas reforma o ninho. É tempo de romance. O buraco no tronco é disputado.
Chega mais um casal, dessa vez são araras azuis, ameaçadas de extinção em todo o Brasil. Mas lá elas estão protegidas, nem se importam com a nossa presença.
Os casais se encaram. Gritam. No fim, as vermelhas briguentas, vencem e garantem o endereço na árvore seca.
A equipe do Globo Repórter está na área do Parque Nacional. Os visitantes não podem entrar. Mas o Globo Repórter consegue uma autorização especial para mostrar as belezas guardadas e protegidas dentro do Parque Nacional da Serra da Bodoquena.
Começa o grande desafio: uma a viagem que dá medo.
Os militares do Exercito e os funcionários do ICMBio estão preparando o bote para levar todo o equipamento que vamos precisar para acampar dentro do parque.
Por segurança diminuímos o peso nos barcos.
Uma imagem rara: os paredões do cânion vistos tão de perto.
Muralhas naturais emolduram o rio azul. Tão transparente dá pra ver o fundo com pedras redondas.seixos moldados pela correnteza. Nem parece água. A sensação é de navegar no ar.
Rochas brancas lembram icebergs, blocos de gelo boiando no rio cristalino. E a água desenha nas pedras: nervuras. Pontas afiadas.
Até o tronco submerso fica coberto pela camada de calcário. Em alguns anos estará totalmente petrificado.
A cada curva uma surpresa, uma paisagem mais bonita do que a outra, navegar pelo cânion do rio Salobra é ter aquela sensação de paz da natureza preservada. A impressão que a gente tem é que tudo está em seu devido lugar.
De repente um vulto: a lontra foge arisca.
Nesse paraíso escondido, navegar é um desafio. Fazer as imagens também. São mais de 40 cachoeiras.
Viajamos no inverno, período de estiagem no Centro-Oeste. O rio está com pouca água.
Em alguns trechos não tem como passar de canoa não, o jeito é descer a pé mesmo pelas corredeiras.
O rio Salobra tem 105 quilômetros de extensão, nasce na serra e deságua no Pantanal. É um berçário natural. Do bote mesmo a gente vê os cardumes.
Mas essa tranquilidade dura até a próxima cachoeira.
Levamos quase quatro horas para percorrer pouco mais de três quilômetros de rio, e por causa desses paredões de pedra, a luz do dia vai embora mais cedo, estamos perto do ponto de acampamento, só falta vencer esse obstáculo ai na frente.
O lugar escolhido pra dormir é sobre as rochas, no leito seco. É aonde vamos dormir.
Mal clareou o dia e já desmontamos o acampamento pra seguir viagem.
No trecho final do cânion, rochas gigantes protegem esse paraíso de água pura. São guardiões da natureza, em alguns momentos lembram um exercito de pedra. Rochas quase tão antigas quanto o planeta.
E essas são rochas antigas, ainda do tempo da formação do planeta terra.
“Toda essa quantidade de rochas e carbonato de cálcio foram formados com atividades biológica dos seres que habitavam esse oceano aqui. 500 milhões de anos atrás”, afirmou José Guilherme Dias de Oliveira - analista ambiental ICMBio.
O carbonato de cálcio funciona como um depurador natural. Retém a sujeira e leva para o fundo, por isso os rios da região tem a água mais cristalina do Brasil. E peixes. Muitos peixes.
As piraputangas fazem um balé rodeando os visitantes. Dão as boas vindas. Ficam perto da superfície à espera dos frutos que caem.
Os dourados sempre foram os reis dos rios. Mas aqui, eles nem se importam com a gente. Podemos chegar bem perto.
Mais de 90 espécies de peixes foram identificadas nos rios da Serra da Bodoquena.
Os pequenos se protegem entre os galhos submersos. As corimbas reviram areia em busca de comida e, assim, limpam o fundo do rio. Os pacus, pretos e grandes, fogem da gente.
E o borbulhar, é água brotando do fundo da terra. As nascentes estão por toda parte.
As plantas aquáticas são refúgios de uma infinidade de peixinhos coloridos.
A cobra rasteja entre as pedras. A água é tão transparente quem nem parece ser o fundo de um rio.
Seguimos viagem. Dessa vez escolhemos outro extremo. Para andar uns metros o esforço é enorme.
Esse capim navalha corta muito por isso que eu estou com essa roupa de mergulho para proteger os braços.
Caminhar é um perigo. O chão afunda. Difícil é andar com a câmera nesse capim alagado.
Finalmente conseguimos chegar no leito do rio, todos os barcos e agora a gente vai navegar.
Não temos a menor ideia do que vem pela frente. Alívio quando encontramos as lagoas escondidas que só tinham sido localizadas em fotos aéreas.
Essa é água da chuva que desce dos morros. Tem também a água das nascentes. A vegetação filtra essa água. E pela primeira vez uma equipe de reportagem veio aqui, vamos mergulhar para conhecer esse mundo subaquático.
O professor e biólogo José Sabino é especialista em peixes do pantanal e Serra da Bodoquena.
“Nós já descrevemos três espécies aqui na região, que não eram conhecidas da ciência e a partir das pesquisas receberam nomes então científico, como se fosse uma certidão de nascimento”, disse José Sabino – biólogo.
No fundo da lagoa, um tapete dourado de plantas. Até parecem corais.
A região funciona como um grande reservatório.
Aqui a gente consegue entender porque é tão importante preservar não só os ambientes nas unidades de conservação, mas também nas fazendas que ficam no entorno. Toda aquela água que desaparece nas rochas e que se acumula nas lagoas se infiltra no solo ressurgem em lugares como esse. Essa água que sai dessa caverna vem lá do parque nacional e aqui nasce o principal rio de bonito, esse é o rio Formoso.
Acompanhamos o pesquisador em mais um mergulho.
Embaixo da cachoeira o balé dos lambaris. Eles não conseguem vencer a força da água.
Nos troncos os cascudos roem a madeira.
Parecem se beijar, mas não gostam de plateia.
Parte da pesquisa de identificação dos peixes é feita assim, em mergulhos de observação.
As arraias, parentes dos tubarões, aqui são pintadinhas como as onças.
E têm uma estratégia: quando a gente se aproxima, ela se balança. Joga areia por cima. Os grãos grudam no couro e ela finge que é uma pedra.
Esses peixes são ariscos, tem na cauda um ferrão com uma toxina. A ferroada é doída e pode levar até dois anos para cicatrizar. Melhor deixá-los quietos.
Olhem só quem se escondeu embaixo das plantas. Tímido é o jacaré paguá.
Quase passou despercebido. O musgo sobre o couro ajuda a esconder essa espécie que pode ser vista em rios de água fria.
Já a sucuri. Se escondeu num buraco, não quer saber de filmagem não.
Como uma rede, bailando entre os galhos, encontramos um couro com mais de sete metros. Bom sinal: a cobra só solta a pele inteira quando está saudável. Significa que ela está crescendo. Tem uma gigante por aí.
A exuberância da Serra da Bodoquena é garantia de fartura longe daqui: rios do Pantanal dependem das nascentes da Mata Atlântica e dos peixes que se reproduzem nesses aquários naturais.

Fonte: Página de Flor de Lis - Comunidade das Águas 

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