Programa Estadual de Recuperação de Matas Ciliares vai iniciar em Colorado D’Oeste, em Rondônia
A importância das áreas de preservação permanente para a biodiversidade
Laerte Scanavaca Júnior, engenheiro florestal, pesquisador da EmbrapaMeio AmbienteCom o crescimento da população humana, muitas florestas perdem espaçopara a agricultura. Consequentemente, a biodiversidade vegetal e animaldiminui acentuadamente. A taxa de extinção das espécies, que era de 0,2%há pouco mais de 100 anos, hoje é de 23%, ou seja, aumentou mais de cemvezes. Isso pode trazer conseqüências catastróficas para a humanidade.A água é essencial à sobrevivência de todos os seres vivos e suaprodução e manutenção está diretamente relacionada à floresta.Precisamos entender melhor o papel das florestas e preservá-las porquenossa sobrevivência e de todos os outros seres vivos depende disso.Existem evidências que as bacias hidrográficas da Região Nordeste (BaciaHidrográfica do Nordeste, do São Francisco e Leste), onde há menorcobertura vegetal (Caatinga e Cerrado), são mais sazonais (variam maisentre as épocas de secas e das chuvas) que bacias melhor protegidas porflorestas como a bacia Amazônica, em função da maior evapotranspiração eda recarga na bacia hidrográfica.As florestas protegem o solo da exposição direta ao sol, evitando destaforma seu ressecamento, além de abastecerem os mananciais de água deforma mais lenta e regular, estabilizando o microclima.As matas ciliares são formações vegetais que acompanham os cursosd’água, lagos ou represas, cumprindo importantes funções na manutençãodo regime hídrico da microbacia hidrográfica, no sustento da fauna e naestabilidade dos microambientes. Outra função importante é osombreamento dos rios, que permite a entrada de matéria orgânica esementes utilizadas na alimentação dos peixes. A presença de mata ciliarimpede ou dificulta o carregamento de sedimentos, além de bloquear apoluição química causada por agrotóxicos, que aumentam a infecção porectoparasitos nos peixes e provocam mutações principalmente em anfíbios.Em usinas hidroelétricas, isso pode fazer uma enorme diferença, porqueos sedimentos são abrasivos e podem encurtar substancialmente a vidaútil das turbinas. Além disso, o custo específico com produtos químicosnas estações de tratamento de água eleva-se com a redução do percentualde cobertura florestal da bacia de abastecimento. Desta forma, otratamento de água em uma bacia bem protegida pela mata cilar custaaproximadamente de R$ 2,00 a R$ 5,00/1000 por m3 de água tratada,enquanto que em uma bacia desprotegida o tratamento pode custar de R$300,00 a R$ 500,00/1000 por m3. Nos EUA, o estado de Nova Iorqueinvestiu em APP e para cada dólar investido, economizaram sete dólaresno tratamento de água.O entendimento da relação das florestas implantadas e a água é umaquestão muito complexa e deve-se levar em consideração as múltiplasatividades antrópicas, tendo como unidade a microbacia. Deste modo, afloresta deve ser apreciada como uma atividade agrícola qualquer, quevisa a produção de biomassa com intenção de obter algum lucro.Além do consumo de água, devemos contabilizar a sua qualidade, o regimede vazão e a saúde do ecossistema aquático, incluindo uma visão maisabrangente sobre a relação do uso da terra, seja na produção florestal,agrícola, pecuária, abertura de estradas, urbanização, enfim, toda equalquer alteração antrópica na paisagem e na conservação dos recursoshídricos.Quem sabe assim, a sociedade acabará percebendo que uma possíveldiminuição na quantidade de água, degradação hidrológica qualquercaussando sua deterioração, não está somente nas florestas implantadasmas em uma infinidade de outras atividades antrópicas.A legislação atual preconiza que a mata cilar seja feita com base e apartir da cota máxima do rio, enquanto que a nova proposta é pela cotamínima. Isso é muito preocupante, já que os córregos, que perfazemaproximadamente 90% dos rios brasileiros, desaparecerão em função daretirada da mata ciliar. O Brasil possui 17% da biodiversidade mundialde anfíbios, que vivem preferencialmente nestes córregos de dimensõesmenores. Isso causará a extinção de várias espécies de anfíbios e namaioria dos peixes (pexies pequeño e médios principalmente, que passamtoda sua vida nesta zona do rio) além dos répteis - menos o jacaré, ajibóia e a sucuri, já que os demais também preferem riachos.Os peixes pequenos, de até 15cm e médios - de 16 a 30cm são reofílicos,isto é, necessitam do ambiente lótico para completarem o seu ciclo devida e ocorrem em abundância nos trechos de rios com fundo de rochas,tanto nas calhas como nas porções mais elevadas dos afluentes.Destacam-se os cascudos, timburés e cambevas. O peixes grandes - maioresque 30cm, embora ocupem as zonas lacustres (rios ou represas de maiorprofundidade e normalmente com leito arenoso), se reproduzem nos riachosmenores. A prática da nova legislação afetará todas as espécies depeixes também.O Brasil é o país de maior biodiversidade do Planeta. Foi o primeirosignatário da Convenção sobre a Diversidade Biológica e a agenda 21, quepreconiza desenvolvimento sustentável, isto é, preservação da naturezaou exploração racional. É considerado megabiodiverso – país que reúne aomenos 70% das espécies vegetais e animais do Planeta. Possui a floramais rica do mundo, com até 56.000 espécies de plantas superiores, jádescritas, acima de 3.000 espécies de peixes de água doce, 517 espéciesde anfíbios, 1.677 espécies de aves, 518 espécies de mamíferos e podeter até 10 milhões de insetos.Somente no campo medicinal, há na Floresta Amazônica 1.300 diferentesvegetais com reconhecido valor terapêutico. Nas florestas tropicaisasiáticas, onde as civilizações atingiram maior desenvolvimento, estenúmero é pelo menos dez vezes maior, embora a floresta deles seja menorque a nossa. Atualmente, 25% dos remédios que o homem utiliza nos paísesdesenvolvidos possuem elementos retirados das florestas tropicais,porcentagem em progressivo crescimento.Pesquisas recentes demonstram que problemas de saúde podem sersolucionados com auxílio de componentes retirados das matas tropicais.Encontram-se catalogados pelo menos 1.400 vegetais com substânciasanticancerígenas. Uma pequena planta das florestas de Madagascar,ameaçada de extinção, aumentou as chances de sobrevivência de criançascom leucemia de 10% (1960) para 90% (1980).Estima-se que 75% das drogas derivadas de plantas em utilização nomundo, movimentando um mercado de aproximadamente US$ 43 bilhões, foramdescobertas a partir da indicação de populações tradicionais.Recentemente o Instituto Butantã descobriu um único composto retirado dajararaca (Bothrops sp.) que é usado na fabricação do Captopril -anti-hipertensivo que gera aproximadamente cinco bilhões de dólaresanuais para a indústria farmacêutica.Isso mostra que a floresta e sua biodiversidade tem enorme valoreconômico, precisamos apenas saber explorá-la. Não podemos perder essepatrimônio por ignorância. Preservar, estudar, conhecer e explorar,social, econômica e ecologicamente é a melhor alternativa. Somos o paísda megabiodiversidade, o mundo inteiro nos explora (biopirataria) e nósqueremos destruir nosso patrimônio.Fonte:
ÁGUA - QUEM PENSA, CUIDA!
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