
CERRADO, BERÇO DAS ÁGUAS: oficina de planejamento impulsiona circuito eco cultural
Resultante da expressão de anseios, desafios e sonhos compartilhados, a idéia do CIRCUITO ECO CULTURAL surgiu inspirada na temática da água como narrativa para a integração de saberes e fazeres em prol da sustentabilidade do Cerrado.
A narrativa emergiu a partir de acúmulos oriundos de atividades dialógicas e formativas realizadas em 2012 (antes, durante e após a Rio+20), tais como os diálogos interculturais sobre a água no XII Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros; os diálogos de água na IV Semana do Folclore do Lago Serra da Mesa; os diálogos de água no VII Encontro e Feira dos Povos do Cerrado; as abordagens sobre a água no espaço Eco das Tradições do VIII Festival de Cultura Popular de Brasília, a oficina e mesa sobre água no VII Fórum Brasileiro de Educação Ambiental (FBEA), as reflexões sobre a água no Encontro Voz das Avós no Fluir das Águas, a Exposição "Água, rios e povos" e debates noPavilhão Azul da Cúpula dos Povos, encontros no Rio Paraguai e Bacia do Prata, o Seminário Águas em Poços de Caldas e oficinas do XIV Encontro Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas (ENCOB).
Objetivando o fortalecimento de iniciativas, dinâmicas comunitárias e políticas públicas (culturais, hídricas e socioambientais) comprometidas com a valorização da diversidade sócio-cultural e ambiental, o CIRCUITO ECO CULTURAL contribui para ampliar o horizonte de atuação e proporcionar envergadura às ações em defesa do bioma Cerrado e de seus habitantes, especialmente as comunidades tradicionais que são protagonistas de expressões culturais originais e de uma relação sustentável com o ambiente.
Oficina de planejamento

A abertura da oficina, na manhã do dia 10, contou com as presenças de Pedro Wilson Guimarães (Secretário de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente) e Celso Schenkel (Coordenador de Ciências e Meio Ambiente da UNESCO-Brasil). O Secretário Pedro Wilson é autor da Proposta de Emenda Constitucional – PEC nº 150 (elaborada em 1995, quando exercia mandato de deputado federal) objetivando a inclusão do Cerrado e da Caatinga entre os biomas considerados patrimônio nacional no parágrafo 4º do artigo 225 da Constituição Federal de 1988.
Do conjunto dos trabalhos nos dois dias (10 e 11), também participaram da oficina: Luis Carraza (Coordenador da Central do Cerrado/Rede Cerrado), Juliano Basso (Presidente da Casa de Cultura Cavaleiro de Jorge), Mara Moscoso (Fórum de Ongs Ambienalistas do DF e membro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Paranaíba), Jean Marconi Carvalho (Memorial Serra da Mesa/Uruaçu-GO), Fred Maia (Movimento Fora do Eixo), Sérgio Ribeiro (CET-Água e REATA), Franklin de Paula Jr (SRHU/MMA e Centro de Saberes e Cuidados Socioambientais da Bacia do Prata), Ilka Fagundes (Rede Cerrado), Larissa Malty (SMCQ/MMA), Marielle Ramires (Movimento Fora do Eixo), Eduardo Estelita/Dada (Vereador de Alto Paraíso-GO e gestor do Centro de Estudos Avançados/UnB Cerrado), David Rocha (SRHU/MMA), Nadja Janke (Depto. de Educação Ambiental do MMA), Carol Tokuyo (Movimento Fora do Eixo), Anuiá Yawalapiti (Parque Nacional do Xingú), Giorgenes Souza (Parque Nacional de Brasília/ICMbio), Bismarque (Projeto Estrada Colonial do Planalto Central) e José Rosa (Projeto Fotolata).

