céu de Roraime - nuvens parecem desenhar mapa do Brasil (Vilma Zsengellér)
Especialistas divergem sobre impacto de La Niña sobre chuvas
Meteorologistas do Brasil e de organizações internacionais estão divididos sobre uma possível ligação entre as chuvas que afetaram o Sudeste brasileiro e os temporais que provocaram enchentes na Austrália e Sri Lanka.
Apesar de concordarem sobre o motivo direto das chuvas no Sudeste – a concentração de massas de ar úmidas, comum nesta época do ano – eles discordam sobre se as chuvas podem ser conectadas diretamente ao fenômeno climático La Niña, tido como causa das chuvas torrenciais na Austrália e no Sri Lanka.
Luiz Cavalcanti, chefe de previsão do tempo do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), acredita que o La Niña seria responsável também pelas chuvas no Brasil.
‘É fenômeno recorrente, que aparece a cada 5 ou 7 anos, e que também aconteceu no ano passado, com um efeito parecido’, disse.
La Niña acontece quando a temperatura da superfície da água do Oceano Pacífico fica mais fria do que o normal. Por causa da dimensão da massa de água, a queda de temperatura modifica a circulação atmosférica naquela região.
O fenômeno cria uma variação de intensidade nos ventos que, consequentemente, altera a distribuição das massas de ar quentes e frias em todo o mundo.
Ghassem Asrar, diretor do Programa Global de Pesquisa sobre Mudança Climática, diz que a ligação entre o fenômeno La Niña e as chuvas mais fortes na Austrália e na América do Sul é conhecida.
Mas ele diz que a intensidade dos eventos tem se mostrado mais grave do que o inicialmente previsto, e aparenta ser maior do que a de eventos anteriores ocorridos nos dois continentes na última década.
‘Todos esses casos que estão acontecendo agora, incluindo o Brasil, tem características de fenômenos ligados ao La Niña.’
‘O que ainda estamos tentando responder é se a intensidade desses eventos está sendo influenciada pelo aquecimento global ou não’, disse Asrar.
Zona de Convergência do Atlântico Sul
Zona de convergência
Já a meteorologista do grupo de previsão climática do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe) Ester Ito diz que o Sudeste não é uma região comumente afetada diretamente pelo fenômeno La Niña.
‘Geralmente, La Niña atua diretamente no sul (do país), trazendo menos chuvas e no norte, trazendo mais chuvas. Ainda não há indicação clara de que tenha afetado o Sudeste dessa vez’, diz.
Mas segundo Ito, o aumento da umidade na região Norte do Brasil, comum durante o verão, contribuiu com o aumento das chuvas no Sudeste.
De acordo com o Inpe, as chuvas são resultado de um canal de umidade, uma espécie de corredor de nuvens carregadas de vapor, que se estende do sul da Bacia Amazônica até o Sudeste, passando pelo Centro-Oeste do País.
Omar Badour, meteorologista da Organização Meteorológica Mundial (WMO), também acredita não ser possível dizer com certeza que o La Niña possa ter tido um efeito direto no Sudeste brasileiro, como nos casos da Austrália, Sri Lanka e Filipinas.
Ele diz que a localização da região – entre duas zonas diretamente afetadas pelo fenômeno de maneiras distintas – torna difícil confirmar a relação.
‘La Niña é um fenômeno característico do Oceano Pacífico, mas, no caso do Sudeste brasileiro, uma mudança de temperatura no Atlântico também pode ter alterado a circulação das massas de ar’, diz.
Badour diz ainda que é cedo para atribuir a intensidade dos desastres ao aquecimento global.
‘Sabemos que, de um modo geral, o aquecimento global pode aumentar a intensidade das chuvas em qualquer lugar do mundo, mas a origem desses eventos é natural. Eles sempre aconteceram.’ (Fonte: G1)/AMBIENTE BRASIL 15 JAN
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