Seguidores do Blog SOS Rios do Brasil

2 de dezembro de 2011

FALTA DE SAPATA DE CIMENTO PREVISTO NO PROJETO PROVOCOU VAZAMENTO NO POÇO DA CHEVRON


Chevron não cumpriu projeto de perfuração de poço que vazou

Conversa Afiada publica outro texto irretocável do Fernando Brito:

Exclusivo: Chevron “economizou” sapata e não cumpriu projeto de perfuração de poço que vazou


O vazamento de óleo para o mar do poço da Chevron aconteceu porque a empresa descumpriu o projeto de perfuração apresentado às autoridades brasileiras e não colocou, provavelmente por economia, uma sapata de cimento, que faria a vedação do poço a mais de dois mil metros de profundidade, o que evitaria que o petróleo sob pressão do reservatório atingido pela broca penetrasse nas camadas superiores da rocha e subisse para o oceano.


O Estudo de Impacto Ambiental apresentado ao IBAMA, elaborado com base nas informações técnicas formuladas para o plano de exploração de Frade, entregue pela Chevron à Agência Nacional de Petróleo, prevê expressamente a instalação de duas sapatas e selagens  para evitar a subida do óleo para o trecho superior da rocha.


A primeira sapata foi construída a cerca de 1800 metros de profundidade (e 567 metros abaixo do solo marinho), como previa o plano. Ela é a que foi mostrada pela  própria Chevron, nos diagramas exibidos semana passada na Câmara dos Deputados. Foi logo abaixo dela, segundo a empresa, que o óleo penetrou pelas fissuras do solo marinho.


O que a Chevron não disse à imprensa, aos deputados e à sociedade é que deveria existir uma segunda sapata situada algumas centenas de metros abaixo daquela, capaz de sustentar a coluna de tubos de 9 5/8  polegadas e vedar o espaço entre estes tubos e a perfuração de 12 1/4  polegadas, impedindo a ascenção do petróleo por fora da tubulação.


Esta sapata – que seria também submetida, segundo o plano, a “testes de selo”, para verificar sua capacidade de vedação – simplesmente não foi construída.


Veja no quadro do projeto apresentado pela Chevron que ela estaria situada entre 2050 a 2600 metros  (a sigla TVDSS significa True Vertical Depth Sub Sea, profundidade real submarina) e deveria ser capaz de resistir a pressões súbitas (explosões) de mais de seis mil PSI, ou algo como 420 quilogramas-força por centímetro quadrado.


Esta sapata e a vedação jamais existiram, apesar de o poço já ter atingido 3.329 metros de profundidade. Evidentemente, também não o teste de selo.


Só a partir daí, segundo o plano apresentado pela Chevron, é que a perfuração seria feita com a broca de 8 ½ polegadas, que é o diâmetro convencional da chamada “fase final” de um poço de petróleo, aquela que toca o reservatório subterrâneo de óleo. Esta fase não possui revestimento, o que é chamado de “poço aberto” no jargão técnico. No seu depoimento á Comissão de Meio Ambiente, o presidente da Chevron-Brasil (?), o Sr. Charles Buck, admitiu que a broca usada no momento do acidente era a de 8 ½ polegadas.


Na perfuração executada pela Chevron, a situação era de “poço aberto” a partir de 567 metros abaixo do solo marinho. Embora o ponto provável de ruptura tenha sido abaixo da sapata situada neste nível, pode ter ocorrido em outro, em razão da grande extensão – comprimento vertical + horizontal, conhecido tecnicamente como TD(MD) –  aumentada pelo fato de o poço fazer duas longas curvas (dog legs, na linguagem técnica) e ter um trecho horizontal. Se os diagramas apresentados pela Chevron tiverem proporção correta, é possível estimar esta extensão em mais de três quilômetros sem  revestimento ou vedação.


E isso numa formação geológica cheia de fraturas e fissuras, o que é admitido no estudo e provocou até a mudança de direção de três poços perfurados em Frade.


Mas o que poderia ter feito a Chevron não implantar a sapata de sustentação e vedação?


Não é possível dizer, mas é natural que se avalie a vantagem de não o fazer: economia.


Uma sapata com esta resistência  custa algo como R$ 1 milhão, o que somado ao tempo de parada na perfuração, em razão dos custos fixos, pode quadruplicar, pelo menos, de valor. Só o aluguel da sonda  – mesmo a “baratinha” que utilizaram – é equivalente a cerca de R$ 500 mil por dia e ela não pode perfurar enquanto não se completa a cimentação, espera-se o tempo de “pega”  do cimento e se realizam os testes de selagem.