Dentre as atividades previstas e sugeridas para integrarem o calendário 2013 do Circuito Eco Cultural, destacam-se as oficinas sobre a Lei do Cerrado, o XIV Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros (Vila de São Jorge/Alto Paraíso-GO – julho), o Festival das Águas do Lago Serra da Mesa (Uruaçu-GO), o Encontro dos Povos do Grande Sertão Veredas (Chapada Gaúcha-MG – julho), os Encontros Formativos de Gestão de Águas (Ouro Preto-MG), o Encontro Formativo na Bacia do Alto Paraguai/Pantanal do Centro de Saberes e Cuidados Socioambientais da Bacia do Prata, o Encontro Águas do São Francisco - cultura, diversidade e cidadania (Pirapora-MG/julho), e o IX Festival de Cultura Popular de Brasília.
O grupo entende que a perspectiva eco cultural deve incorporar as dimensões da ecologia (humana, social e ambiental), reconhecer, valorizar e difundir os saberes tradicionais, populares e ancestrais sobre o Cerrado e as águas, exercitando a interculturalidade, o diálogo entre diferentes saberes e promovendo ações em rede (educomunicativas e mobilizadoras).
Assim, o Circuito Eco Cultural promoverá estratégias de construção de alianças, catalizando atores e ações, buscando sinergias e conferindo envergadura à atuação conjunta. O circuito pretende desenvolver uma cartografia eco cultural do Cerrado e programas de Pós-TV valorizando as dinâmicas locais e regionais, bem como organizar um banco de dados referencial sobre políticas públicas (federais, estaduais e municipais) que podem incidir e serem replicadas territorialmente.
Das instituições que já integram o Circuito, a Rede Cerrado, por exemplo, é constituída por cerca de 500 organizações que atuam no Cerrado, e o Movimento Fora do Eixo/Nós Ambiente, que também atua em rede, utilizando estratégias multimídia, e possui grande capacidade de mobilização em todo o país. A SRHU/MMA, responsável pela coordenação de ações do Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) e pela articulação de políticas públicas no âmbito do Sistema Nacional de Recursos Hídricos (SINGREH), pretende envolver parceiros do governo federal e também colegiados de recursos hídricos, em especial os comitês de bacias hidrográficas, com atuação no território.

No dia 14 de novembro de 2012, um grupo de representantes da Rede Cerrado, do Movimento Fora do Eixo, do CET-Água/REATA e do MMA se reuniu na Secretaria Geral da Presidência da República (SG/PR). Recebidos por Paulo Maldos (Secretário Nacional de Articulação Social) e Pedro Pontual (Diretor de Participação Social), os representantes apresentaram a proposta do Circuito que foi bem recebida pela SG/PR. O Secretário Paulo Maldos comentou sobre a necessidade de “adensar a articulação de várias instâncias que trabalham pelo Cerrado”. Também foi mencionada a importância de maior aproximação entre as iniciativas eco culturais já consolidadas nas comunidades e a atuação dos colegiados de recursos hídricos existentes nas bacias hidrográficas relacionadas ao Cerrado.
O Cerrado e as suas águas emendadas interligando o território nacional
Berçário de volumosas águas que entrecortam o território nacional e que também atravessam fronteiras com os países vizinhos, o bioma Cerrado é o segundo maior da América do Sul, com uma extensão de aproximadamente 2 milhões de quilômetros quadrados, abrangendo cerca de 22% do território brasileiro. Além de proporcionar a conexão com quase todos os demais biomas brasileiros (à exceção apenas do Pampa) e estar estrategicamente localizado no Planalto Central, no coração do Brasil, o Cerrado também funciona como um vertedouro ou uma caixa d´água que provém de água grandes bacias brasileiras tais como as dos rios Araguaia, Tocantins, Paraguai, Paraná (Paranaíba e Grande), Xingu, São Francisco, Parnaíba, Jequitinhonha e Doce.
As bacias do Paraguai e do Paraná possuem águas fronteiriças e transfronteiriças e assim integram o segundo maior complexo hídrico da América do Sul, conformando a Bacia do Prata, a qual abrange territórios de 5 países (Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai). A condição geopolítica de provedor para os vizinhos representa um desafio ainda maior na proteção ecossistêmica e no cuidado com as nossas águas.
Nota para a Comunidade das Águas (por Franklin PJr)
Fotos: Acervo Rede Cerrado
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