Um flagrante da poluída Baía da Guanabara, no Rio
Foto: Léo Momezzo/Marcelo Laguna
Foto: Léo Momezzo/
Marcelo Laguna
Estudo mostra um Rio de águas poluídas
RIO - Cartão-postal da cidade, a Baía de Guanabara, quando vista de perto, assusta pelo lixo flutuante e pelo mau cheiro do esgoto despejado in natura. Na Bacia de Jacarepaguá, desmatamento e ocupações irregulares contribuem para o assoreamento. No Rio Guandu, a água coletada é arduamente tratada para ganhar qualidade própria para o consumo humano. Rico em recursos hídricos, mas com sérios problemas ambientais, o Rio tem, entre os compromissos para as Olimpíadas de 2016, a despoluição da Baía, de bacias e lagoas. Um desafio e tanto, já que as condições das águas cariocas, apesar dos esforços do estado e da prefeitura nos últimos anos, ainda deixam muito a desejar, como mostra levantamento do movimento Rio Como Vamos (RCV). ( Infográfico: Saiba mais sobre o saneamento no Rio)
Esgoto e lixo são as principais barreiras nessa corrida de obstáculos para os Jogos. O Sistema Nacional de Informações Sobre Saneamento (SNIS) mostra que, só no município do Rio, 677,5 milhões de metros cúbicos de água foram consumidos em 2008 nos imóveis abastecidos pela Cedae. Partindo-se do princípio de que a água usada volta ao sistema como esgoto, o volume deste seria aproximadamente o mesmo. Mas o SNIS indica que apenas 378,4 milhões de metros cúbicos foram coletados, o que corresponde a 55% do total. E isso numa cidade em que a rede de esgoto é capaz de atender a 82% dos domicílios, embora muitos não estejam ligados a ela. Para a pesquisadora Ana Lúcia Britto, especialista em saneamento do Programa de Pós-Graduação em Urbanismo da UFRJ (Prourbe), para uma cidade como o Rio, o índice de coleta é baixo.
Do total coletado, 85% (322,5 milhões de metros cúbicos) receberam tratamento. Mas, ao se considerar o volume total de esgoto produzido, o indicador cai para 47%. Ou seja, mais da metade vai in natura para as bacias hidrográficas. A principal delas é a da Guanabara (reúne os rios que desembocam na Baía de Guanabara), que recebe ainda dejetos e lixo de rios de outros 15 municípios. Em apenas sete deles há registro no SNIS de tratamento, mas - à exceção de Niterói e Petrópolis - em índices baixíssimos. O resultado disso é sentido pela população e comprovado pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea), que monitora e condena a maioria das praias da Baía.
Se a cobertura de esgoto no Rio é de 82%, na Zona Oeste, que tem 48% do território da cidade e 30% da população (1,7 milhão de pessoas), não chega a 50%. E ainda assim, não há rede separadora, e o esgoto cai no sistema que recolhe as águas das chuvas (como acontece também nas favelas de outras regiões), sendo despejado na bacia hidrográfica de Sepetiba. Segundo o subsecretário da Rio-Águas, Mauro Duarte, com obras de saneamento em sete áreas, a prefeitura aumentará em 30% a rede coletora da região. As obras em Sepetiba e Vila Kennedy foram iniciadas. E as estações de tratamento de esgoto (ETE) de Sepetiba e Guaratiba já operam. Juntas, podem tratar 135 litros por segundo.
Outra consequência da precariedade do saneamento no Rio e arredores da Baía de Guanabara é sentida na saúde. Um dos Indicadores de Desenvolvimento Sustentável do IBGE mostra que, em 2008, 112,6/100 mil pessoas foram internadas no estado devido às chamadas doenças relacionadas ao saneamento ambiental inadequado (DRSAI), 90% eram de contágio devido a contaminação por fezes, como as diarréias. No município, o Sistema de Indicadores do RCV mostra que, em 2009, as doenças diarréicas agudas (DDA) levaram à internação 16 crianças até 4 nos para cada mil. Regiões carentes de infraestrutura, como Maré e Jacarezinho tiveram índices acima da média da cidade. No Rio Comprido, o indicador chegou a 117,7/mil.
- Os problemas de uma cidade não pertencem a uma área. Saneamento é ambienta, qualidade de vida, e é saúde. O que se gasta em meio ambiente economiza em saúde. Para cada dólar gasto em saneamento, economiza-se cinco em saúde. Saneamento é saúde preventiva. A despoluição da baía tem um histórico desanimador. Mas a segurança também tinha e está sendo enfrentada. Essas são as medalhas que o Rio tem que ganhar antes da Olimpíadas - diz a presidente executiva do Rio Como Vamos, Rosiska Darcy de Oliveira.
Pelos compromissos assumidos para as Olimpíadas, as obras resultarão na coleta e no tratamento de 80% de todo o esgoto até 2016 - incluindo os dejetos despejados na Baía de Guanabara e na Bacia de Jacarepaguá. Dados do Inea dão conta de que, em 30 anos, as lagoas de Jacarepaguá perderam 8,5% do espelho d'água, devido a aterros e ocupação irregular. Em monitoramentos recentes, as condições das águas das quatro lagoas estavam sempre péssimas.
O presidente da Cedae, Wagner Victer, garante que a meta de saneamento será atingida com os projetos em andamento ou em licitação, como os das redes do Rio Faria-Timbó e do Terreirão, no Recreio. Isso sem falar na inauguração, conclusão ou ampliação das ETEs de Sarapuí, São Gonçalo, Paquetá e Pavuna, que tratarão muito do esgoto que hoje vai para a baía. A ETE Alegria, no Caju, passará de 2.500 litros de esgoto tratados por segundo para a capacidade máxima, cinco mil.
- Já avançamos muito nos últimos quatro anos, mas é óbvio que ainda há muito o que ser feito - diz Victer.
Para concluir o saneamento ao redor da baía e das lagoas de Jacarepaguá, o estado recorre mais uma vez ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que nos últimos 15 anos financiou parte do US$ 1 bilhão do Programa de Despoluição da Baía de Guanabara. A secretária estadual do Ambiente, Marilene Ramos, acredita que, com a credibilidade do estado resgatada por realizações dos últimos anos - incluindo a conclusão da ETE Alegria - o novo empréstimo, de R$ 800 milhões, será aprovado e os recursos cheguem em 2011. Em novembro, missão do BID veio ao Rio analisar projetos.
Além disso, a secretaria conta com os R$ 439 milhões liberados mês passado pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2), do governo federal, para saneamento, limpeza de rios e erradicação de lixões. Muito do lixo despejado nesses vazadouros acaba arrastado pela água das chuvas para os rios. Dos 16 municípios da bacia da Guanabara, só Nova Iguaçu e Itaboraí já têm centros de tratamento de resíduos construídos dentro das normas da recente Política Nacional de Resíduos Sólidos.
O oceanógrafo David Zee reconhece os avanços dos últimos anos, mas diz que o passivo ambiental de décadas de negligência, falta de planejamento e incompetência é alto. E, para que as metas sejam atingidas até 2016, serão necessárias agilidade nas obras e pressão popular permanente. O biólogo Mário Moscatelli concorda:
- Hoje temos dinheiro, tecnologia e principalmente vontade política, que faltou no passado. Mas serão precisos projetos sérios e eficientes para pagar essa fatura. Se pararmos de jogar esgoto e lixo, a Baía de Guanabara se recupera. Fonte: Yahoo Notícias
ÁGUA - QUEM PENSA, CUIDA!
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