Hidrelétrica vai tirar a espuma de Pirapora
Central ainda vai gerar energia para uma cidade com 300 mil pessoas
Eduardo Reina
Jornal Estadão 12/09/2009
A fé sempre atraiu milhares de pessoas à pequena Pirapora do Bom Jesus, que fica a 53 quilômetros de São Paulo, localizada num vale às margens do Rio Tietê.
Há anos, o município muito visitado por romeiros que vão ao santuário do Bom Jesus convive com a poluição provocada pelas águas do Tietê. Camadas de até 5 metros de altura de espuma se formam após a passagem pela barragem existente no local e afeta moradores e visitantes. Um problema de saúde pública, uma vez que essa espuma libera gás sulfídrico, que provoca doenças no pulmão e no globo ocular. Agora, com cinco anos de atraso, a Empresa Metropolitana de Águas e Energia Elétrica (Emae) promete resolver de vez a situação, com a construção de uma pequena central hidrelétrica, aproveitando a queda d"água.
De acordo com o diretor financeiro e de relações com investidores da Emae, Vicente Okazaki, as obras estão previstas para começar no fim do ano, com conclusão em 36 meses. "Aguardamos um financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Já temos autorização para implementação e exploração dada pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica)", afirma. A obra, orçada em R$ 103 milhões, será 80% financiada pelo BNDES (R$ 82,5 milhões). A construção da usina foi incluída no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e teve autorização do Ministério das Minas e Energia.
A PCH Pirapora deverá gerar 25 MW (megawatts), suficientes para abastecer uma cidade com 300 mil habitantes. Serão duas turbinas. Mas o benefício da nova usina será mais ambiental do que energético. "O impacto maior será na área ambiental e social. Vai acabar com o problema da espuma, pois a cidade está incrustada na barragem. Já temos a licença prévia de instalação aprovada", explica Okazaki.
De acordo com a Aneel, a energia gerada no local poderá ser negociada no mercado livre. O projeto prevê instalação de tubulações nas laterais da barragem, formatando uma pequena usina hidrelétrica. "Com a passagem da água por essa tubulação não será gerada espuma", aponta o diretor.
Carlos Almeida conta que há anos não consegue usar o barco no Tietê por causa da espuma. Há muito anos, diz, romeiros faziam passeios pelas águas no entorno da cidade. "Hoje ninguém se arrisca. Precisei vender o motor para não estragar. Quem sabe agora a gente volta a trabalhar de novo na água", afirma. "O cheiro é muito ruim aqui, por causa dessa espuma. Isso espanta os turistas. O pessoal assiste à missa e depois vai embora", reclama. Os romeiros vão venerar a imagem de Bom Jesus, que foi descoberta em uma corredeira em 1725.
Para a ambientalista e integrante do Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CRH) Malu Ribeiro, a proposta de aproveitar a queda d"água para gerar energia elétrica e acabar com a espuma tóxica é uma ação inteligente. "O lugar já está alterado e vai ter um aproveitamento disso. É gestão de melhor eficiência. Mas é preciso, antes de tudo, abrir a discussão no CRU e também no Consema (Conselho Estadual do Meio Ambiente). Apesar de dizerem que há licença prévia aprovada, eu não vi nenhuma discussão nessas instâncias nem nos comitês das Bacias do Alto Tietê, do Médio Tietê-Sorocaba e da Baixada Santista", diz Malu.
Como o Sistema Tietê-Billings é todo interligado, qualquer alteração na vazão do rio pode mexer no volume hídrico das três bacias. "Se for aprovada a obra, não poderá haver alteração nas cotas já estabelecidas nessas bacias", afirma a ambientalista. O ESTADÃO
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