Apagão: chegou a hora das alternativas mais sustentáveis
Escrito por Alexandre Spatuzza e Vinícius Gorgulho,
com reportagem por Luis Paulo Roque —
Publicado em 12/11/2009 - REVISTA SUSTENTABILIDADE
Buscar responsáveis pelo apagão é necessário, mas secundário. Temos que aproveitar o momento para discutir a solução: a modernização do nosso sistema energético via geração distribuída inteligente.
O debate sobre o blecaute de 10 de novembro está fazendo mais parte do problema do que da solução. Na grande mídia o assunto são os virtuais culpados. O governo, sem muitos detalhes, diz que foram fenômenos meteorológicos. Sua falta de objetividade abre espaço para que especialistas questionem tecnicamente essa versão e que aventureiros busquem politizar forçadamente o caso ou apresentem teorias sensacionais que versam sobre ação de hackers ou racionamento surpresa.
O fato é que há uma razão clara para o blecaute: a obsolescência de nosso sistema energético, do qual 98% funciona interligado e dependente de grandes usinas geradoras, distantes dos centros de consumo. A solução está em tornar o sistema descentralizado e inteligente. E, antes disso, criar condições para que tenhamos um sistema moderno, mais seguro e limpo.
Afinal, com hidrelétricas cheias, não foi o cobertor curto da geração que causou a falha, mesmo porque houve uma redução no consumo ao longo de 2008 por causa de crise financeira mundial. O sistema elétrico brasileiro atende a todo o país e é considerado um dos mais robustos do mundo.
Entretanto, basta removermos Itaipu - que fornece cerca de 20% do total do sistema – para que enfrentemos um colapso.
A saída é a descentralização do poder de geração. Não coincidentemente, o atribuito da “descentralização de poder” tem se firmado como um traço fundamental da cultura do século 21 e é representado pela internet e suas redes sociais.
Quando, naquela terça-feira, milhares de cidades mergulharam no breu, o fluxo de informação sobre o apagão não cessou, mas continuou em tempo real, graças à inusitada, porém natural, parceria que se fez entre as atualíssimas mídias sociais online e seu antepassado sobrevivente, o rádio.
Alguns grandes sites jornalísticos locais ficaram fora do ar, mas o internacional Twitter funcionava. De forma inédita o jornalismo praticado pelos cidadãos informava as rádios que por sua vez também alimentavam a rede social com informações sobre o ocorrido. A plataforma para ambas as mídias foi o celular com acesso à internet e rádio AM/FM – ainda que muito radinho tenha sido recarregado com pilhas para a tarefa. Se não formasse um sistema descentralizado, nada disso teria ocorrido.
O emergente modelo de sistema de geração elétrica – que é preconizado pelos especialistas do setor como “o futuro” impreterível – pode ser construído da mesma maneira. A idéia é constituí-lo de uma miríade de microgeradores independentes, porém interligados por um sistema inteligente de gestão da distribuição, que podem injetar eletricidade na rede.
Um dos defensores desse modelo é Cyro Boccuzzi, diretor da consultoria Ecoee e um dos principais articuladores do debate sobre smart grid (redes inteligentes) no Brasil.
"Hoje a tecnologia está evoluindo para redes inteligentes, que possibilitam a geração e o armazenamento de energia em pequenas quantidades em pontos próximos aos centros de consumo para uso local, mas que permitem ao pequeno gerador distribuir – e vender - o excesso na rede", disse. "As redes inteligentes enxergam as perturbações nas redes antes que aconteçam, porém ainda é uma tecnologia cara."
Uma rede dessas combina inteligência de comunicação e integração de equipamentos que permitem fluxo bidirecional de informação e eletricidade.
Se estivesse no lugar do atual, este sistema permitiria um gerenciamento mais detalhado da rede pelo Operador Nacional dos Sistema. E assim seria possível montar um sistema de microgeração distribuída.
O que é isto? É um modelo que permite que cada casa, edifício, fazenda ou fábrica possa gerar sua eletricidade para consumo próprio, de forma renovável e sem ter que comprar de uma concessionária de energia. Quando não consumisse toda a eletricidade gerada, o pequeno gerador poderia 'vender' o excesso para a rede.
Já temos algo que funciona assim no Estado de São Paulo. Há usinas sucroalcooleiras com sistemas de cogeração, no qual o vapor do processo industrial e o bagaço de cana são usados para gerar eletricidade para a própria usina. Essa energia muitas vezes sobra, permitindo à usina vendê-la no mercado.
