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7 de outubro de 2010

"LISAFER" - A GARRAFINHA MÁGICA CAPAZ DE FILTRAR ÁGUA CHEGA AO BRASIL

Lifesaver, espécie de garrafinha mágica, que já chegou ao Brasil, que tira partido da Nanotecnologia através de um sistema de ultrafiltragem altamente avançado.


07/10/2010


Uma garrafa que salva vidas

Por Elis Monteiro, para a Plurale

Olhar no relógio pode ser doloroso depois desse dado: segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a cada oito segundos morre uma criança no planeta vítima de doenças relacionadas ao consumo de água contaminada. O relatório, divulgado pela instituição no Dia Mundial da Água, foi taxativo: mais pessoas morrem devido ao consumo de água contaminada do que por violência no mundo. Estamos tratando, aqui, do lado crônico da “doença”, mas as últimas tragédias que o mundo tem enfrentado – tsunami na Ásia, terremoto no Haiti e no Chile, enchentes no Nordeste do Brasil e no Paquistão, dentre outras – demonstraram que a questão da água é urgente e demanda soluções rápidas, correndo-se o risco de as estatísticas ficarem ainda mais dramáticas.


Visando a ajudar a curar a doença crônica e tirar da manga uma solução em momentos de tragédia, um cientista inglês chamado Michael Pritchard pôs em prática uma ideia genial: criou um produto portátil capaz de filtrar a água – mesmo a mais imunda do planeta – e, em questão de segundos, torná-la potável. Assim nasceu a Lifesaver, espécie de garrafinha mágica, que já chegou ao Brasil, que tira partido da Nanotecnologia através de um sistema de ultrafiltragem altamente avançado projetado para ajudar a salvar vidas oferecendo às pessoas água potável limpa livre de contaminação, por mais remota que seja a localidade. A boa notícia é que através de parcerias com empresas e organizações do terceiro setor, a tecnologia Lifesaver, que conta com a chancela da Organização Mundial da Saúde (OMS), começará a ser levada a regiões como Alagoas e Pernambuco, dois dos estados assolados recentemente por enchentes.


Durante as recentes intempéries, um dos maiores problemas enfrentados pela população foi justamente a falta de água potável, em meio ao oceano de água suja. No mês de julho, a enchente que atingiu 67 municípios pernambucanos e deixou desabrigadas ou desalojadas mais de 80 mil pessoas também trouxe o fantasma da sede. Foi chamariz, a reboque, para a voraz indústria da água, já que a única saída para a população era comprar garrafas de água mineral a preços exorbitantes ou encarar os carros-pipa, sem a certeza se o líquido consumido era de confiança.


A enchente no interior de Alagoas arrasou 19 cidades, desabrigou 80 mil pessoas e fez 26 vítimas fatais. Mesmo depois de os níveis de água terem baixado, a tragédia continua assombrando a população do Nordeste. Isso porque o perigo das enchentes não reside apenas na força destruidora das águas, mas também nas doenças que o esgoto a céu aberto é capaz de transmitir.


A cidade de Murici, a 35 quilômetros de Santana do Mundaú, por exemplo, foi completamente devastada. Quem perdeu a casa, encontrou teto em galpões de uma fábrica, um local improvisado, cheio de lama, onde as crianças brincavam no lixo. Naquela localidade, mais de 1.5 mil pessoas perderam suas casas e foram abrigadas em locais com condições de higiene precárias, o que facilitou a transmissão de germes que causam vômitos, diarreia, infecções de pele e doenças respiratórias. Em um dos galpões, ficaram abrigadas 50 famílias, que contavam com apenas dois banheiros que viviam entupidos, sem água encanada. A água usada nos banheiros ficava em caixas instaladas na beira da estrada, abastecidas por caminhões-pipa. E aqui o grande problema: a mesma água, de procedência desconhecida, é usada para tomar banho, cozinhar e beber.


“A ideia de trazer o Lifesaver para o Brasil foi uma maneira de prover um benefício imensurável, auxiliando a redução da mortalidade infantil por doenças contraídas a partir do consumo de água contaminada - principalmente nas regiões do Nordeste, Amazônia, Pantanal e comunidades não providas de saneamento e fornecimento de água potável - para pessoas que há anos buscam condições de vida mais dignas”, diz Leonardo Eloi, sócio da Ecotrends Group, empresa carioca que trabalha com produtos sustentáveis e está levando o Lifesaver para o interior do país, através de parcerias com governos estaduais e prefeituras e ONGs que trabalham com ações humanitárias.


