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26 de maio de 2009

DERRETIMENTO DO GELO ELEVA A TERRA NO ALASKA

Degelo no Alaska - foto Nacional Geographic

No Alasca, degelo faz o solo se elevar
Em vez do aumento do nível do mar, derretimento eleva a terra


Cornelia Dean - Estadão - 24/05/2009

O aquecimento global evoca imagens do aumento no nível do mar que ameaça regiões costeiras. Mas, em Juneau, a capital do Alasca, a mudança climática tem o efeito contrário: conforme as geleiras derretem, a terra se eleva, fazendo com que o mar recue.

Morgan DeBoer, dono de um terreno na região, abriu uma pista de golfe na entrada da Glacier Bay em 1998, sobre terras que estavam submersas quando sua família chegou à região, há 50 anos. "As marés mais altas do ano chegavam até onde fica hoje a minha área de treino", disse ele. Agora, com a maré alta retrocedendo cada vez mais, ele considera aumentar o campo. "A terra simplesmente não para de subir", disse ele.

Os princípios geológicos por trás do fenômeno são complexos, mas podem ser resumidos assim: aliviada do peso de bilhões de toneladas de gelo, a terra se elevou da mesma maneira que uma almofada recupera sua forma original depois que uma pessoa se levanta do sofá.

A terra está subindo tão rápido que a elevação do mar - um subproduto onipresente do aquecimento global - não consegue acompanhar o seu ritmo. Como resultado, o nível relativo do mar diminui numa proporção "entre as maiores registradas", de acordo com relatório elaborado em 2007 por especialistas reunidos por Bruce Botelho, o prefeito de Juneau.

A Groenlândia e outros lugares testemunharam efeitos semelhantes do derretimento generalizado, que começou há mais de 200 anos. Mas, segundo geólogos, os efeitos são mais perceptíveis em Juneau e nas suas imediações, onde a maioria das geleiras tem recuado 10 metros ao ano ou mais.

Como resultado, a região enfrenta desafios ambientais incomuns. Conforme o nível do mar diminui em relação à massa terrestre, os lençóis freáticos afundam e córregos e zonas úmidas secam. A terra emerge para substituir zonas úmidas perdidas, mudando fronteiras entre terrenos e provocando discussões para determinar quem é dono das novas áreas. E a água do derretimento das geleiras carrega sedimentos, que turvam a água e assoreiam canais.

Décadas atrás, grandes navios eram capazes de navegar com regularidade pelo Canal Gastineau entre o centro de Juneau e a Ilha Douglas, até chegar a Auke Bay, um porto localizado cerca de 16 quilômetros ao noroeste. Hoje, boa parte do canal se transforma num baixio na maré vazante. "Há tanto sedimento vindo da geleira Mendenhall e dos rios que o canal foi basicamente assoreado", diz Bruce Molnia, do U. S. Geological Survey, órgão de pesquisa geológica americano, que estuda geleiras do Alasca.

Já é possível atravessar o canal a pé durante a maré baixa - ou correr de uma margem até a outra, como fazem os participantes da Mendenhall Mud Run. Na maré vazante, as boias de navegação repousam sobre o baixio.

Ao final, conforme a terra se eleva e o canal é assoreado, a Ilha Douglas acabará ligada ao continente por terra firme, disse Eran Hood, hidrólogo da Universidade Alaska Southeast e autor do relatório Mudança Climática: Previsão do seu Impacto sobre Juneau, publicado em 2007. Segundo Hood, quando isso acontecer, os mais de 1.600 hectares de hábitat pantanoso do parque nacional das zonas úmidas de Mendenhall serão perdidos. Em alguns pontos da costa, a mudança foi tão rápida que praticantes da canoagem desprovidos de mapas atualizados podem se ver arrastando caiaques sobre bancos de areia altos e secos.

As mudanças topográficas ameaçaram ecossistemas cruciais e até espécies vitais para a economia local, como o salmão. "Nossa economia é movida pelo salmão e pelo seu retorno. Imagine o impacto que sentiremos quando os peixes voltarem para os córregos e descobrirem que estão secos", disse Botelho, que nasceu em Juneau. "O salmão está associado à nossa identidade regional." Botelho disse não considerar que alguma espécie estivesse sob risco iminente, mas acrescentou: "Quem acompanha a mudança climática percebe os grandes riscos envolvidos."

Em relação ao mar, a terra daqui se elevou até 3 metros em pouco mais de 200 anos, de acordo com o relatório de 2007. Conforme o aquecimento global se acelera, a terra continuará a se elevar, possivelmente subindo mais um metro até 2100. A elevação é acentuada pelo movimento das placas tectônicas que formam a crosta terrestre. Conforme a placa do Pacífico se move para baixo da placa norte-americana, Juneau e as colinas da Floresta Nacional Tongass se elevam ainda mais.

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