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28 de setembro de 2009

INSTITUTO AMBIENTAL OIA, EM PETRÓPOLIS (RJ) E O BIOSSISTEMA INTEGRADO DE TRATAMENTO DE ESGOTOS


Quando a natureza ensina

Por Fabiana Frayssinet, da IPS
28/09/2009

Petrópolis, 28/09/2009 – Originada na Ásia como um sistema natural de tratamento de efluentes de esgoto doméstico, a tecnologia dos biodigestores ressurge na América Latina como um sistema integrado para dispor de energia barata, melhorar o saneamento e até para construir uma boa estética paisagística. Difícil imaginar que sob uma delicada flor flutuante, sobre um tanque com água cristalina, se esconda um biodigestor, que trata os resíduos de uma família. Mais difícil é pensar que um pequeno fogão de duas bocas, onde uma mãe prepara feijão e arroz para seus filhos pequenos, seja alimentado por gás originado nessa tecnologia.

Mas na casa do arquiteto Jorge Gaiofato a contraposição entre o feio e a beleza, entre o desperdício e o aproveitável, e entre o repugnante e o rico, não é apenas imaginável, mas comparável. “Os chineses já usavam essa tecnologia há mais de 300 anos. Nosso trabalho é demonstrar como é fácil tratar os resíduos do consumo humano e ao mesmo tempo gear riqueza a partir disso”, disse à IPS. Gaiofato aplica em sua casa, localizada em meio a uma floresta exuberante na região da serra de Petrópolis (RJ), o que divulga como diretor técnico do não-governamental Instituto Ambiental (OIA).

Rodeada por riachos e cascatas, a casa utiliza o sistema de tratamento de cloacas conhecido como biodigestor, que por sua vez está integrado a um processo mais complexo, e ao mesmo tempo simples, chamado biossistema integrado. “O Instituto Ambiental já tinha experiência anterior com o tratamento de dejetos com sistemas de tanques e plantas, mas através do biodigestor juntou ambos”, explicou Gaiofato. “Assim, temos o biodigestor fazendo a parte anaeróbica do sistema e as plantas fazendo a parte aeróbica. É o que chamamos de biossistema integrado”, acrescentou.

Uma explicação com palavras difíceis para o leigo, que escondem um processo simplesmente natural, que, segundo Gaiofato, “busca imitar os ciclos sustentáveis da natureza, reaproveitando a matéria-prima para um novo ciclo de produção. Em lugar de esperar que a terra produza cada vez mais, deve-se aprender a fazer mais com o que a terra já produz”, segundo definição do OIA. O esgoto é coletado e levado ao biodigestor, localizado o mais perto possível das residências, um tanque hermeticamente fechado que serve para tratar os resíduos orgânicos.

Os biodigestores fermentam o material orgânico produzindo biogás, uma mistura de 74% de metano e 26% de carbono. Devidamente canalizado, o gás é enviado novamente à residência, onde pode ser usado como fonte de calor, combustível e energia. O processo que acontece dentro do biodigestor é biológico, explica o arquiteto. “Realiza-se através de bactérias anaeróbicas, isto é, que vivem na falta de oxigênio. São vários tipos que produzem a degradação da matéria orgânica, e na última fase as metanogênicas transformam essa matéria orgânica em gás metano”, acrescenta.

O biosólido resultante do processo tem um alto valor nutricional e, já separado e secado ao sol, pode servir como adubo orgânico para plantas. Por sua vez, o líquido gerado e sucessivamente filtrado, pode ser utilizado para fertilização-irrigação e cultivo geral. O que os especialistas chamam de “reciclagem” de nutrientes, começa em um segundo tanque de plantas cujas raízes alimentam-se deles. Em um terceiro recipiente os nutrientes residuais são absorvidos por plantas aquáticas. Por fim, em uma espécie de piscina, os nutrientes restantes se transformam em algas por ação da luz solar, que por sua vez alimentam peixes como tilápias, que pode ser usado como alimento humano. Em outra versão mais simples e barata, destinada ao saneamento e abastecimento energético comunitário, o sistema limita-se ao biodigestor, escondido sob a terra.

O biogás tem vários usos, entre outros, em cozinhas convencionais, motores para geração de energia, iluminação de jardins e aquecedores de água. O cálculo da organização não-governamental é que a produção de gás equivale, em média, a 50 litros diários e permite o uso familiar durante uma hora por dia. Mas, como se recarrega rapidamente, pode ser usado novamente três ou quatro horas depois, por mais uma hora.

Também a família de Alessandra Fachini, com um filho de 3 anos e um bebê, não precisa recorrer ao gás engarrafado. Além de economizar em energia, o biogás é suficiente para o cozimento diário, e alimenta um pequeno aquecedor e um ponto de luz externo. “Se queremos preservar e utilizar um recurso sustentável que não agrida o meio ambiente como o gás natural, devemos nos reeducar e preferir esta utilização que é mais saudável para todo o mundo”, afirma Yuri, marido de Alessandra. Gaiafato resume que com baixo custo de implantação e manutenção, o biodigestor trata os efluentes de esgoto, produz energia e também é bom para o meio ambiente porque evita o lançamento de metano na atmosfera, que é um dos principais responsáveis pelo efeito estufa.

No Brasil, o Instituto Ambiental aplica a tecnologia especialmente para populações pequenas de até 500 habitantes, onde se pode instalar um sistema comunitário. Além do Rio de Janeiro, também trabalham em São Paulo, Santa Catarina, Espírito Santo e Bahia. Também o fazem na Nicarágua, República Dominicana e na região espanhola do Valle de la Plata. Atualmente, a OIA difunde o conceito de biossistemas integrados em bairros pobres do Haiti, não apenas para saneamento, mas também para recuperação de áreas degradadas, construções mais sustentáveis e cultivos integrados. Sempre que implanta o sistema, esta organização capacita os beneficiários como difusores da tecnologia entre outras comunidades. E quando é possível incluem no projeto educação ambiental para os habitantes das comunidades. fonte: IPS/Envolverde

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