Estudo conclui que 115 mil pessoas vivem em áreas de alto risco em São Paulo
Exclusivo: o Fantástico teve acesso a um levantamento inédito, o maior já realizado na cidade.
Exclusivo: o Fantástico teve acesso a um levantamento inédito sobre as áreas de risco em São Paulo. É um estudo oficial da prefeitura, que conclui: 115 mil pessoas estão vivendo em situação de extremo perigo em 407 áreas da cidade. Elas deveriam deixar essas casas imediatamente.
Pedidos desesperados de socorro de pessoas que moram em pontos de São Paulo onde a água sobe e a terra desliza frequentemente. Cento e quinze mil pessoas vivem em áreas de alto risco e deveriam abandonar suas casas imediatamente, em São Paulo. Esse dado faz parte de um estudo inédito, o maior já realizado na cidade, que o Fantástico divulga com exclusividade.
Nós sobrevoamos a capital e vamos mostrar os lugares mais arriscados da cidade nesta época de chuvas. Vamos mostrar também a vida de quem mora em áreas de encosta na Grande São Paulo e cidades invadidas pela correnteza dos rios, no sul de Minas Gerais.
Nesta semana em que uma tempestade mais uma vez parou São Paulo, as equipes do Fantástico acompanharam, dia e noite, a rotina de quem vive sob risco permanente de a casa desabar.
Paulo dos Santos, 16 anos, foi a quinta vítima das chuvas só este ano, em Mauá, na Grande São Paulo. “Os personagens mudam, o cenário é o mesmo. O cenário da tragédia, da tristeza”, diz a locutora de rádio Bel Maravilha.
O cenário é o Jardim Zaíra: uma enorme área particular, cheia de morros, ocupada irregularmente por 60 mil pessoas, em casas precárias. Bel Maravilha, locutora de rádio, vive aqui há 28 anos.
“A minha casa caiu. O que resta são essas madeiras e tudo destruído. A minha filha ficou muito desesperada e não é fácil, porque eu estava dentro e ela estava em cima e ela gritou muito: ‘Mainha, sai mainha. Sai mainha, que o morro está descendo’. Deu tempo da gente tirar nossas filhas e correr pra fora”, conta Marluce, moradora do local.
Os moradores dizem que não têm condições de sair dali. “Uma pessoa chega hoje, compra do que esteve ontem, o outro do dia anterior e assim prossegue as pessoas vendendo um passaporte que chega a ser o passaporte da morte”, alerta Bel.
Chove em São Paulo e a equipe do Fantástico está na Viela da Paz, Zona Oeste da cidade. A montanha de terra ameaça os moradores.
Fantástico: O que você está fazendo? Pondo entulho dentro desses sacos pra segurar o barranco?
Morador: Estou prevenindo , porque desce muita água aqui. Isso aqui é uma prevenção.
Fantástico: Você acha que isso segura?
Morador: É. O que vem de cima a gente não sabe.
Na Zona Norte da capital, a segunda região com mais áreas de risco em São Paulo, que hoje tem 107 áreas ameaçadas pelas chuvas. Sobrevoamos a cidade com o secretário Ronaldo Camargo (Secretaria de Coordenação das Subprefeituras de São Paulo), um dos responsáveis pelo estudo na prefeitura.
Só na Freguesia do Ó, 2,1 mil famílias deveriam sair de suas casas.
“Se ficar mais que uma duas horas, uma chuva de 120 mm, 160 mm, com certeza esse escorregamento leva essas casas”, avalia o secretário.
Agora no chão, na mesma Zona Norte, estamos no Jardim Peri.
“Quando enche não dá mais pra ficar aqui dentro, não”, diz uma moradora. A casa está totalmente tomada pela lama. Todas as coisas estão jogadas pela casa.
São 02h30 da madrugada de quinta-feira no Jardim Peri na Zona Norte de São Paulo. Chove bem fraquinho, então está tranquilo, as pessoas estão dormindo.
Na mesma madrugada, no Jardim Zaíra, em Mauá, Bel Maravilha segue com a câmera na mão.
“Enquanto a família dorme, fico acordado, vigiando. Boto a família para dormir e fico esperando o quê que Deus faz por nós”, afirma um morador.
Estamos indo pra uma coletiva com o prefeito de Mauá, Oswaldo Dias. Questionado se as famílias dos cinco mortos nos deslizamentos receberam ajuda, o prefeito fica sem resposta.
No sul de Minas Gerais, na cidade de Carvalhos, o prefeito José Geraldo Souza se comove: “A perda foi grande demais. A gente fica é impotente diante de tamanha tragédia. Agora tem que partir pra reconstrução da cidade”, se emociona.
Já são 80 municípios mineiros em emergência.
“Acordamos 6h da manhã com a água dentro de casa”, conta um homem.
“De repente, começou a subir pelo ralo do banheiro, aí falei: “’Não tem como, tem que sair’”, relata uma mulher.
Casas ficaram totalmente debaixo d’água. Em várias cidades, o mesmo drama.
“O que a gente pode levantar a gente levanta. Como que você deita e dorme? Você nunca sabe o que ta pra acontecer”, observa uma mulher.
“Nós estamos tirando a mudança da mulher que a casa dela está rachando e está em estado de perigo”, conta um homem.
De volta a São Paulo, capital. Sobrevoamos a região mais perigosa da cidade, a Zona Sul. São Paulo tem 407 áreas de risco e 43% delas ficam na Zona Sul. São 12 mil moradias, 50 mil pessoas vivendo em lugares precários.
Na região conhecida como M´Boi Mirim, quatro mil casas estão ameaçadas e precisam ser desocupadas imediatamente. Esses números, obtidos com exclusividade pelo Fantástico, são de um estudo feito no ano passado pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas, o IPT, e pela Prefeitura de São Paulo.
“O mais adequado é retirar todas essas famílias daí. “Se chover muito, vira um verdadeiro mar que acaba empurrando todas essas casas lá na bacia”, alerta o secretário.
Em Mauá, Bel fica sabendo de um deslizamento no bairro ao lado, o Jardim Rosina. “Rachou tudo. Está perigoso cair tudo pra baixo”, relata uma moradora.
“Tem rachaduras em cima do terreno, está bem perigoso”, explica um policial.
Naquela noite, houve deslizamento, mas sem vítimas graves.
“Os municípios, sejam cidades pequenas, médias ou grandes, precisam repensar urgentemente a questão do uso e ocupação do solo. Se ele tiver uma legislação, uma fiscalização rigorosa, ele vai dizer: ‘Meu senhor, sua casa vai estar localizada numa área de risco, há escorregamentos, portanto o senhor não vai construir a sua moradia ai’”, explica Jair Santoro, do Instituto Geológico de São Paulo.
“Não há expectativa de efetivamente traçarmos que em um ano consigamos retirar todos”, avisa Ronaldo Camargo.
Seriam necessários pelo menos cinco anos para retirar as pessoas dos locais de risco, segundo a prefeitura. E com um trabalho extra: assegurar que essas áreas não voltem a ser povoadas e virem novamente locais de tragédias.
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Fonte: Globo Vídeos - Globo.com
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