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31 de maio de 2013

Navio de pesquisa Yokosuka termina expedição sobre o Platô de São Paulo

30/05/2013

O navio de pesquisa oceanográfica japonês Yokosuka chegou dia 25/5 ao Porto de Santos, com o submarino Shinkai 6500 e um grupo de cientistas brasileiros à bordo, marcando assim o fim de uma expedição de duas semanas sobre o Platô de São Paulo, com mergulhos que chegaram a 3.600 metros de profundidade.

E a grande descoberta da expedição, imagine só, foi não ter descoberto quase nada. Foi a primeira vez que cientistas mergulharam a grandes profundidades nessa região, e a escassez de vida surpreendeu tanto os pesquisadores japoneses quanto os brasileiros. “A expectativa era encontrar grandes concentrações de vida, mas infelizmente nada disso foi localizado”, contou ao Estado o cientista chefe da expedição, Katsunori Fujikura, da Agência Japonesa de Ciência e Tecnologia da Terra e do Mar (Jamstec). A expectativa baseava-se no fato de que, do ponto de vista geológico, o Platô de São Paulo (onde fica a Bacia de Santos) é muito parecido com o Golfo do México, onde há também muitas reservas de petróleo, gás, e uma grande concentração de ecossistemas quimiossintéticos, que é o que os biólogos esperavam encontrar por aqui também. “Foi uma surpresa para nós. Por que será que há tão pouca vida aqui? Esse será o escopo das pesquisas a partir de agora”, completou Fujikura.

Polvo de grande profundidade fotografado com o submarino Shinkai 6500 no Platô de São Paulo

Peixe de grande profundidade fotografado com o submarino Shinkai 6500 no Platô de São Paulo

FOTOS: Polvo e peixe de grande profundidade fotografados com o submarino Shinkai 6500 (abaixo) no Platô de São Paulo.

Submarino Shinkai 6500

Ecossistemas quimiossintéticos são ambientes de grande profundidade associados a falhas no assoalho oceânico, nos quais a fonte primária de energia para a vida não é a fotossíntese, como realizada pelas plantas na superfície, mas o metabolismo de elementos químicos inorgânicos (como metano e enxofre) realizado por microrganismos especialmente adaptados a condições extremas de temperatura e pressão, que acabam dando suporte à vida de vários organismos maiores, incluindo moluscos, crustáceos e peixes. Há dois tipos principais desses ambientes: as fumarolas de água quente e as exsudações de água fria, que é o que os pesquisadores esperavam encontrar no Platô de São Paulo.

A viagem de duas semanas, entre Rio e São Paulo, foi a segunda pernada de uma expedição iniciada cerca de um mês atrás, dentro de uma parceria entre a Jamstec, o Instituto Oceanográfico da USP e o Serviço Geológico do Brasil (CPRM), envolvendo pesquisadores de várias instituições brasileiras e japonesas. Na primeira pernada foram realizados sete mergulhos de até 4.200 metros de profundidade nas regiões da Elevação do Rio Grande e da Dorsal de São Paulo (leia o relato da expedição nos posts abaixo). Agora, na segunda pernada, foram nove mergulhos de até 3.600 metros no Platô de São Paulo (estavam previstos 10 mergulhos, mas o último teve de ser cancelado por questões meteorológicas).

Nenhum ambiente quimiossintético foi encontrado, e a quantidade e variedade de animais maiores observados também foi pequena — diferentemente do que foi observado nos mergulhos da primeira pernada. “Apesar de serem todos da mesma região, os três locais têm biodiversidades distintas”, observou Fujikura. “Aqui não vimos animais de grande porte e a quantidade de vida era muito menor.”

O que não significa que a expedição tenha sido um fracasso, nem que não existam ecossistemas quimiossintéticos no Platô de São Paulo, segundo a pesquisadora Vivian Pellizari, do Instituto Oceanográfico da USP. “O que nós vimos foi uma parte muito pequena do platô”, destaca ela. “É impossível que numa área enorme como essa, com todo o petróleo que sabemos ter aqui, não haja nenhum escape de gás, nenhuma exsudação fria, como há no Golfo do México. Temos de continuar procurando; é uma agulha no palheiro.”

Mesmo sem ter encontrado nenhum ambiente quimiossintético, os cientistas vão voltar para casa com uma grande quantidade de dados e amostras, suficiente para muitos anos de pesquisa. Dezenas de amostras de água, sedimentos e animais de águas profundas foram coletadas, incluindo caranguejos, camarões, mexilhões, esponjas, pepinos e estrelas do mar. “É bem possível que tenhamos espécies novas nessas amostras”, diz o biólogo Angelo Bernardino, da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), que fez um mergulho com o Shinkai a 2.800 metros de profundidade. “Acho que vão aparecer coisas muito interessantes nas análises.”

Vivian e Bernardino destacam que o Atlântico Sul nunca havia sido prospectado cientificamente dessa maneira, e foi a primeira vez que cientistas brasileiros tiveram oportunidade de descer a essas profundidades na costa brasileira. “Foi uma oportunidade única para a ciência do Brasil”, disse Vivian, ressaltando que várias instituições do País, de vários Estados, vão receber amostras coletadas na expedição para pesquisa. “Apesar de a biodiversidade observada ter sido bem menor do que esperávamos, o desafio será maior ainda agora para explicar esses resultados”, avaliou a bióloga. “É a primeira vez que coletamos esse tipo de dado no Brasil; então, toda informação que pudermos extrair deles será muito importante.”

As amostras de água e sedimento, por exemplo, serão minuciosamente analisadas quimicamente e geneticamente para entender que elementos e microrganismos estão presentes nesses ambientes.

Coleta de sedimento do leito marinho no Platô de São Paulo.
Coleta de sedimento do leito marinho no Platô de São Paulo.

Shinkai 6500 no convés do navio Yokosuka, no Porto de Santos.
O Shinkai 6500 no convés do navio Yokosuka, no Porto de Santos.

A passagem do Yokosuka e do Shinkai 6500 pelo Brasil é parte de um projeto de volta ao mundo da Jamstec, chamado Busca pelos Limites da Vida (Quelle 2013). O próximo ponto de pesquisa do navio será no Mar do Caribe.

Fonte: Herton Escobar / O Estado de S. Paulo

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