Mas como fazer isso em escala pelo país afora?
Para Bocuzzi, existem resistências muito grandes para implantar este sistema, que já funciona na Europa e começa a se tornar realidade nos Estados Unidos e na China.
"Se as distribuidoras incentivarem que eu coloque meu próprio gerador no meu telhado não será um bom negócio para ela, ela está perdendo duas vezes, gastando dinheiro para me ajudar a fazer isso e perdendo receita", disse o consultor. "Então a lógica de definição das tarifas também tem que ser adaptada, tem que ter um novo modelo econômico e regulatório por trás".
Apesar da pouca receptividade, resistir às novidades em vez de aprender a se adaptar a elas já provou não ser bom negócio em outros setores da economia, como a indústria da comunicação ou do entretenimento, que vivem essa mudança de paradigma de forma irreversível e desafiadora.
Alguns deputados federais parecem que já captaram a idéia e encabeçaram uma lei que prevê exatamente isto: obriga as distribuidoras de energia a comprar energia de microgeração (com potência instalada até 50kW) partir de 2011.
O relator do Projeto de Lei 630/03, Fernando Ferro (PT-PE), defende que precisamos diversificar nossa matriz energética, olhando para fontes renováveis, principalmente eólica, solar e de biomassa.
"Quanto mais diversificada for nossa matriz elétrica, mais segura ela será", disse ele à Revista Sustentabilidade.
A lei é extensa, com 39 artigos, e também prevê medidas de eficiência energética e a criação de um fundo para financiar pesquisa nestas áreas.
Enquanto os burocratas reúnem-se em Brasília para buscar uma explicação plausível para o que aconteceu na terça-feira (10/11) e a oposição tenta aproveitar eleitoralmente do fato, na coxia o governo federal jaz alguns planos. Entre eles, o de eficiência energética que nunca sai do papel, mas prevê alguns destes mecanismos que ajudariam a dar mais segurança ao sistema.
Boccuzzi, entretanto, avalia que o custo desse projeto talvez não seja tão alto e defende que o Brasil comece colocá-lo em prática o quanto antes. Segundo sua estimativa, os investimentos para montar uma rede inteligente ficariam próximos de R$ 30 bilhões, o que significaria R$500,00 para cada uma das 60 milhões de unidades consumidoras. Para ele, um esforço que vale a pena, pois geraria economias financeiras centenas de vezes maiores, além do retorno ambiental. Fonte: Revista Sustentabilidade
O debate sobre o blecaute de 10 de novembro está fazendo mais parte do problema do que da solução. Na grande mídia o assunto são os virtuais culpados. O governo, sem muitos detalhes, diz que foram fenômenos meteorológicos. Sua falta de objetividade abre espaço para que especialistas questionem tecnicamente essa versão e que aventureiros busquem politizar forçadamente o caso ou apresentem teorias sensacionais que versam sobre ação de hackers ou racionamento surpresa.
O fato é que há uma razão clara para o blecaute: a obsolescência de nosso sistema energético, do qual 98% funciona interligado e dependente de grandes usinas geradoras, distantes dos centros de consumo. A solução está em tornar o sistema descentralizado e inteligente. E, antes disso, criar condições para que tenhamos um sistema moderno, mais seguro e limpo.
Afinal, com hidrelétricas cheias, não foi o cobertor curto da geração que causou a falha, mesmo porque houve uma redução no consumo ao longo de 2008 por causa de crise financeira mundial. O sistema elétrico brasileiro atende a todo o país e é considerado um dos mais robustos do mundo.
Entretanto, basta removermos Itaipu - que fornece cerca de 20% do total do sistema – para que enfrentemos um colapso.
A saída é a descentralização do poder de geração. Não coincidentemente, o atribuito da “descentralização de poder” tem se firmado como um traço fundamental da cultura do século 21 e é representado pela internet e suas redes sociais.
Quando, naquela terça-feira, milhares de cidades mergulharam no breu, o fluxo de informação sobre o apagão não cessou, mas continuou em tempo real, graças à inusitada, porém natural, parceria que se fez entre as atualíssimas mídias sociais online e seu antepassado sobrevivente, o rádio.
Alguns grandes sites jornalísticos locais ficaram fora do ar, mas o internacional Twitter funcionava. De forma inédita o jornalismo praticado pelos cidadãos informava as rádios que por sua vez também alimentavam a rede social com informações sobre o ocorrido. A plataforma para ambas as mídias foi o celular com acesso à internet e rádio AM/FM – ainda que muito radinho tenha sido recarregado com pilhas para a tarefa. Se não formasse um sistema descentralizado, nada disso teria ocorrido.