O campo de Frade é conhecido desde 1986 e nele não se espera o encontro de reservatórios em altíssima pressão, o que pode ter levado, sim, a Chevron a subestimar a possibilidade de que o poço fosse submetido a elevados esforços e, portanto, corresse o risco de não criar um segundo nível de vedação.


Um dos engenheiros especializados em perfuração a quem este blog apresentou os dados da Chevron afirma:


“A Chevron sabia da existência de várias fraturas e falhas em todo o Campo de Frade (está no seu plano de desenvolvimento para a ANP). A profundidade que temos que analisar é a da cota vertical de 2279 m. Para perfurar nesta profundidade a Chevron teve que usar pressão acima da pressão de abertura das falhas ou fraturas existente no Campo.


A ocorrência do kick (perda de fluido para formação) é a prova que atingiu a pressão de fratura. Não necessariamente, como a Chevron disse, fratura na sapata. Pode ter ocorrido em qualquer ponto entre 3329 m da profundidade  do poço (ou 2279 m medida na vertical) e 567 m,  a partir de onde o poço estava revestido e a lama de perfuração não tinha mais contato com as camadas superiores (da rocha). Isto não teria ocorrido caso a Chevron tivesse posto outra sapata e revestido o poço antes de atingir o reservatório. Neste caso,  todo poço estaria isolado das fraturas e falhas, ou seja, não poderiam ser atingidas pelo fluido de perfuração.


O kick relatado pela Chevron não é uma ocorrência anormal na perfuração. Ao contrário, é bastante comum. Para preveni-lo, instalam-se equipamentos que se destinam a minimizar seus efeitos: o blowout preventer, um conjunto de válvulas que impede que ele suba pela tubulação e “estoure” a cabeça submarina do poço.


Mas há outros, como as linhas de choke, que aumentam, através do manejo de válvulas, a pressão da coluna de lama que se contrapõe à pressão do petróleo ascendente durante um kick.


Além das linhas de choke, estava prevista a existência de uma linha de kill , que é uma espécie de redundância da linha de choke, mas com a capacidade de “matar” – ou seja, vedar completamente- o poço.


Nem a Chevron, nem a a ANP deram, ainda, quaisquer explicações sobre  existirem estes sistemas  previstos e a eventual falha em sua operação.


Daqui a pouco, na Comissão de Minas e Energia, a Chevron e a ANP serão duramente questionadas a partir destas informações.


Elas estão documentadas na cópia do relatório que será ali apresentada.


Agora há um dado concreto: a Chevron não  fez o que  prometeu ao IBAMA e à ANP  no plano de perfuração, que foi avaliado  por estes órgãos.


Não há plano de contingência ou fiscalização possível  em poços no oceano, distantes centenas de quilômetros do litoral, se a empresa que os perfura não segue os  procedimentos de segurança que ela própria apresentou às autoridades.


Não seria possível esperar que um fiscal da Prefeitura estivesse ali, todo o tempo ao lado da betoneira, durante a construção do Palace 2, vendo se a areia que a empresa de Sérgio Naya estava usando no concreto não era areia do mar.


Estamos fornecendo os elementos para a investigação de um comportamento fraudulento de uma concessionária da exploração de um bem público. Que, com o acidente, passou dos limites de simples fraude para o de um crime ambiental que, pela sorte e pelas correntes marinhas, ficou na escala do imenso e não do gigantesco.


Ele precisa ser apurado e cremos ter feito a nossa parte.


BLOG SOS RIOS DO BRASIL
ÁGUA - QUEM PENSA, CUIDA!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seja bem vindo e deixe aqui seus comentários, idéias, sugestões, propostas e notícias de ações em defesa dos rios, que vc tomou conhecimento.
Seu comentário é muito importante para nosso trabalho!
Querendo uma resposta pessoal, deixe seu e-mail.

A legislação brasileira prevê a possibilidade de se responsabilizar o blogueiro pelo conteúdo do blog, inclusive quanto a comentários. Portanto, não serão publicados comentários que firam a lei e a ética.

Por ser muito antigo, o quadro de comentários do blog ainda apresenta a opção comentar anônimo; mas, com a mudança na legislação,

....... NÃO SERÃO PUBLICADOS COMENTÁRIOS DE ANÔNIMOS....

COMENTÁRIOS ANÔNIMOS, geralmente de incompetentes e covardes, que só querem destruir o trabalho em benefício das comunidades FICAM PROIBIDOS NESTE BLOG.
No "COMENTAR COMO" clique no Nome/URL e coloque seu nome e cidade de origem. Obrigado
AJUDE A SALVAR OS NOSSOS RIOS E MARES!!!

E-mail: sosriosdobrasil@yahoo.com.br