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14 de dezembro de 2012

SOS JARDIM PANTANAL (SP) QUE PODERÁ FICAR ALAGADO NOVAMENTE PELAS ÁGUAS DO TIETÊ, EM 2012


Jardim Pantanal, alagado em 2010, teme enchentes, e Alckmin não conhece solução

Comunidades próximas as margens do Tietê temem novas enchentes com as chuvas de verão (Fotos: Danilo Ramos/ RBA)

Jardim Pantanal, alagado em 2010, teme enchentes, e Alckmin não conhece solução

Questionado pela Rede Brasil Atual, governador de São Paulo terceirizou a assessores uma resposta sobre as ruas da zona leste da capital que sofrem com enchentes durante os meses de calor
Publicado em 10/12/2012, 
  
São Paulo – O verão ainda nem começou e o clima é de tensão nos arredores do bairro Jardim Pantanal, na zona leste de São Paulo, que ficou famoso em 2010 por passar quase dois meses alagado pelas águas do rio Tietê. 
As primeiras chuvas de dezembro já causaram alagamentos nas ruas da vizinha Vila Itaim. Os moradores da Chácara das Três Meninas, também nos arredores, afirmaram que alagamentos são constantes no verão e já começam a preparar os pequenos barracos em que vivem para as cheias.
As comunidades estão na várzea do Tietê, que é de responsabilidade do governo do estado, criador, em 1995, de um programa para o desassoreamento do rio. Por isso, a RBA questionou o governador Geraldo Alckmin (PSDB) sobre o problema durante uma coletiva de imprensa na manhã de hoje (10), marcada exatamente para apresentar ações estaduais para a contenção de enchentes. Mas o governador não soube responder, e terceirizou a questão a dois assessores. 
Na Chácara Três Meninas a situação é crítica: famílias vivem apertadas em um ou dois cômodos, improvisados com restos de madeira, telhas e, em alguns casos, tijolos. 
Os mais precários foram construídos nas margens do rio, a 15 metros da água. Os moradores mais antigos estão a até dois quarteirões do Tietê, mas, ainda assim, convivem com inundações, mal cheiro e os muitos ratos que dividem a várzea do rio com as pessoas.
Não é difícil reconhecer quem mora no bairro: os moradores geralmente têm feridas nas mãos, nos pés e nas pernas, resultado do contato constante com a água poluída do rio. É assim com Maria Auxiliadora Silva, que mora em uma casa de dois cômodos, construída em um quintal onde vivem mais 13 crianças e oito adultos.
maria auxiliadora_chácara três meninas
Moradora guarda roupas e eletrodomésticos em cima do beliche no verão
“Ninguém aqui tem mais nada por conta das enchentes. Minha cama são dois cavaletes com um colchão. Não vou comprar outra para perder na próxima chuva. Isso aqui vira uma piscina”, conta, mostrando a marca d’água na parede do seu quarto, de pelo menos um metro e meio, resultado das chuvas do último verão. Ela conta que, nesta época, usa a cama superior do beliche de seu filho para guardar roupas e eletrodomésticos para evitar que eles se estraguem com as cheias.
Uma das estratégias de quem tem mais recursos é ter uma segunda casa em vista para alugar caso as enchentes sejam muito grandes. É o que faz um dos moradores, que se apresentou como “Cabelo”. “Já há três anos temos enchentes aqui, por isso já fui ver uma casa para alugar, caso precise. Sempre ficamos com medo”, conta.
O líder comunitário Cristovão de Oliveira, que mora há 30 anos na região, diz que já procurou diversas vezes a prefeitura e o governo do estado para pleitear programas de habitação para os moradores do bairro, mas nunca obteve uma resposta. Ele conta que, naquela região, o governo estadual não desassoreou o rio, apesar de o governador ter afirmado hoje que todo o Tietê passou por esse processo e voltou à sua profundidade original.
cabelo_chácara três meninas
Morador considera alugar uma casa para a família durante o verão, caso enchentes sejam grandes
O superintendente do Departamento de Águas e Energia Elétrica do governo estadual, Alceu Segamarchi Junior – um dos indicados por Alckmin – afirmou que o governo tem um projeto para, nos próximos quatro anos, transferir as cerca de 7.500 pessoas que vivem na várzea do Tietê para apartamentos de programas de habitação. A área será transformada no Parque Várzea do Tietê.
“Esse pessoal está dentro da chamada mancha de inundação e deve sair dentro dos próximos quatro anos”, afirmou. “Temos um projeto em negociação com a prefeitura para a construção de um polder [que funciona semelhante a um dique]. Isso resolveria o problema tanto do transbordamento do rio como de acumulação de água da chuva. Estamos aguardando a negociação da prefeitura e assim que ela aprovar devemos licitar a obra.”
cristovão de oliveira_chácara três meninas
Líder comunitário da Chácara das Três Meninas afirma que governo do estado não desassoreu trecho do rio Tietê que passa pela comunidade

Silêncio

“Governador, na zona leste tem toda uma região próxima ao Jardim Pantanal que sofre com inundações. Este ano mesmo algumas ruas já foram alagadas. Existe alguma obra do governo do estado prevista exclusivamente para essa região?”, foi a pergunta feita pela RBA ao governador. A resposta foi o silêncio. O secretário de Saneamento e Recursos Hídricos e o superintendente do Departamento de Águas e Energia Elétrica cochicharam no ouvido de Alckmin e ele respondeu: “Olha, o doutor Alceu e o Giribone vão poder detalhar mais tecnicamente isso para você”.
Pela resposta do Secretário de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado de São Paulo, Edson de Oliveira Giriboni, “o Jardim Pantanal não teve problema com o rio Tietê, é um assunto localizado lá”. “Toda aquela região faz parte do Parque Várzea do Tietê, que é um convênio assinado pelo governador no ano passado, de US$ 200 milhões, que vai minimizar muito as enchentes naquela região.”
família na margem do tietê
Nos casos mais críticos, barracos são construídos nas margens do Tietê

Vila Itaim

Ao menos três ruas da Vila Itaim, região do Jardim Pantanal, em São Miguel Paulista, já foram alagadas com um temporal no começo deste mês. 
“A água fechou a rua. Aqui sempre enche e a gente fica preocupado. E se perdermos tudo?”, teme o morador João Batista. Sua vizinha da rua de trás, que também sofreu com a enchente deste mês, concorda. “Se chover estamos perdidos. Acumula muita água, em um nível alto”.
De acordo com o superintendente Segamarchi, trata-se de um problema de microdrenagem. “Não tem boca de lobo nas ruas ou estão entupidas, aí chove, acumula água da chuva e enche. Não tem nada a ver com o nível do rio."
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