O emergente modelo de sistema de geração elétrica – que é preconizado pelos especialistas do setor como “o futuro” impreterível – pode ser construído da mesma maneira. A idéia é constituí-lo de uma miríade de microgeradores independentes, porém interligados por um sistema inteligente de gestão da distribuição, que podem injetar eletricidade na rede.
Um dos defensores desse modelo é Cyro Boccuzzi, diretor da consultoria Ecoee e um dos principais articuladores do debate sobre smart grid (redes inteligentes) no Brasil.
"Hoje a tecnologia está evoluindo para redes inteligentes, que possibilitam a geração e o armazenamento de energia em pequenas quantidades em pontos próximos aos centros de consumo para uso local, mas que permitem ao pequeno gerador distribuir – e vender - o excesso na rede", disse. "As redes inteligentes enxergam as perturbações nas redes antes que aconteçam, porém ainda é uma tecnologia cara."
Uma rede dessas combina inteligência de comunicação e integração de equipamentos que permitem fluxo bidirecional de informação e eletricidade.
Se estivesse no lugar do atual, este sistema permitiria um gerenciamento mais detalhado da rede pelo Operador Nacional dos Sistema. E assim seria possível montar um sistema de microgeração distribuída.
O que é isto? É um modelo que permite que cada casa, edifício, fazenda ou fábrica possa gerar sua eletricidade para consumo próprio, de forma renovável e sem ter que comprar de uma concessionária de energia. Quando não consumisse toda a eletricidade gerada, o pequeno gerador poderia 'vender' o excesso para a rede.
Já temos algo que funciona assim no Estado de São Paulo. Há usinas sucroalcooleiras com sistemas de cogeração, no qual o vapor do processo industrial e o bagaço de cana são usados para gerar eletricidade para a própria usina. Essa energia muitas vezes sobra, permitindo à usina vendê-la no mercado.
Mas como fazer isso em escala pelo país afora?
Para Bocuzzi, existem resistências muito grandes para implantar este sistema, que já funciona na Europa e começa a se tornar realidade nos Estados Unidos e na China.
"Se as distribuidoras incentivarem que eu coloque meu próprio gerador no meu telhado não será um bom negócio para ela, ela está perdendo duas vezes, gastando dinheiro para me ajudar a fazer isso e perdendo receita", disse o consultor. "Então a lógica de definição das tarifas também tem que ser adaptada, tem que ter um novo modelo econômico e regulatório por trás".
Apesar da pouca receptividade, resistir às novidades em vez de aprender a se adaptar a elas já provou não ser bom negócio em outros setores da economia, como a indústria da comunicação ou do entretenimento, que vivem essa mudança de paradigma de forma irreversível e desafiadora.
Alguns deputados federais parecem que já captaram a idéia e encabeçaram uma lei que prevê exatamente isto: obriga as distribuidoras de energia a comprar energia de microgeração (com potência instalada até 50kW) partir de 2011.
O relator do Projeto de Lei 630/03, Fernando Ferro (PT-PE), defende que precisamos diversificar nossa matriz energética, olhando para fontes renováveis, principalmente eólica, solar e de biomassa.
"Quanto mais diversificada for nossa matriz elétrica, mais segura ela será", disse ele à Revista Sustentabilidade.
A lei é extensa, com 39 artigos, e também prevê medidas de eficiência energética e a criação de um fundo para financiar pesquisa nestas áreas.
Enquanto os burocratas reúnem-se em Brasília para buscar uma explicação plausível para o que aconteceu na terça-feira (10/11) e a oposição tenta aproveitar eleitoralmente do fato, na coxia o governo federal jaz alguns planos. Entre eles, o de eficiência energética que nunca sai do papel, mas prevê alguns destes mecanismos que ajudariam a dar mais segurança ao sistema.
Boccuzzi, entretanto, avalia que o custo desse projeto talvez não seja tão alto e defende que o Brasil comece colocá-lo em prática o quanto antes. Segundo sua estimativa, os investimentos para montar uma rede inteligente ficariam próximos de R$ 30 bilhões, o que significaria R$500,00 para cada uma das 60 milhões de unidades consumidoras. Para ele, um esforço que vale a pena, pois geraria economias financeiras centenas de vezes maiores, além do retorno ambiental. Fonte: Revista Sustentabilidade
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