Como funciona a Lifesaver


O uso da nanotecnologia permite que poros de aproximadamente 15 nanômetros de diâmetro, usados pelo filtro da tecnologia Lifesaver, sejam capazes de reter qualquer tipo de micro-organismo. Assim, a água que passa ali não só sai inodora e insípida como livre de qualquer organismo vivo já encontrado no planeta. Só para se ter uma ideia, a menor bactéria conhecida pela ciência, a da Tuberculose, tem cerca de 200 nanômetros. O menor vírus, o da Pólio, tem cerca de 25 nanômetros de diâmetro. Como os poros do Lifesaver têm 15 nanômetros de espessura, eles retêm qualquer organismo, deixando a água não só potável como extremamente segura para consumo humano.


A garrafinha Lifesaver usa também a tecnologia FailSafe. Em termos simples, isso significa que quando o cartucho atinge capacidade máxima de filtragem, ele se bloqueia automaticamente, evitando que o usuário beba água contaminada. Neste momento, é preciso trocar o filtro, o que pode levar anos para acontecer, dependendo da quantidade de água filtrada pela unidade de Lifesaver.


“Por ser portátil e de fácil utilização, qualquer criança ou pessoa com menos instrução pode utilizar a garrafa Lifesaver sem problemas. Basta enchê-la (de água suja, inclusive com dejetos humanos e de animais), bombear e beber”, conta Leonardo Eloi.


ONU: 1.5 milhão de crianças com menos de cinco anos morrem por ano por causa de água suja


O consumo de água doente é hoje uma das principais preocupações da ONU, tanto que a entidade divulgou um documento chamado “Sick Water” (Água Doente), no qual afirma que o acesso a água limpa e saneamento básico é direito humano. Durante sua última Assembleia Geral, a organização divulgou, dentre outras informações alarmantes, que 900 milhões de pessoas ao redor do planeta não têm acesso a água limpa. O texto da resolução expressa uma profunda preocupação: 884 milhões de pessoas sofrem de males terríveis causadas por água suja. Tem mais: cerca de 1.5 milhão de crianças abaixo dos cinco anos de idade morrem todo ano por beber água doente, e 443 milhões de dias na escola estão sendo perdidos todo ano por conta de doenças causadas por saneamento básico precário. Ou seja, não é um problema que impacta apenas a saúde pública, mas também a educação.


Foi durante o furacão que assolou Nova Orleans, em 2005, que Michael Pritchard teve a ideia de criar a Lifesaver. Em palestra realizada no TEDGlobal, um dos principais eventos de inovação do planeta (palestra com legenda está disponível em www.ted.com) o inglês contou que estava sentado, depois do Natal de 2004, enquanto assistia às notícias devastadoras sobre o tsunami na Ásia. Disse ele: “Nos dias e semanas que se seguiram, pessoas fugiam para os morros e eram obrigadas a beber água contaminada ou encarar a morte. Isso realmente me impressionou. Alguns meses depois, o furacão Katrina arrebentou parte da América. Pensei: ‘Ok, esse é um país de primeiro mundo, vamos ver o que eles vão fazer’. Dia um: nada; dia dois, nada; foram necessários cinco dias para levar água ao estádio Superdome! As pessoas estavam atirando umas nas outras nas ruas por TV e...água! Foi quando decidi que tinha que fazer algo”, conta Pritchard.


Pritchard fez. E o produto que criou já salvou milhares de vida durante o terremoto do Haiti, em janeiro deste ano, e até hoje o Lifesaver é responsável pelo acesso a água limpa a milhares de haitianos. Naquele país, a Lifesaver foi usada pela ONG Operation Blessing, a mesma que começa a trabalhar ao lado da Ecotrends no Brasil para levar o produto – e suas benesses – aos necessitados do Nordeste. Agora, as duas entidades, em parceria com governos locais, começam a traçar estratégias em conjunto para atuação em caso de enchentes e outras intempéries, além de traçar metas para levar o produto às comunidades que, mesmo localizadas no entorno de grandes cidades, continuam à mercê de água proveniente de poços, lagos, açudes, córregos e até mesmo lama. Tudo para não morrerem de sede. Infelizmente, em muitos casos a sede não mata, mas as doenças que chegam através do líquido precioso, sim.


“De acordo com a Agência Nacional de Águas, 17 milhões de brasileiros ainda não têm acesso a água potável. Segundo a UNICEF, na América Latina e no Caribe cerca de 20 mil crianças morrem antes de completarem cinco anos de idade devido a diarreias agudas, o que poderia ser evitado mediante o acesso a condições de higiene adequadas, infraestrutura de saneamento e água potável, completa Eloi.


FOTO
Crédito:
Michael Pritchard / Divulgação

*Esta matéria é parte integrante da Revista Plurale, edição 19. Para ler online acesse http://www.plurale.com.br/revista-digital.php. Para assinar acesse http://www.plurale.com.br/assinaturas.php


(Envolverde/Plurale)


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